As palavas não podem, nunca podem, até tentam, mas não conseguem transcrever com exatidão, tampouco supor o que há dentro em mim, as letras são insuficientes, quando é imenso o que se sente. Nem mesmo eu me entendo, falo por enigmas pra não ser compreendido por completo, porque assim ainda sou alguém tolerável, embora deixo nas entrelinhas, quem for capaz me diga. Certa vez disse uma amiga: “quem é que te entende, Helton?” Uma pergunta retórica que não tenho a resposta, ou talvez tenha. Talvez como um mecanismo de defesa tanto pra mim como pra qualquer que ousa tentar compreender, logo é confundido. Não entendo, não conheço, não reconheço, mudo como uma metamorfose, não sou esquizofrênico mas alguém em busca de outros pontos de vista além do meu, tentando buscar conceitos e livrar-se de preconceitos. Não minto, exceto quando necessário, por conveniência, bom senso e educação, afinal sociedade é isso, né? Aparências; e a mentira é um ótimo adorno, no qual serve em qualquer ocasião, eu prefiro ética à estética. Somos tantos que não sobra espaço pra sermos nós. Não sei se disse o que realmente queria dizer, creio que não, pois quando escrevo nem sou mais eu que fala, minha mente grita palavras sem coesão, e nem eu tentando pô-las em coerência tenho obtido sucesso. Não busco escrever, a escrita me chama, e embora relutante, ela me constrange, tudo o que olho é escrito. Outrora uma música expressava o que sentia, ultimamente não mais; chorar até soluçar aliviava, hoje me faltam lágrimas; tocar violão me transportava dessa dimensão, agora permaneço estático e paralisado; escrever organizava minha mente, pois me expresso melhor assim, mas ainda tem muita coisa aqui dentro a dizer, não sei por onde começar tampouco terminar, não termina nunca.
Sobre querer e não poder, sobre sentir mais do que pode, sobre limites impostos pela ética. O amor é pecador, transgressor, imoral. Quem ama sabe, e se não sabe, não ama nem amou. Só quem desejou mas se viu preso a limites postos a si mesmo ou impostos em si sabe, todos sabem, inconscientemente sabe. O óbvio nem sempre é tão nítido, às vezes precisa ser mostrado mais do que dito, feito mais do que pensado. Engraçado são os olhos que caçam dentre toda a multidão, ofuscando tudo ao redor; o foco é óbvio, pra mim apenas, pra mais ninguém. Certas coisas não devem ser ditas, não podem passar de pensamentos, quando muito escritos, mas nada além disso, ninguém entenderia mesmo. É unilateral, não recíproco; é escondido, não as claras; é dito com olhares, não com palavras; é monólogo, não dialogo.
Pouco importa se é começo ou final de semana, começo ou fim de mês, começo ou fim de ano; é sempre mais um dia. Dão essa ideia de recomeço pra não desistirmos da vida e pensarmos que tudo vai melhorar com um novo começo. Pandora não soltou a esperança, ela ficou presa, gerando expectativa, dando luz a frustração, prolongando o nosso sofrimento. Tem rima mas não tem poesia; o doce quando muito consumido enjoa; a monotonia é tediosa; a rotina mata as poucos. Embora tudo mate, nada sobrevive a vida por mais que algum tempo, tempo que se esgota, pois teve um começo e inevitavelmente também terá um fim. Anos; meses; semanas; dias; horas; minutos; segundos; milésimos; bilésimos de segundos. O modo como conceituamos o tempo meticulosamente, faz pensar que este não é apenas coisa de nossa cabeça, pois o passado não existe mais, o futuro é fruto de nossa vã imaginação, o presente não tem duração.
Segredos não são inconfessáveis, é uma bomba relógio cronometrada por um determinado tempo que se não contada pra alguém explode, embora nunca exploda de fato, pois sempre se é contada. Está entalado aqui na garganta, incomoda mais do que um pigarro, não desce nem engulo, tenho que por pra fora, embora seja vergonhoso, porém, é necessário cuspir, senão morro com isso aqui. É como o fogo numa noite fria, no qual se vê necessário se achegar a este para se manter aquecido, mas ao tocá-lo logo é obrigado a se afastar, pois assim como aquece, também pode queimar. Só a morte põe fim a dor. Ninguém se suporta por muito tempo, ninguém ama incondicionalmente.