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vejo wonwoo pelos lapsos atrás da cortina, mesmo que a sua boca não se mova em resposta para absolutamente porra nenhuma, não posso mais ter certeza se ele ainda quer me beijar, porque sorrir para ele é tudo que eu posso fazer enquanto analiso meu rosto desproporcionalmente fora de simetria. e eu não poderia pedir nada além do silêncio, fazendo menos até do que prendem crianças de 7 anos em paradoxos feitos pela bobeira algumas raras vezes. ele sempre mandou eu ir me foder, mas ele também já disse que me amava quando eu pensei conseguir bater a cabeça na parede só para pegar na mão as minhas incertezas que brotavam no lugar do sangue rubro cheio de uma dor que se espalhava com afinco através de uma rachadura, então, eu não sei mais o que pensar, mas isso não é sobre ódio.

posso pedir para que um milhão de anjos trabalhem incansavelmente dentro dele, mas a consciência implica, e as flores de 2015 também já não valem merda nenhuma dentro das minhas histórias tão insuficientes e mal contadas.

posso pedir para que ele esquente meu chá de hibisco, mas não é possível ter certeza se as formigas não morderiam seu rosto de uma maneira mais acusatória, anulando minhas expectativas relacionadas à perfeição inalcançável de robôs que jamais seriam humanos devido às circunstâncias.

ninguém bate à porta dizendo que o tic tac do relógio andou fazendo coisas acusatórias, mas ainda assim eu arranco o vidro que proteje os ponteiros e arranco todos de uma vez, colocando réplicas em seus respectivos lugares sem que perceba tê-los engolido na fúria, catástrofe eminente, porque nunca disse não ser humana, então, mesmo que wonwoo pense ter arruinado os últimos átomos vivos da minha cabeça, eu sei das necessidades naturais. a dor nunca me abandonou, talvez seja exatamente por isso que nunca quis acusar ninguém sobre nada, porque desse jeito ficaria contente em meu canto, sangrando sem vontade o suficiente para estancar a dor latente. contente em dizer que amava ver o sangue, nunca pensei que o sangue não me amasse de volta.

e eu odeio ter que pensar nisso, mas eu quebrei todos os espelhos da casa pensando que o problema fosse os meus dentes tortos ou a minha falta de capricho, mas eu não me importo se ele pensa que faz parte de algo menos ignorante do que o bando da degola... porque é exatamente isso que eu fiz com que ele pensasse que eu sou. uma assassina. uma pedra no meio do caminho cutucando seus miolos para mais um desfecho sangrento; um capricho congelantemente instável perturbando tudo que há de mais nojento no mundo, arrancando os cílios com uma pinça... chorando porque fez sexo cedo demais com alguém que gostava de apanhar por prazer barato.

ninguém diria que eu estou ficando louca, mesmo que eu rasgue seus livros com os dentes acusando palavras bonitas de terem me apresentado a pior das facetas do existencialismo, e eu já mandei camus ir se foder com o misticismo sobre a modernidade substituindo os sentidos à flor da pele humana muitas vezes. mais vezes do que eu gostaria de admitir para a minha terapeuta.

e no final de tudo, eu já não posso mais bater no vidrinho frágil da janela de wonwoo implorando para que ele esqueça da minha bipolaridade e volte a chorar nos meus pés dizendo que sente muito por ter quebrado os meus dentes. eu comi as minhas unhas postiças durante a missa de sábado, convenientemente pensando que o padre gostaria de me foder debaixo do altar. só que ele não quis.

posso culpar wonwoo de ter comido os livros que eu mesma comi, poe ter espetado ponteiros em meus tímpanos e de não ter tirado a minha virgindade, vendo sangue pintar de um útero podre por dentro abrigando espíritos malignos como a flor de tigre menos esperançosa que jerusalém poderia ter catálogado.

sempre quis que ele me amasse, mas nunca disse que amaria ele de volta.

solidão predefinida enche a minha boca de larvas.

jung wheein sabe, porque ninguém possuiria todas as certezas do mundo sem morrer de fome antes.

passei 2 anos querendo ser aceita, mas você nunca foi capaz de olhar para o meu laudo médico beijando os lábios da sua inesperada falta de tempo, só que o meu nome não é alice, então eu giro os ponteiros dentro das extremidades do meu corpo e te ouço gritando dentro da toca, e me importar é o mínimo, só que é muito mais fácil torcer o pescoço de um coelho do que de uma garotinha assustada com seus próprios diagnósticos.

ALICEOnde histórias criam vida. Descubra agora