I.

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Estava tarde. Tarde demais para Juliana estar ali. Ela sabia que deveria ter ido embora já no primeiro copo de mezcal de Valentina. Mas não conseguiu. Óbvio que não conseguiu. Deixar Valentina era difícil, se divertia tanto com ela. Riam e conversavam sobre o tudo e o nada. Da última vez, Valentina decidiu ensiná-la a nadar, e Juliana, ensiná-la a dançar.

Toda vez que ia embora da casa dos Carvajal, dormia de noite em sua cama com o coração batendo forte para vê-la novamente.
Era assim toda vez, leve e casual, mas aquele dia se tornou uma exceção. A garota mais velha estava diferente.

Estavam ambas no sofá da mansão Carvajal, uma garrafa de bebida alcoólica pela metade descansando sobre a mesa baixa em frente a elas. Juliana arranhava o acolchoado com suas unhas, o ruído trazia certo conforto à si. Realmente não era fácil lidar com uma Valentina bêbada. Ela mesmo havia bebido um pouco. Claro, depois de uma discussão tão pesada com Sérgio, era difícil não querer se afundar no álcool como a Carvajal mais nova tinha o costume de fazer.

— Sabes qué? — Valentina subitamente tirou suas costas do sofá, inclinando-se levemente em direção à amiga, qual já estava próxima. Aproveitou a a proximidade e apoiou uma mão no ombro de Juliana, queria toda a atenção para si. — Eles são dois idiotas. Não acredito que ele disse isso pra você, neta.

Juliana suspirou ao sentir o hálito azedo de mezcal, o cheiro parecia deixá-la ainda mais tonta. Realmente não deveria ter bebido, ela não queria falar sobre Sérgio, não queria lembrar-se da faculdade, e muito menos do quanto havia bebido. Afinal, talvez não tenha sido pouco. Fechou os olhos brevemente, franzindo o nariz. A expressão dela foi engraçada o suficiente para fazer uma Valentina bêbada rir.

— Mira-te... — Escorreu preguiçosamente seus olhos pela morena. — toda bêbada. — A risada estridente ecoou livremente pelo cômodo escuro, apenas uma ou duas lâmpadas iluminando ambos rostos das garotas. Elas ainda estavam com suas roupas que foram a faculdade; passaram a tarde juntas, como de costume. Juliana as vezes se sentia um pouco mal com a diferença de vestimenta entre elas. Valentina estava sempre tão chique, com botas que a faziam ligeiramente mais alta, uma calça jeans sempre tão justa, cinto marrom, e sempre que podia, uma regata com um casaco de tecido fino. Nossa, ela ficava tão linda de regata. — Juls? 

— ...¿Qué? — Juliana respondeu quase que imediatamente, piscando várias vezes enquanto saia de sua fantasia, suas pupilas lentamente focando na imensidão que era olhar nos profundos olhos azuis da amiga. As íris claras escondidas pelo escuro redondo.

— ¿Que pasó? — Dessa vez, na tranquilidade que aquelas miradas se tornaram, Valentina se deu tempo para suspirar, franzindo os lábios por alguns segundos. Juliana percebeu a forma carinhosa que a garota a observava, como seus os olhos de Val rondavam pela sua face. E de certa forma, toda vez, Juliana deixava cair sua atenção aos lábios da amiga. Talvez esse pensamento era por estar bêbada, e por mais impróprio que fosse: Juliana amava a maneira que eram moldados. Eram tão cheios e brilhantes, Valentina tinha também esse costume de molha-los com a língua a cada segundo. Era realmente um vício. Parecia que a futura jornalista tinha um problema de boca seca. — Juls... — O que a despertou era ralo, raspava contra a garganta irritada pelo álcool e formava um som maravilhoso, baixo e rouco — estás bien?

— Sí. — Dessa vez ela torceu os próprios lábios. Sua respiração tornou-se presa, torcendo para que Valentina esteja bêbada o suficiente para não ter percebido o que estava pensando. Será que ela consegue? Valentina conseguia lê-la tão bem que se se tornasse telepática, Juliana não surpreenderia-se. Ajeitou suas pernas com esse pensamento, reposicionando-se no assento por inteiro. — Só essa coisa com o sérgio... me fez mal.

— Aí, morrita, no... — A voz da morena voltou ao normal, tomando aquela vozinha adorável que fazia toda vez que Juliana formava uma expressão nem que singelamente mais caída. Era uma reação fofa, e de certa forma apertava o coração da futura designer. A Carvajal aproximou-se ainda mais. Com sua mão macia, deixou que seus dedos puxassem uma mecha do cabelo da garota mais nova para trás de sua orelha. O lábio inferior escapando do superior, deixando-o com a aparência ainda mais cheia. A respiração da outra prendeu-se. — Não gosto de te ver assim...

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⏰ Última atualização: Oct 06, 2020 ⏰

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Impróprio. (Juliantina)Onde histórias criam vida. Descubra agora