Brincadeira de criança

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Rafaella tentava a todo custo controlar a respiração ofegante, que acompanhava o ritmo acelerado do seu coração. O nervosismo tomava conta de si enquanto ela tentava espiar pela pequena fresta que havia entre as portas do armário onde estava escondida. Ao ouvir passos do lado de fora do móvel, ficou ainda mais tensa. Ela colocou a mão sobre o rosto, para abafar o som da respiração, e tentou ficar o mais quieta possível. Torceu para que não a encontrassem ali, mas foi em vão.

- Não acredito! - era claro o tom de frustração na voz da menina que acabara de abrir a porta do armário. - Rafa, não tinha outro lugar pra você se esconder?

- Shiiiiiiu. - Rafaella tratou logo de silencia-la, aos cochichos - Cala a boca, Bianca, antes que me descubram. E procura outro lugar, esse já é meu.

A menina de 7 anos, que estava em pé, encarou-a emburrada.

- Não me manda calar a boca. E esse é o MEU esconderijo.

Sem sair de onde estava, Rafa lançou um olhar para a porta da sala, por trás de Bianca, receando a chegada de Gigi à procura das meninas que estavam escondidas. Ou que deveriam estar, né? Era típico da peste da Bianca estragar o melhor esconderijo que havia encontrado para a brincadeira de pique-esconde.

- Tô nem aí. Daqui você não me tira. E pode ir andando antes que achem a gente. - Ela agarrou a porta do armário pela parte de dentro e puxou com a intenção de fechar, mas a mãozinha branquela da outra a impediu. Antes que desse por si, Bianca estava enfurnada junto com ela no armário.

- Bianca!

- Que é? Você não quis sair do meu esconderijo, então vamos ficar as duas aqui.

- Mas eu cheguei primeiro - Rafa fez um biquinho de manha.

- E daí? Eu sempre me escondo aqui. E essa é a casa dos meus avós, então eu tenho razão.

Rafaella revirou os olhos com toda a impaciência que uma criança de 8 anos conseguiria expressar.

- Você é uma chata, sabia?

- E você é ensu... insopor... você é uma feia. - Bianca cruzou os braços emburrada. Queria usar a palavra bonita que ouviu a mãe dizer um dia desses enquanto discutia com a tia Márcia, mas não se lembrava de como pronunciar.

Rafaella deu um sorrisinho presunçoso com a dificuldade da outra menina, o que passou despercebido para ela em razão do escuro. Além de ser um pouco mais velha e estar mais adiantada na escola, Rafa sempre tivera uma facilidade extra para aprender.

- Precisa de um dicionário, burrinha?

- Burrinha é a sua...

- LÁ VOU EEEEUUUUU. - Ouviram o berro de Gizelly do andar de baixo, o que serviu para interromper a troca de farpas habitual das duas. O nervosismo voltou a se instalar e elas se aquietaram para ouvir se alguém se aproximava. Depois de 2 minutos de silêncio, recorde para Bianca, ela não se aguentou mais.

- A Gi nunca vai encontrar a gente aqui. - Mal terminou de falar e levou um beliscão de leve no braço. - Ai!

- Shiiiu. Se você não calar a boca, ela vai encontrar sim. - Rafa bronqueou, cochichando.

- E precisa me beliscar?

- Precisa! Você não fecha a matraca.

Alguns segundos se passaram desde então, mas novamente o silêncio foi rompido por um cochicho.

- Rafa?

- Hum?

- O que é matraca?

- Ai meu paizinho... é um negócio que faz barulho, Bia.

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