Capítulo Um

1 0 0
                                    

- MÃE, EU PRECISO MIJAR!! -- Arthur berrou tão alto que o carro de trás buzinou como se fosse em resposta.
- Já falei que estamos chegando, querido. -- Eu realmente admiro o estado de espírito de Eva, é a pessoa mais paciente que eu já conheci.
    Eu não sei o que pensar dessa viagem. Nesses 7 anos que papai conheceu Eva ele tentou camuflar que não se importa muito com nada além dela, principalmente depois que Arthur nasceu. A bênção da família. Não que isso seja um problema, sair de casa sem ninguém sentir sua falta realmente não é um problema para uma adolescente de 17 anos.
- Mas eu preciso ir ao banheiro ago...
- Chegamos! Preparado para a melhor férias de sua vida, Tutu?
Ignoro o fato dele ter esquecido de me incluir nisso enquanto saio do carro tão rápido que não percebo que alguém já estava lá para abrir.
- Desculpe -- digo sem me importar de verdade.

    Papai realmente tem mais dinheiro do que eu imaginava. O Hotel é gigante, com 11 andares de puro luxo. A luz do pôr do sol reflete na enorme piscina logo na frente do hotel, que se estende até onde meus olhos não alcançam. Arthur parece perceber isso primeiro e milagrosamente sua necessidade de ir ao banheiro vai embora quando ele arrasta Eva até a piscina aos berros. Alguém com uma roupa amarela muito feia tampa minha visão.
- Boa tarde, bem vinda. Suas malas por favor. -- Empurro a minha mala em seus braços, que por acaso é pequena comparada com todas as malas que Eva trouxe só para ela, aposto que 2 são só para os quiilos de maquiagem que ela passa diariamente.
-- Pai, vou dar uma volta -- aviso sem olhar para ele, ato que é repetido por ele que está falando com o mensageiro que está empanturrado de malas, inclusive a minha. Sinto seu olhar sobre mim, mas estou muito ocupada observando qual lugar da praia está mais deserto para notar sua existência.
~~
    Andar na beira da praia sem rumo, apreciando a melodia da minha playlist e sentindo a sensação da brisa salgada em meu rosto é a melhor sensação da depois da... onde está... Apalpo meus bolsos atrás do maço de cigarro que comprei na nossa parada no posto de gasolina 2 horas atrás.
- Que droga!! -- devo ter deixado na porcaria da mala, quando escondi assim que Arthur pediu uma bala também.. Criança ingênua e mimada.
Meus pés agem antes de eu sequer pensar em ir para a recepção, e quando me deparo já estou parada lá. Procuro pelo mensageiro que carregou nossas malas mas ele me encontra primeiro. Observo ele vir em minha direção. O sujeito é consideravelmente alto, tem o cabelo levemente ondulado e os olhos brilhantes, até demais.
-Sua mãe disse que você obteu por ficar em um quarto separado deles... -- É claro que eu não iria aceitar vir para essa viagem e ficar no mesmo quarto que eles, não quando sou excluída e ignorada.-- Eu te acompanho até lá, só um instante... -- Ele sinaliza para outro sujeito com uma roupa horrível igual a dele, o homem lhe entrega minha mala -- Me siga por favor.
    Sigo pela sala extensa e cheia de novos hóspedes até o elevador com ele, me obrigando a não encarar tanto a mala e o que tem dentro naquele bolso da lateral com tanta ansiedade nos olhos.
- É sua primeira vez na região? -- Pergunta o moço do uniforme feio para passar o tempo enquanto esperamos o elevador. Palavras claramente automáticas. Não que eu me importe, não quando recebo o mesmo tratamento do meu pai: palavras automáticas, perguntas vazias sem nenhum interesse por trás. Sinto o olhar do garoto sobre mim quando eu não respondo. Humm então ele quer uma reposta...
- Sim. É minha primeira vez. Olha, você realmente tem que me acompanhar? Só me diga o número do quarto que eu me viro. -- Digo com meus olhos fixos naquele bolso.
- Eu não me importo em ti levar, eu estou disponível para isso...
- Mas eu me importo! -- Rebato mais alto do que tinha planejado -- Por favor.
- 5° andar, quarto 14. Estou disponível caso precise. -- Ele diz com uma friesa perceptível em seu tom de voz. Eu só quero meu cigarro.
- Sei andar sozinha, obrigada. -- Pego minha mala de suas mãos e sigo para o elevador que abriu as portas.
    Eu não tinha a intenção de ser tão grossa com alguém que só está fazendo seu trabalho, mas eu realmente só não me importo mais com isso, e ele com certeza já esqueceu desse encontro desagradável com mais uma hóspede mau humorada. Sigo pelo corredor em direção ao quarto 14, assim que eu lembro que não estou com a chave sinto ela balançar enganchada no bolso da lateral. Então ele é atento...
    O quarto é grande para uma pessoa só, com a sacada com vista para o mar espelhando o sol ja quase desaparecido. Deixo a mala na cama e saio em disparada do quarto quando ouço a voz da criança do quarto ao lado. Arthur. Não quero me encontrar com eles agora, preciso relaxar antes desse sacrifício.
   Deixo meu hábituado cigarro na orelha e outro na mão enquanto passo para fora do hotel sem dar muita importância aos olhares dos pais conservadores e dos outros adolescentes que olham com o mesmo desdém.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 17, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

No penhasco de seus lindos olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora