Um Copo De Leite?

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(A foto da mídia não é de minha autoria,eu só adicionei as sombras,título e o leite na boca do Soldado Invernal.)

—Quer um copo de leite?

O silêncio permaneceu por um momento,após isso o mais velho acenou com a cabeça e serviu um copo de leite a si com um sorrisso amarelo no rosto,o moreno escondido no escuro apenas observou todos os movimentos do chefe,os olhos azuis sem vida se semicerram ao ouvir o som do copo sendo arrastado pela mesa até os lábios do mais velho,bebeu devagar e não muito tempo de silêncio depois o copo já estava na metade,suspirou e delicadamente colocou o copo já quase vazio na bancada de mármore escuro,o leite frio escorreu pela boca do copo até a mesa a manchando com leite gelado,os dedos circularam o local com calma,tentando o limpar,obviamente,não conseguindo,os olhos azuis claro brilhante se permitiram viajar pelo cômodo,e pararam no rosto do moreno.

—Tem feito um ótimo trabalho até agora,estamos quase conseguindo tornar esse lugar mais seguro,tudo,graças a você. –tocou o copo novamente,e o ergueu em um brinde solitário,não havia sido respondido de novo,não estava surpreso— Parabéns,se não estivesse na equipe não teríamos conseguido.

Se virou lentamente até o outro armário e puxou de lá outro copo,moveu as mãos com velocidade e abriu a geladeira no mesmo ritmo,de lá pegou a caixa azul com um rótulo colorido,e serviu o líquido no copo,logo saiu de trás da bancada e se direcionou a mesa aonde o outro homem se encontrava,ainda com os copos nas mãos se sentou e colocou os dois copos apoiados na mesa de centro,observou o soldado a sua frente,não havia movido nem um músculo,aquilo o que a pouco tempo considerava obediência,havia se tornado incômodo.

Empurrou um dos copos pra frente,perto do moreno,o mesmo observou por um momento e logo olhou de volta para o chefe,os olhos sem vida não demonstraram nenhum sentimento,ele não era como os outros soldados ou agentes ele não era legível,não conseguia saber o que se passava em sua mente,mas gostava de pensar que ele sempre esperava sua próxima ordem,olhou para o copo e os olhos azuis repetidas vezes,queria que ele entendesse o comando.

Por um momento desejou não ter feito nenhuma lavagem cerebral nele,não ter o torturado ou o modificado em um laboratório,assim ele poderia simplismente sentar e ter uma conversa normal com seu melhor soldado,o parabenizar e ver seus olhos brilharem ao ver seu chefe o parabenizando;Mas aquilo nunca acontecia,Alexander já havia feito de tudo para ver algum sentimento nos lindos olhos azuis do soldado,nem que fossem lágrimas,já havia o deixado sem comer,preso em lugares apertados,com sede...
Mas ele nunca reagia,nem sequer um gemido de dor,fome,tristeza ou ansiedade. Aqueles eram os momentos que desejava ver ele demonstrar algo,nem que fosse nojo do leite gelado a sua frente.

—Beba.

Disse em tom autoritário,subiu o indicador e apontou para o copo a sua frente,o soldado a sua frente olhou para o leite,levou o braço metálico gelado para o copo cheio,e com o outro braço se permitiu tirar a máscara,respirou um pouco do cheiro puro de incenso e então se permitiu colocar a máscara preta na mesa,levou o copo até os lábios e bebeu o líquido dentro,fazia muito tempo que não sentia aquele gosto familiar,bebeu com gosto,flashes de lembranças vieram a sua mente,mas ignorou,sempre ignorava.

Quando o líquido havia acabado,bateu com o copo contra a mesa e lambeu os lábios,queria mais mas não queria pedir mais.

—Parece ter gostado—Deu um riso nasal e mordeu o lábio inferior—Quer mais?

Soldado Invernal observou a janela da enorme casa por um tempo logo voltou os olhos ao chefe,com os lábios entre abertos acenou a cabeça positivamente,Alexander se levantou devagar e caminhou com passos largos até a caixa com rótulo colorido e a colocou sobre a mesa,sorriu ao ter ao menos um pouco de interação,ainda assim,sem nenhuma palavra da parte do soldado,era uma das primeiras vezes que ele era correspondido com pura espontânea vontade. O soldado pegou a caixa com a mão cinza e logo direcionou a caixa até os lábios,ali,deixou todo o líquido se derramar,sentiu o líquido derramar por seu pescoço,semicerrou os olhos sentindo o gosto meio amargo invadir sua boca novamente,estava aproveitando ao máximo pois sabia que aquilo acabaria rápido,sempre acabava,todos seus poucos prazeres terminavam em segundo,o mesmo iria acontecer com o leite em sua boca.

Pouco tempo depois o leite já havia acabado novamente,lambeu a saída da caixa bebendo o pouco que havia sobrado,colocou o recipiente na mesa e lambeu os lábios,ainda estava sujo de leite,o lado direito de seus lábios vermelhos,seu pescoço,seu peito...
Suspirou baixo vendo que havia desperdiçado tamanha quantidade da bebida,olhou para o mais velho em sua frente,o mesmo mordia os lábios e o encarava de um jeito diferente,com o braço ainda humano puxou um guardanapo de papel do meio da mesa logo passou aquela coisa áspera pelo seu pescoço e peito,com os lábios havia dado um jeito de limpar com a língua,havia sido ótimo aproveitar um pouco daquela coisa maravilhosa,quase nunca tinha daquilo,não daquele jeito pelo menos...

—Segundo quarto à esquerda,o com a porta dupla,quero que me espere lá.

Gostava de receber ordens,gostava de se sentir usado,não sabia se gostar daquilo era muito ruim,mas mesmo que fosse,ele gostava,adorava a sensação de ser usado,abusado,torturado e depois ser jogado fora como se não fosse nada,até porque não era,ele era um objeto,seria usado até terminar,até quebrar,mas isso não o faria menos prazeroso e desejado.

Ele era quase um copo de leite

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