Escrito em parceria com ludsch
Era difícil desvencilhar da sensação do frio rasgando a pele, tremia e batia os dentes como um desenho animado. A imensidão gélida apresentava-se infinita e monocromática em minha frente. Ouvir falar de Hoth e estar naquele planeta eram coisas completamente diferentes. O calor que a nave caída outrora emanava não mais estava presente. Éramos apenas eu e ele postados em um jogo de luz. Fúria, medo, inquietação; tudo me atravessava enquanto tentava acertar-lhe com o sabre que reproduzia um azul neon cortando o céu escuro. Pela falta de experiência, não conseguia manusear com a destreza e rapidez necessárias. E pra minha irritação, não acertava nenhuma investida.
- PARE, CABRAL!
Ele segura minhas duas mãos, impedindo com que eu me movesse.
- Solte! - Ordeno.
- Porque faz isso?
- Não é de sua conta!
Eu puxo mais forte mas ele arranca o sabre de mim e me imobiliza num abraço, as explosões longínquas ditavam um tom alaranjado, as guerras espaciais evoluíam rapidamente.
- Me solte!
- Não até me responder. Porque está me atacando? Sempre nos demos bem.
Viro minha cabeça na direção contrária da sua voz, que estava bem próxima ao meu ouvido e me causava arrepios.
- Eu não quero lutar com você! O que há? - Fala de forma suave, o suficiente para me fazer cair no choro.
Seu abraço afrouxa e ele afaga meus cabelos. Entre soluços, tento dizer:
- Eu não sei... você me faz questionar...
- O quê?
- Não sei quem sou.
Ele não demonstra reação, mas parece compreender.
- E por não saber quem é, precisa me atacar?
- Cale-se, Avax!
Em um movimento brusco, desvencilho-me de seus braços e recupero o sabre de luz. Avanço novamente para cima dele, que não se move e quando estou prestes a acertá-lo, ele desvia e golpeia meu braço, me fazendo derrubar o projeto de espada e chutando rapidamente para longe.
- Já chega, Cabral! Mais do que nunca, deveria saber que nenhum conflito vai ser resolvido assim.
Sem o sabre, me sentia vulnerável.
- As vezes temos que lutar...
- Mas essa não é uma dessas vezes. Não sou seu inimigo!
- Como posso saber? Vai ver o plano é esse desde o início.
- Como? Não tem motivo pra toda essa desconfiança. Eu nunca farei nada contra você!
- Você fala assim e eu sinto vontade...
- De quê?
- Eu gosto de você! Quero me entregar mas tenho medo. Não sei o que você é e isso me deixa inseguro. Você abala minhas certezas e não sei como agir.
- Por que apenas não pode gostar de mim? - ele se aproxima. - Sem tentar racionalizar, enquadrar, controlar. Humanos sempre tiveram esse problema. Querem estar à frente de tudo e quando não conseguem, se sentem ameaçados e atacam. É por isso que guerras acontecem. Deixa o que sente ser livre, isso não é motivo pra medo. Eu sou o que sou, você gosta de mim e isso basta. Também gosto de você.
E num gesto suave, ele toma meu queixo, me rendendo com um beijo por fim.
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Experimentação
Short StoryContos e microcontos aleatórios escritos para a Copa de Contos 2020