Capítulo 7

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As ruas de Port Townsend, estavam agitadas, e olhares atentos observavam a minha pessoa por cada loja e esquina que passava, hoje era um dos raros dias em que estava a chamar a atenção, não era pelos melhores motivos, não, era pelo simples facto de que andava descalça, suja e descabelada parecendo uma sem abrigo, prestes a pedir esmola a quem passasse. O meu olhar não saía do chão, as minhas pernas e os meus braços realizavam um movimento continuo e sintonizado, permitindo-me deslocar mais rapidamente pelo solo de granito aquecido pelo sol. De vez em quando, pequenas pedras malandras enfiavam-se nos dedos dos meus pés causando-me desconforto e arestas traiçoeiras que por sua vez não foram limadas o suficiente abriam-me pequenas feridas nos pés, que me causavam um ardor suportável.     

Estava literalmente 1h atrasada, não estava deveras apresentável nem preparada para o que estava por vir, e os olhares julgadores comprovaram exatamente os meus pensamentos, quando  pela segunda vez piso o tapete aveludado que se encontrava após a porta giratória pela qual sou fascinada. Dirijo-me rapidamente à recepção requintada do enorme edifício e os olhos dos 5 rececionistas pararam em mim.

- Aqui não há restos de comida. Experimente ir ao café da esquina. Lá deve conseguir encontrar aquilo que procura. - balbucia uma. Não acredito, como é que têm o desplante de me tratar deste jeito. Eu sou um ser humano tal como todos os outros.

- Aquilo que procuro está neste edifício, não se preocupe. Ah e já agora, acho que a senhora deveria preocupar-se mais consigo e com aquilo que diz do que com a vida dos outros. Sim, porque se estamos neste mudo, por algum motivo é, e se não lhe disseram quando era mais nova, digo-lhe eu, não julgue as pessoas pela sua aparência! - a senhora olhou para mim e engoliu em seco, os seus colegas ora olhavam para ela ora olhavam para mim há espera de uma resposta, mas a senhora nada disse dando por encerrado o assunto. - Tenho uma reunião marcada com a Dra. Sophia, era para ter sido à 1h atrás mas tive uns pequenos percalços. Ela consegue receber-me agora? - digo como se nada tivesse passado.

- Neste momento a Dra. Sophia está numa reunião e não poderá recebê-la. - diz a julgadora arrogantemente.

- E quando é que a Dra. Sophia me poderá receber?

- Assim vestida? Nunca? - gargalha

- A senhora, não sabe nem metade daquilo que eu passei para chegar até aqui, por isso, faça o favor de saber quando é que a Dra. Sophia me pode receber - anúncio aumentando a voz gradualmente.

- Ou a jovem se acalma ou então vai ter de se retirar daqui. - comunica um dos colegas ao lado da esgrouviada.

- Eu estou calma a sua colega aí é que me está a enervar. - grito.

- Segurança! Segurança! Leve esta mal trapilha daqui. Ela está a incomodar todos à sua volta. - diz a nojentinha de nariz empinado.

O segurança aproximou-se agarrou-me pelo braço e puxou-me até a saída, eu bem tentei soltar-me, mas as suas mãos envolveram-me de tal maneira que parecia uma boneca a ser arrastada. Esperneei tanto que quando me largou fui parar ao meio do chão.

- Nunca mais voltes a arranjar confusão! - esbraveja. - Boa Tarde Sr. Evans! - cumprimenta educadamente um rapaz que me é muito familiar, como se nada estivesse a acontecer.

- Boa tarde! Deixe estar que eu trato disto. - responde com um meio sorriso.

- Tem a certeza Sr.?

- Sim tenho, vá fazer o seu trabalho e por favor, senhor está no céu, só Isaac. - o troglodita assente e entra pela porta giratória deixando-nos a sós. - Os nossos encontros são sempre muito atribulados não achas? - merda ele reconheceu-me, claro que me reconheceu, se o reconheci, ele também me reconheceu. - O gato comeu a tua língua? Estou a falar contigo? Para quem é cheia de lições de moral deveria saber que não responder é falta de educação- diz despertando a minha intriga interna.

- Estava distraída, por isso é que não respondi! - digo levantando-me e ajeitando o que resta de mim.

- Claro que estavas distraída. Estavas a pensar em como fico melhor sem roupa. - gargalha fazendo poses como se alguém tivesse a tirar-lhe fotografias.

- O que? Só podes estás a gozar comigo. A vida é muito mais do que um abdominal perfeito e músculos definidos. Tenho mais em que pensar.

- Então quer dizer que no outro dia reparaste na minha beleza e na minha perfeição. - alega convencidamente.

- Não, não reparei. - minto descaradamente.

- Vou fingir que acredito. Mas diz lá porque é que te expulsaram da minha empresa?

- Tua empresa? - pergunto perplexa

- Tecnicamente não é minha é da família. - o meu queixo cai, o meu cérebro para e a única coisa que saiu da minha boca foi um simples "ok". Quando a ficha caiu expliquei tudo o que tinha acontecido, até chegar ao exato momento em que ele me encontrou. Levou-me até à Dra. Sophia, sua irmã, que por sinal foi bastante compreensiva comigo e providenciou o tão esperado contrato, li atentamente, fiz algumas questão e finalmente assinei.
- Muito obrigada pela oportunidade Dra. Sophia. - sorrio largamente.

- Só te peço uma coisa. Por favor, sê pontual, se não vou ter de tomar medidas. - alerta-me

- Eu não me costumo atrasar! Tive uns pequenos percalços pelo caminho como pode ver. - envergonhada com a minha aparência passo as mãos mais uma vez pelo meu cabelo e pela minha roupa com o intuito de disfarçar o meu estado.

- Não te preocupes estás muito bem assim. - intervém o senhor doutor colocando uma mão à frente da boca para disfarçar o riso.

- Isaac Evans! Que modos são esses? Onde está a boa educação? - intervém a irmã.

- Não está, nunca esteve e nunca me foi ensinada! - diz saindo e batendo com a porta.

- Não te incomodes com ele. Ele é mesmo assim. - assegura ao ver a minha expressão.

- Mais uma vez muito obrigada, não se vai arrepender. - ela assente e saio do seu escritório direta para casa, levando no meu pensamento o senhor doutor gozão Isaac Evans. Afinal ele não é assim tão mesquinho quanto parecia ser e hoje mostrou que é capaz de ajudar os outros sem pedir nada em troca, mas o que me deixou mais intrigada foi a resposta que ele deu à sua irmã.
Quem é realmente Isaac Evans?
Um rapaz mimado que tem tudo o que quer? Um rapaz que sabe ajudar o próximo? Um rapaz gozão e mal educado?
Quem és tu?

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