Entre um porre e outro de amor

01 - Cobiça indevida

(Crystal pov's)

Meu pai sempre foi o dono da razão, autoritário e competitivo. A família inteira não era muito diferente, me fazendo acreditar que esse mal está na genética dos Trancoso.

Essa é constantemente, uma das coisas que me faz questionar o meu sobrenome sempre que estou sentada na minha sala presidencial, mais conhecida como o setor 310 do prédio administrativo e logístico da Gorillaz.

Fez 1 mês desde que fui nomeada e estamos a todo o vapor, é 10 de Janeiro, menos de um mês para sermos novamente líderes em vendas com a Gorillaz em Fevereiro. O motivo? Eu acho que não preciso nem dizer que por termos o melhor Carnaval do país, precisamos ter a melhor cerveja também.

Ouço a porta bater e abrir em seguida- Licença, senhorita Crystal?

Faço uma careta, eu estava odiando aquele tratamento. Nunca fui a favor da cerimônia toda.

- Acho que já conversamos sobre você me chamar apenas de Crystal. - Digo em sinal de repreensão.

- Desculpe, eu acho que o costume de chamar sempre "Senhor Gustavo" com o seu pai não me ajuda muito agora. - Ele dá de ombros enquanto se aproxima e senta na cadeira em frente a minha mesa, havia algumas planilhas em suas mãos.

Esse era o meu assistente administrativo.. como eu posso explicar este homem? Digo, eu não tive muitos relacionamentos sérios durante os meus 22 anos, mas confesso, tive muitas ficadas. É verdade quando as minhas amigas dizem que eu preciso tirar umas férias do trabalho e ir pra uma boate no centro da cidade com elas, mas honestamente? Eu não acho os caras de lá tão.. interessantes.

Existe uma pressão familiar e social sobre com quem eu devo expor um relacionamento oficial, motivo esse que me estressa tanto, que deve ser por isso que optei por não namorar desde da minha adolescência. sou uma adulta, mas ao que parece, não mando nas minhas próprias escolhas.

Irônico ser a responsável por tomar decisões de uma indústria, mas não dos próprios sentimentos, mas que seja.

Theodoro Fonseca, de acordo com o meu pai, é o assistente mais competente que ele teve todo esse tempo. Eu fico imaginando como o Theo conseguiu aturar meu pai durante 5 anos, seu tempo aqui na empresa.

Ele conversava alguma coisa comigo enquanto eu estava encarando uma discreta corrente em ouro simples escapando da sua camisa social azul escura.

- Crystal? Você está aqui ou quer um café? - Inferno, saio do transe.

- Oi? Óbvio que não, eu estou bem. - Sorrio de lado olhando para a papelada na minha mesa em seguida. - Repenso - Quer saber? Preciso, é a única coisa que eu posso dizer que necessito no momento. - Digo e encaro ele, eu posso jurar que vi um sorrisinho escapando dos seus lábios, ou o mais óbvio, é uma neurose da minha cabeça.

 (Theo pov's)

Fecho a porta da sala da Crystal, apesar do gelo que estava aquela sala dela, eu senti facilmente a porra de uma tensão dentro daquela merda.

Desde que essa mulher chegou a sei lá, um mês, eu venho tentando com todas as minhas forças aprender o que é o inferno de uma resistência perto dela pra tentar manter o meu emprego.

Ela realmente não tem um pingo de noção do quanto é naturalmente sexy e eu que pago o preço, honestamente, eu não sei se reclamo ou agradeço por isso.

- Vivendo dias no paraíso com a nova chefe, Theo? - Armani, assistente do setor 309 e meu amigo dos rolês mais loucos em Salvador fora da Gorillaz, vem mais uma vez no dia, encher a porra do meu saco.

- Você não deveria estar trabalhando? - Questiono enquanto pego o café expresso da minha chefe. - Armani ri, óbvio.

- Lembre que mais tarde tem a festa no Farol da Barra, pra ver se esquece um pouco a boquinha de você sabe quem. -Ele sussurra a última parte e eu posso jurar que sou mais profissional que ele e por isso, não vou optar por xinga-lo próximo a outras pessoas. - Saio em direção a sala da demônia, ou como foi nomeada, minha adorável chefe, ouvindo a risada de Arthur agora longe de mim.

(Crystal pov's)

- Não demora nunca Sr. Fonseca?

- Voltei e você resolveu me imitar, Crystal? - Ele questiona enquanto pego meu expresso de suas mãos, colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, ele nunca fica lá.

Encosto meu corpo na mesa, dobrando minhas pernas uma na frente da outra, meu salto scarpin preto perfeito visto de cima.

Observo Theo sentar-se novamente na cadeira quase que bem a minha frente, mas pra uma melhor sanidade mental eu prefiro olhar pra vista do Elevador Lacerda da imensa janela em vidro da minha sala.

- Eu chequei todos os relatórios que você fez.. e quanto as planilhas, vão ser levadas para o setor financeiro ainda hoje. Você fez um ótimo trabalho e até o momento é só, veja como um bônus o motivo de eu resolver liberá-lo mais cedo hoje. - Digo seriamente e coloco minha xícara vazia em cima da mesa.

Eu precisava de um momento pra mim, e isso não incluía trabalhar mais uma hora com o Theo na minha sala por hoje.

(Theo pov's)

Observei cada maldito movimento que ela fez e várias vezes encarei o chão pra me lembrar que eu realmente preciso do meu salário. Não era uma tensão sexual hormonal, eu tenho 25 e não 13 anos.

Era como alguma química, uma vontade extrema de agarrá-la e beijá-la aqui mesmo nessa sala e a culpa é toda dela nessa saia justa e camisa social em cetim sendo um inferno de mulher. Digo, ela tem um olhar intrigante, um sorrisinho diabólico e uns cabelos volumosos que acabam de ferrar o resto da minha vida.

Eu odeio e amo o meu emprego.

- Amanhã finalizamos o projeto pro carnaval, procede? - Pergunto e ela automaticamente concorda com a cabeça, pegando o seu celular para atender alguma ligação importante e apenas acena com uma mão para mim, me fazendo entender que aquela era a minha deixa da sala dela.

Entro no estacionamento ás 17h da tarde, eu sempre era liberado somente às 18h. Destravo a porta do carro e me sento jogando minha mochila sabe-se lá onde e finalmente pego meu celular, mando uma mensagem pro idiota do Armani me esperar com os outros caras pra que eu pudesse ir buscá-los e seguir pra Barra às 22h.

Era isso, essa é e sempre foi a minha vida. Não vai ter lugar pra boca da minha chefe na minha cabeça hoje.