Cap.13

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Acabámos por sair da loja. Rose carregava três grandes sacos cheios de roupa que provavelmente vão chocar muita gente. As pessoas não estão habituadas a ver-me produzida. Ontem à noite, Rose não parou de falar nas coisas que a partir de hoje eu irei ter de fazer. Disse-me que teria de ir regularmente à esteticista fazer a depilação, visto que, segundo ela, vou deixar as calças largas de lado e passar a usar calções e saias, disse-me também que tenho de ir ao cabeleireiro pois as pontas do meu cabelo já estão demasiado espigadas, informou-me que de duas em duas semanas teria de arranjar as sobrancelhas e tirar o busso e que me iria arranjar a melhor seleção de maquilhagem que ela conhece. Eu insisti que não tinha dinheiro para nada do que ela acabara de dizer, mas Rose retorquiu que ela própria iria comigo a todos esses sítios e pagaria o que lhe competia e pagaria também o que supostamente me competia a mim. Elogiou o meu corpo uma série de vezes, sobressaindo que as minhas curvas vão ficar incríveis dentro de umas skinny jeans.

Eu e Rose caminhávamos em silêncio em direção a sua casa. Por incrível que pareça, o silêncio não se tornara pesado nem constrangedor, era agradável.

-Okay, Sarah, agora vais-me explicar o que foi aquilo!

-O quê?

-Tu e aquela mulher...foi tão estranho. Vocês conhecem-se, é isso?

-Demasiado.

-A sério?

-Eu digo-te quando chegarmos a tua casa.

Continuamos a caminhar, agora o silêncio já era constrangedor. Não foi necessário muito tempo até avistarmos a sua mansão ao fundo da rua. Começava a ficar cada vez mais nervosa, afinal nunca tinha contado a minha "história" a ninguém, para além disso não sei se posso confiar isto a Rose, se tivesse que falar com ela acerca de outros assuntos confiaria nela de olhos fechados, mas no que toca a este tema, digamos que não estou deveras confiante.

Rose abre a porta e logo um cheiro a comida me invade as narinas, indicando-me de que a hora do jantar se aproxima. Olho o relógio de parede que se encontra a poucos metros de distância de mim, reparando que já são sete horas da tarde. Rose indica-me que suba as escadas e assim o faço chegando ao seu quarto. Ela pousa os sacos a um canto e depois senta-se na cama, batendo, levemente, com a mão ao seu lado como forma de me pedir que me sentasse também. 

-Então, já me podes contar o que se passou?

-Aquela mulher...bem, ela é minha mãe.

-O quê?!

-Sim, exatamente o que tu ouviste.

-Então, se tu tens mãe e pai, porque não vives com eles?

-Eu vivo, eles é que nunca estão em casa, nem têm dinheiro. 

-Já não estou a perceber nada, Sarah.

-Bem...-suspirei- eu vou contar-te tudo do início. Mas que isto não saia daqui.

-Claro.

-Então...eu tinha uma vida aparentemente normal, pelo menos eu pensava que sim. Os meus pais tinham uma relação estável, embora com algumas discussões...mas na escola diziam-me que isso era perfeitamente normal. Às vezes, o meu pai chegava bêbado a casa, mas como eu apenas tinha 5 anos achava que ele só não estava normal, mas não sabia o porquê. Ah, e como ele era novo... . -encolhi os ombros.

Rose abriu a boca, provavelmente para dizer alguma coisa, mas logo a fechou baixando a cabeça.

-Um dia a minha mãe foi-me buscar ao infantário- continuei- e quando chegámos a casa ela viu o meu pai na cama, envolvido com outra mulher. Ela pousou-me no chão e levou-me ao meu quarto, deu-me um beijo na testa e fechou-me lá à chave.- senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas depressa a limpei- Como era pequena e me vi sozinha naquele quarto, começei a chorar e a dar pontapés à porta. Naquela altura, no início, o meu choro ainda estava calmo mas depois eu começei a ouvir gritos do outro lado da porta e coisas a partir e...bem, a minha mãe a chorar. Então, o meu choro intensificou-se e começei praticamente aos berros e a dar murros e pontapés à porta com cada vez mais força. Fiquei sem forças e acabei por adormecer na minha cama. No dia seguinte, quando acordei, a minha mãe estava deitada ao meu lado, tinha a cara cheia de sangue e pisaduras, por isso eu acordei-a e perguntei-lhe o que tinha acontecido e ela apenas disse para eu voltar a dormir. A partir desse dia, quase nunca via o meu pai, quando ele ia a casa saía pouco tempo depois e era só com a minha mãe não estava, ele devia vigiar-nos ou qualquer coisa do género. Passados dois meses, a minha mãe aparecia todos os dias com um homem diferente em casa, eu até simpatizara com o primeiro, mas com os restantes não, achava-os repugantes e sujos. Ela já não era como dantes para mim, já não me ia buscar ao infantário e tinham que ser as funcionárias a dar-me boleia, já não me deitava nem desejava boa noite. Apenas me levava ao infantário de manhã e as únicas refeições que eu tinha eram as da escola. Ela já não se maquilhava, era desleixada e usava sempre as mesmas roupas. Então eu fui para casa dos meus avós viver, mas passado um ano, quando entrei para a primária, tive que sair de lá porque o meu avô foi operado à perna e por isso tiveram de adaptar a casa, que tinha escadas, ao seu problema. Para ser mais fácil, tornaram o quarto onde eu ficava, que era no primeiro piso, no dele. Voltei para casa e estava tudo uma miséria. Visitava os meus avós todos os dias, eram eles que pagavam as contas de "minha" casa. Passado algum tempo, descobri que o meu pai já não ia mais a casa e a minha mãe só ia lá um dia por semana. Eles já não queriam saber de mim, eu tornei-me triste, sozinha e bastante independente. Tive que me habituar à solidão e a viver com o que tinha. As roupas deixaram de me servir e o meu irmão, que já vivia na sua própria casa, foi-me visitar e deu-me as suas roupas, informou-me também que ia para França mas que quando voltasse ia cuidar de mim. E pronto, ele ainda não voltou e vivo sozinha à sete anos. 

Olhei para Rose, encarando os seus olhos, ela chorava.

(Okay, não me matem, por favor! Já não atulizava esta fic há para aí dois meses, eu sei, é muito tempo e peço imensaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa desculpa! Espero que gostem deste capítulo e que vos esclareça algumas dúvidas que pudessem existir em relação ao passado da Sarah. Dedico este capítulo à @biastyhorpaylikson8 por ter sido uma querida e me ter feito perceber que afinal existem pessoas que gostam da minha história! ♥ beijinhos)

SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora