As coisas começaram a mudar lentamente no apartamento de Ava nas próximas semanas, Sara sabe que são mudanças lentas e seguras, mas as observou com interesse.
Tudo começou no dia em que suas calças não fecharam. Era o terno padrão da Agência do Tempo e Ava tinha pelo menos outros nove iguais a ele pendurados em seu guarda-roupas, de alguma forma aquilo tornou tudo mais real do que os testes de gravidez; parecia que ao notar que sua barriga começava a crescer, elas tiveram a certeza inegável que seriam mães.
Depois disso, as próximas semanas foram uma montanha russa emocional.
Sara pintou o quarto com o tom de rosa pastel que Ava queria, se esforçando para fazer os gostos da namorada, mas às vezes era só difícil adivinhar o que faria a diretora sorrir e o que transformaria em uma bagunça cheia de lágrimas.
Por isso, ela atravessou um portal do apartamento da namorada para a Waverider sem olhar para trás. Em um momento estava tudo bem, elas estavam se preparando para sair e fazer compras, e no outro Ava estava chorando e acusando Sara e as lendas de deixá-la estressada.
- É oficial, mulheres grávidas são loucas – grunhiu para si mesma ao entrar na cozinha – Eu nem sei o que eu fiz dessa vez!
- Talvez ela tenha um bom motivo – disse Nora em um tom calmo – O que você fez?
Sara ignorou o susto, ela não havia percebido que a bruxa estava ali o que só comprovava sua consternação. Nora segurava um livro e tinha uma caneca fumegante à sua frente, provavelmente aproveitando seu dia de folga.
- Eu não sei – Sara repetiu – Ela não conseguiu abotoar os jeans e ficou neurótica com isso, eu só disse que ela estava ficando maior porque os bebês estão crescendo.
- Você não fez isso – Nora gemeu.
- É a verdade! – Sara se defendeu – Ava não pode esperar que os bebês não vão crescer.
- Isso não tem que dizer que você tem que agir como uma idiota.
Nas últimas semanas Ava vinha usando cada vez mais vestidos ou leggings enquanto estava em casa ou na Waverider, só utilizando os ternos desconfortáveis para trabalhar na agência; mesmo as camisas e blazers precisaram ser substituídos, ao que Sara admitiu ter notado que os seios da namorada haviam crescido consideravelmente. Mas por algum motivo que ela não sabia explicar, Ava achou que seria uma boa ideia tentar vestir os jeans do início da gravidez.
- Eu me desculpei, mas ela não quis me ouvir – Sara puxou uma cadeira e se sentou de frente para Nora – E eu entendo que nem sempre as lendas agem pelas regras da agência, mas nós fazemos o trabalho, e Ava quer descontar as frustrações dela em mim...
- Descontar as frustrações dela? Sara você pode ao menos se ouvir? – Nora jogou o livro na mesa – Ela está grávida de gêmeos, o corpo dela está reorganizando todos os órgãos pra acomodar os seus filhos lá dentro e você acha que ela está frustrada?!
Sara queria muito não se sentir tão culpada ou envergonhada, mas era difícil quando Nora fazia tanto sentido.
- Eu sei...
- Você não sabe, Sara! Nenhum de nós sabe como é, os hormônios estão aumentando e logo os bebês vão começar a chutar os órgãos dela e nem estamos falando do parto – Nora se exasperou.
- Como você sabe disso tudo?
Nora mostrou o livro que estava lendo, o título em letras grandes dizia “O que esperar quando se está esperando”, o mesmo livro sobre gravidez que Ava vinha lendo todas as noites.
- Alguém mais tem que estar preparado pra essa gravidez.
Ok, aquilo já era insjuto com ela.
- Olha, eu faço tudo pela Ava e pelos bebês – Sara tentou manter a calma – Tenho me dividido entre treinar um novo capitão e ser uma dona de casa, então me condene por não ter tempo de ler um livro quando eu até pintei um quarto inteiro.
