O encontro destinado

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    As árvores largas da Floresta de Éden impediam a maior parte da luz do Sol de adentrar por entre os ramos de folhas e os grossos caules. Alguns raios de luz que venciam as copas corpulentas criavam pequenas áreas gramadas que lutavam pela sobrevivência em meio ao ambiente opaco. As sombras projetadas dançavam em sincronia com as os galhos e criavam formas estranhas no chão ao se misturarem com as outras, ou perdiam a sincronia quando deparadas com sombras que não pertenciam ao ambiente. Como o caso de uma projetada por um garoto magrelo, com aparentes dezessete anos. Ele segurava uma espada de ferro minuciosamente forjada, incrustada com joias roxas e amarelas em uma linha reta que separava as metades da lâmina afiada. Seus cabelos eram longos e bem cuidados, seu rosto fino, triangular, estava calmo. Não vestia roupa alguma, seus poucos pelos por todo o corpo tentavam estabilizar sua temperatura corporal, trabalho fácil para uma tarde amena como aquela. Seus olhos negros focaram um grande javali seguindo uma trilha formada e ramificada em várias direções, feita por animais que se aventuravam dentro da densa floresta e se perdiam por ali. O animal expôs seus dentes longos, com cerca de sete centímetros, ao perceber a presença de algo. Grunhiu para o nada e, supondo que estava sozinho, continuou seguindo a trilha. Passou perto da árvore onde o garoto estava, olhou-a, mas não viu nada além de um casco duro e suas raízes. Cheirou as folhas caídas no chão, a terra, os insetos, mas nada de anormal chegava aos seus sentidos. De repente, uma anormalidade se segue acima da cabeça abaixada do javali, que cheirava, agora, o ambiente em busca de alguma comida. Um dedo branco subiu razoavelmente e abaixou-se de forma abrupta. Uma pequena luz dourada reluziu em vários sentidos ao redor do dedo, se projetando e sumindo em diferentes distâncias e formas.

   — Vá sem dor. — disse uma voz masculina, sem demonstrar um real pesar pela morte que iria causar. —Que os espíritos o recebam.

   Uma onda de vento se projetou junto com as luzes douradas, agora muito límpidas. As folhas, ramos, galhos e terra acumulada ao redor foram jogados para longe. Os reflexos do javali não foram rápidos o suficiente para perceber o que acontecia no momento, o animal ficou impassível durante todo o acontecimento de meio segundo. O dedo agora estava a cerca de 3 centímetros de sua cabeça.

     Um grito distante de medo e choro chamou a atenção de ambos, caçador e caça. O animal olhou assustado para cima e se deparou com uma lâmina manejada pelo garoto nu apenas a alguns milímetros de sua cabeça. A pressão do movimento fez um pequeno corte entre os dois olhos do porco, que correu roncando de medo e dor. Enquanto corria, o corte foi cicatrizando gradualmente, até voltar a pele marrom e peluda que sempre foi. Ele pareceu não perceber que não sangrava mais, e a dor já havia passado, porém continuou correndo.

    O garoto, por sua vez, olhou para os lados, procurando inutilmente o timbre daquela voz feminina. Contornou a árvore onde cortou o javali a pouco e pegou suas roupas em um pano no chão amarrado por uma corda. Vestiu uma blusa cinza de treinamento, com mangas longas que chegavam até o punho. Ligas metálicas começavam nos ombros e desciam até a cintura pela lateral do corpo, uma ramificação da mesma descia pelos braços, limitando o movimento do tronco. A calça possuía o mesmo sistema, mas com ligas flexíveis que apenas auxiliavam a postura dos movimentos. Usando uma roupa completamente cinza, o garoto agora parecia se camuflar pelo ambiente de folhas secas. Embainhou sua espada e seguiu decidido em direção a origem do grito.

   Já havia andado cerca de 500 metros quando parou. As árvores ali já estavam menores e mais vivas, os caules cinzas e as folhas secas deram lugar a árvores de caules pequenos e folhas de um verde vivo. O Sol já podia ser visto no céu em algumas partes mais abertas e grande parte do chão estava coberto de gramas que cresciam com facilidade. A floresta mudou repentinamente, o lugar onde o javali quase fora morto pelo caçador já não era mais visível. O garoto não pareceu se importar muito com isso, ou estranhar a mudança repentina.

Tríade Divina - O Destino Entre 3 MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora