Naquele Inverno

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Não quero ser o único a ir emboraMas não posso deixar de pensar em mais um diaEu acho que finalmente entendo o que significa estar perdido

- - Evanescence - -

Bolhas...

Eu estava estranhamente tranquila enquanto observava as bolhas de ar criando uma ultima visão incrível junto a luz distorcida que alcançava aquele trecho do rio.

Não sei se era o frio ou o pouco oxigênio que me mantinha tão calma, também não sei se eu realmente queria voltar a superfície ou apenas continuar oferecendo aquele momento de alivio a mim mesma.

Há muito tempo eu não sabia mais o que era não sentir dor e a agua gelada com certeza estava levando tudo isso embora.

Fechei os olhos para aproveitar os últimos segundos na escuridão, mas uma linha de luz passou por dentro da minha alma fazendo o calor voltar a mim.

Tossi varias vezes, jogando ar em meus pulmões novamente.

- Você esta bem? – olhei para o homem a minha frente, ele tinha cabelos pretos com os olhos em um tom que ficava entre pretos e um azul muito escuro, ele tinha uma tatuagem da cruz de são Pedro na testa.

Ele era estranhamente familiar, mas não saberia dizer de onde eu o conhecia.

Acenei positivamente para acalmar o olhar preocupado dele.

- Toma – ele me envolveu em um sobretudo escuto e estranhamente seco – venha, acho que devemos encontrar um lugar para nos secarmos – sorriu ele me ajudando a me levantar e mantendo os braços ao meu redor enquanto me levava de volta a margem do rio congelado.

Ele me levou até uma pousada, não muito longe dali e durante o caminho silencioso eu pude notar vários cortes nas mãos dele, provavelmente abertos ao tentar quebrar o gelo que cobria o rio.

- Tome um banho quente – falou de forma gentil me entregando roupas secas – essas devem servir – acrescentou.

Apenas concordei e entrei no banheiro.

A água quente foi um choque, mas ajudou a me aquecer.

Fiquei mais tempo do que deveria ali, porém, ainda era menos do que eu gostaria.

Desliguei o chuveiro e me vesti.

- você esta bem? – pergutou ele assim que deixei o banheiro.

Confirmei com uma aceno, observando ele secar o cabelo escuro como a noite com uma toalha branca perolada, era um contraste interessante de cores.

- como foi parar no fundo do rio? – perguntou ele.

Não respondi.

-você fala? – perguntou com um tom de brincadeira.

Olhei para baixo desviando o olhar por um segundo.

- se partiu... – sussurrei.

- como? – ele se inclinou para me escutar melhor.

- o gelo – falei um pouco mais alto – ele se partiu... – respondi, não era toda a verdade, mas também não era mentira.

- ta mas... o que você estava fazendo no rio essa época do ano? – questionou.

- é a melhor época para se ir a um rio – respondi.

- é uma época perigosa – falou.

- não existe beleza sem perigo... bom... pelo menos nem uma que valha a pena. – argumentei.

Naquele InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora