Conforto

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A semana de Midoriya foi simplesmente horrível. Sua avó morreu, assim como foi enterrada, não foi capaz de salvar a maioria dos reféns de um assalto a banco e, como se já não bastasse, seu cachorro estava enfermo e internado em um hospital veterinário. Sua natureza ômega o fazia ainda mais abalado pelos acontecimentos, nascera empático e no momento isso o destruía.

Até um herói no top dez pode ter dias ruins, não é? Claro, seu posto como nono sequer era lembrado no momento de perdição, se controlando para não empestear o carro com aquele cheiro triste, de certo não ajudaria. Parou o veículo na garagem, descendo com passos lentos e mórbidos, apanhando a chave. Destrancou a porta em velocidade normal, a fechando atrás de si com rapidez para que pudesse relaxar.

Removeu os sapatos e deixou que caíssem de qualquer maneira na pequena área propícia, se desmanchando de costas na madeira que bloqueava a passagem, libertando o odor angustiante que passara boa parte do dia suprimindo. Como a profissão lhe exigia, mantinha sempre um sorriso no rosto e a atitude otimista, todavia era um dos momentos nos quais a tarefa era árdua.

As lágrimas começaram a cair enquanto se lembrava de cada problema recente, os soluços se assemelhavam aos de Inko quando chorava pela morte da mãe, a aparência era morta como os corpos das vítimas inocentes que o vilão assassinara. Uma essência de baunilha e morango entrou por suas narinas, enquanto um homem mais alto encostava em si, o envolvendo protetivamente sem questionar.

Se inebriou no aroma alfa, inspirando fortemente ao mesmo tempo que a angústia deixava seus pensamentos, cada afago em sua cabeleira macia o confortava cada vez mais. Afundou o rosto na camisa cinza à sua frente, tomando todo o tempo necessário para se recuperar, mesmo umedecendo o tecido que cobria o peitoral alheio.

Permaneceram nessa posição por alguns minutos, nenhum contou exatamente, ocupados com a presença do subgênero oposto e os feromônios calmantes no ar, a única preocupação de Todoroki se resumia a se ele havia conseguido relaxar seu ômega. As fungadas se ausentaram, sem que o agarre se afrouxasse, desejando mais do carinho em sua nuca, fornecido sem cessar pelo mais novo.

Se afastaram por poucos centímetros, o olhar esmeralda encontrando diretamente as íris heterocromáticas, numa comunicação silenciosa compreendida em segundos com o toque em suas costas após Izuku apoiar os braços em seus ombros. Carregou o menor sem dificuldade até o sofá, com as pernas alvas ao redor de sua cintura, e se sentou acomodando ambos no móvel de cor neutra.

O colo de Shoto era tudo que mais precisava, o conforto da palma desenhando formas ovais em suas costas o permitia ignorar, por um curto período de tempo, tudo que estava errado:

— Se sente melhor? — depositou um estalar de lábios na bochecha esquerda, atraindo a atenção do sardento, respondendo com um aceno de cabeça mais sentido do que visto.

Além do cheiro de morango, o lado onde estava mais acomodado compensava o clima frio que estava presente, aquecendo tudo, desejando que pudesse congelar o passar das horas:

— Eu fiz o jantar, quer comer por agora?

— Quero. — saiu de cima das coxas do amado para que este se levantasse.

Admirou o namorado organizando os objetos sobre a mesa, grato por o ter morando junto consigo, compartilhar da vida doméstica com ele o fazia feliz, considerando a medida do possível por agora. Se não tivesse o alfa, provavelmente se afogaria no líquido salgado na entrada da casa por pelo menos uma hora, comendo o resto de alguma refeição antiga em um pote plástico na geladeira.

A sopa estava em temperatura agradável, em conjunto com o gosto delicioso, ou talvez a última parte fosse levemente influenciada pelo fato que não teve condições de lanchar mais cedo, no entanto não importava. Satisfeito com a comida, ajudou a recolher e lavar a louça, em uma quietude agradável. Quando terminaram o serviço, tomaram as mãos, indo para a cama, deitando-se juntos na superfície macia.

O bicolor aromatizou o esverdeado mais um pouco, sem resistência do menor, quem se instalou em cima do primeiro, liberando uma essência relaxada, o cheiro de bala de menta mais marcante do que quando adentrara a residência:

— Você quer conversar? — o mais novo questionou, se referindo ao motivo pelo qual encontrara o jovem chorando anteriormente.

— Não tem muito o que falar, você já sabe. — suspirou, se apertando mais contra o abdômen sob si — Minha vó, os reféns, Smash... — o nome do animal recordou Todoroki de algo.

— Bem, sobre ele eu tenho uma notícia boa, a veterinária disse que ele vai poder voltar pra casa amanhã.

— Sério? — ergueu o tronco, as orbes verdes brilhando com esperança de rever o vira-lata.

— Sim, a gente pode ir buscar ele de manhã, vai ser sábado.

Foi o primeiro sorriso de Midoriya naquele dia, finalmente uma notícia boa quebrava a corrente de desgraças formada durante a parte útil da semana. Ronronou com o toque em sua bochecha, recebendo um beijo terno em seguida. Shoto reverteu a posição, descendo o carinho para o pescoço do outro e trazendo um riso divertido pelas cócegas causadas pelo contato.

O timbre doce era perfeito para a voz encantadora, finalmente havia retornado ao normal. Os instintos do mais alto finalmente o deixaram em paz, compreendendo que completara a missão em cuidar do amado, adorava o fazer, mimando o ômega na primeira oportunidade. Dialogaram, brincaram e trocaram carícias, sempre próximos o suficiente para sentir os feromônios agradados um do outro, conseguindo todo o conforto que precisavam.

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