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- Não sei onde você arranjou esse jardineiro, mas não o deixe escapar por nada nesse mundo, NamJoon!

A pergunta corria de casarão em casarão e pelas estradas do condado: de onde, afinal, tinha vindo aquele sujeito alto descabelado, os fios ondulados caindo sobre os olhos como se não conhecesse pente nem escova?

Viera em um dia de outono sem bagagens e sem recomendações, roupas gastas e sem chapéu, pedindo emprego na casa de NamJoon. Qualquer coisa servia, mas ele era muito bom com plantas. Falava em um ritmo de aprendiz e um sotaque irreconhecível, a voz melodiosa quase inaudível por vezes. Dali, ele não era; tinha o ar selvagem de quem viera de longe.

NamJoon entendia de selvagens: seu pai tinha sido militar em terras distantes, crescera entre sadhus e marajás: podia muito bem adotar um daquela tribo em sua casa. Se soubesse trabalhar, por que não? Aquela estufa gigantesca que inventara de construir certamente precisava de cuidados.

As empregadas adoravam o rapaz, que a custo descobriram se chamar Kim Taehyung. Já os empregados ficavam se perguntando pelos
cantos o porquê de tanta comoção. Era pelo sotaque ou pelos olhos negros como um céu estrelado? Era o modo como ele andava ou como olhava para as coisas mais bobas com curiosidade?

Quando podia, o estranho passava seu tempo na cozinha, olhando as chamas do fogão, pondo os dedos em todas as panelas, deixando as mãos nas tinas de água dentro da pia até que os dedos enrugassem, comendo o que lhe oferecessem com apetite de lobo, sem distinguir o amargo do doce.

- Parece um menino - a cozinheira dizia. - Deve ser
doente da cabeça.

- Vai ver que as coisas são diferentes lá na terra dele.
- E não tem fogão na terra dele? Não tem louça? Como eles fazem?

Se não estava distraído com a alquimia das refeições, o
estranho estava na estufa, o grande castelo de vidro que NamJoon mandara construir à imagem e semelhança e em escala bem reduzida daquele imenso pavilhão de aço da Grande Exibição do Império. NamJoon era recém-casado naqueles dias de festa na capital: o mundo lhe era imenso, e a construção de vidro e metal nunca fugiu de sua mente.

Agora tinha seu próprio pavilhão, mas não tinha mais o esposo: o que restara, no lugar, era o filho de cabelos castanhos que a lua-de-mel em Londres lhe rendera e que agora, em seus ternos de luto em bombazina, os cabelos escondidos em chapéus, andava pelos jardins com passos muito pesados e irritados, coçando a cabeça que odiava a seda do traje.

O menino um dia tinha dito que queria um castelo só para si, como os das princesas: o dono da casa lhe deu aquela construção de vidro, não era bem o que ele imaginava, mas logo ocupou o lugar à sua maneira: fazia festas imaginárias e chás da tarde com suas bonecas debaixo das cúpulas transparentes, enchendo os cabelos com as flores que cresciam no terreno aquecido e brincando com fadas que só seus olhos poderiam ver.

NamJoon se dizia um homem ocupado. Talvez fosse. Também era terrivelmente distraído. Só assim para não ter notado os animais estranhos que começaram a aparecer pelos campos.

O guarda caças abatera um veado que era praticamente um monstro de tão grande,
de um tom quase rubro nos pelos, coisa que só se via em livros. Raposas que mais pareciam cachorros se escondiam nos troncos das árvores próximas à estufa. Morcegos se alojavam em qualquer canto mais escuro que houvesse dentro da casa.

E a cozinheira agora tinha que espantar pássaros brancos da plantação de ervas que mantinha nos fundos do quintal. Achou que eram gaivotas; não seria estranho, ainda mais no inverno, quando os bichos fugiam da costa atrás de comida e de pouco vento. Mas não eram.

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⏰ Última atualização: May 20, 2021 ⏰

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The Glass House (TaeKook)Onde histórias criam vida. Descubra agora