Uma carta aberta

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Aviso:

Tenham em mente que esse texto é algo como uma carta, um desabafo ou até mesmo um diário, revezando entre eles a cada parte. Boa leitura :)

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Eu só tinha 16 anos quando me apaixonei por ela. Foi avassalador, meu primeiro amor. Eu não tinha noção da proporção disso, podia ser facilmente descrito como uma paixão adolescente. Era normal se apaixonar pela melhor amiga, no final das contas.

Até que, aos 20 anos, sentia meu coração acelerar da mesma forma. A menina mexia comigo de uma forma inexplicável e eu suspeitava que ela soubesse disso. Eu podia sentir seus olhos analisando minha postura, enquanto meu corpo lhe entregava todos os sinais. Eu era falha. Minha pupila dilatava, minha respiração se perdia. Eu estava em sua frente, despida de qualquer barreira, esperando que ela me correspondesse. Eu esperei durante quatro longos anos por um olhar que nunca recebi.

Nesse tempo, eu pouco me importava com a minha própria vida. Eu vivia por ela, queria estar perto e protegê-la de tudo. Foram anos e anos de lágrimas, sofrimento e amor unilateral. Eu sequer notava o quão ruim isso era, não priorizava minha saúde mental. Toda vez que suas mãos me tocavam ou eu sentia seu cheiro, minha alma era curada. Ela não fazia ideia da dor e da esperança que me causava. Ou fazia, eu nem sei mais.

Nossas vidas pareciam tomar rumos diferentes. Eu queria me moldar para estar dentro de suas expectativas, fazia o possível e o impossível para ser o suficiente para ela, mas nada parecia funcionar. Eu me questionava se a fazia mal e a culpa me corroía.

Era 25 de fevereiro, quando o primeiro soco veio de encontro ao meu estômago. Nesse dia, escutei o boato de que o amor da minha vida estava namorando. Era um boato, ela sequer havia tido coragem de me contar. Aquela foi uma noite regada de lágrimas. Eu soluçava, quando me engasguei. Saindo de minha boca, eu vi sua cor preferida pintada em uma pétala.

Na semana seguinte, vi a primeira foto do casal. Seu sorriso era lindo, eu podia ver os olhos brilhando. Ela se sentia feliz assim comigo? Desconfio que não. Já eram três semanas sem receber suas ligações, eu sentia que nossa conexão estava fraca, assim como eu estava.

Com o passar dos dias, meu coração ficava cada vez mais e mais apertado. Cada pedacinho do meu corpo sentia falta dela, de como me abraçava, de como ria das minhas piadas. Eu precisava tanto de você, Rafaella.

Março chegou e com ele vieram as próximas pétalas. Eu tossia na maior parte do meu dia e então elas apareciam. Minhas mãos estavam cobertas pela planta rosa, enquanto eu sufocava e agonizava. Você sequer fazia ideia do quão doente me deixava.

Eu tentava, com todas as forças, pensar em outras coisas. Escondi nossas fotos e até te bloqueei. Eu mentia dizendo que não fazia diferença, como se meus olhos não ficassem marejados sempre que citavam seu nome. Por Deus, era tão doloroso. Eu já podia sentir os espinhos fincados no meu peito.

Estávamos em abril. Eu a via todos os dias na faculdade, com o sorriso de sempre e o namorado ao seu lado. Os olhos verdes focavam em mim vez ou outra, mas o contato não durava. Era uma sensação sufocante. Tudo que vinha dela agora queimava e machucava.

Eu esbarrei com você, quando estava indo para a minha sala. Fazia muito tempo que eu não ouvia sua voz e, infelizmente, o tom cortante se fez presente. Sentir seu cheiro me causou tontura, não havia nenhuma paz, como era antes. O homem ao seu lado debochou e seu olhar de pena completou a cena. Eu havia entendido, meu papel ali era ser a piada. Este fora o segundo soco e eu senti o gosto do sangue em minha boca.

É engraçado como nós crescemos ouvindo lendas, era algo comum na nossa sociedade. Akai Ito, almas gêmeas, sakura. Nós duas costumávamos rir, era uma besteira para uma criança de 10 anos. Aos 20 anos, cuspi uma rosa inteira. Ela estava pintada de sangue, tão maltratada quanto eu estava por dentro. Eu me perguntei diversas vezes se era um pesadelo, quão ruim o destino poderia ser? Eu não tinha uma resposta.

suas floresOnde histórias criam vida. Descubra agora