...or something more?

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Jisung já estava acostumado àquele tipo de coisa. Era como um sentimento sinestésico: assim que o sinal soava indicando o intervalo, sua boca ganhava sabores amargos. O garoto já sabia onde deveria ir.

Ainda que houvesse dado de tudo de si para que aquele ano fosse diferente, nada havia mudado: o ensino médio e a escola nova não pareciam um bom remédio para curar sua timidez e insegurança, muito pelo contrário.  Já havia se passado cerca de seis meses, mas Park Jisung ainda não havia conseguido chamar ninguém pela acalentadora palavra “amigo”.

E fora por ser sentir sozinho — após inúmeras tentativas fracassadas de se adequar aos diversos grupos sociais que só faziam rir de seus trejeitos —, que o garoto havia optado por se isolar durante os intervalos.

Já era suficientemente ruim estar solitário, ele não queria ter que mostrar isso a todas da escola. Ele não queria ter de ouvir aqueles tipos de comentários maldosos novamente.

Jisung havia escolhido o segundo box — da esquerda para direita — do banheiro masculino do 3° andar para chamar de seu. Sabia que aquele não era dos melhores ambientes para se fazer uma refeição, mas acabara se acostumando tanto com as pichações chocantes quanto com as chegadas abruptas de “invasores”. O garoto não tinha lá muitas escolhas, não era permitido que os alunos ficassem perambulando pela escola durante os intervalos escolares, mas este fora suficientemente esperto para escolher o banheiro menos movimentado.

Enquanto todos os outros enfileiravam-se impacientes em frente ao refeitório, Jisung já estava acomodado ao boxe. O Park encarava os bolinhos de arroz em formato de pandas que seu irmão mais velho havia lhe preparado carinhosamente naquela manhã. Não conseguia deixar de sorrir ao pensar que Jaemin se preocupava tanto em faze-lo feliz. Não conseguia deixar de sentir falta de ter a companhia do mais velho no intimidador ambiente escolar.

Aquele dia tinha de tudo para ser só mais um.

Jisung sempre fora do tipo sentimental. Preferia acreditar que o fato de nunca ter tido um amigo na escola se devia à Jaemin. O mais velho já era o melhor amigo que este poderia ter, ele não haveria do que reclamar. O fato de estar sozinho ali naquele banheiro se devia exclusivamente a uma decisão sua. Se ainda estivesse na mesma escola do irmão, estaria divertindo-se com ele e seus amigos: Jeno, Renjun, Mark e Donghyuck.

Por que ele achara que se sairia bem quando nunca fora capaz de se aproximar de ninguém por si só?

O primeiranista respirou bem fundo, tentando se livrar dos pensamentos negativos que perturbavam sua cabeça e amarravam sua garganta. Enfiara o bolinho de arroz direto à boca, tentando lembrar-se dos momentos bons que havia tido ao lado do irmão, mas acabara se assustando com o barulho repentino da porta se abrindo.

Jisung colou os vans azuis ao chão. Engolira em seco, intimidado com a presença misteriosa. Esperava que o visitante não estragasse sua refeição, aguçando seus ouvidos para que entendesse que tipo de coisa o garoto desconhecido faria por ali.

O silêncio estendido deixara-o apreensivo, mas fora o barulho, juntamente ao toque misterioso em seu sapato, que disparara seu coração e fizera com que este realizasse um movimento brusco com os pés. Havia um jotgarak retorcido embaixo de seus tênis.

Jisung voltara a engolir em seco, mas acabara se abaixando para tocar o palitinho de metal. Nem imaginava no que aquele ato culminaria.

Fora a primeira vez que Park Jisung e Zhong Chenle se encararam por mais do que 10 segundos.

— Oi...você pode me dar isso ai do lado do seu pé? — o chinês perguntou de repente, observando o Park de ponta cabeça.

Jisung sentiu um bolo se formar em sua garganta enquanto observava o menino e todas as marcas e machucados que existiam em seus braços. Já havia o visto de relance nos corredores, bem como escutado os boatos sobre si, aquele era o garoto que sempre lhe provocava certos arrepios. Na cabeça do Park, Chenle com certeza era um valentão, ele não o perdoaria por ter estragado seu talher.

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𝙻𝚞𝚗𝚌𝚑𝚋𝚘𝚡 𝙵𝚛𝚒𝚎𝚗𝚍𝚜 - 𝙲𝚑𝚎𝚗𝚜𝚞𝚗𝚐Onde histórias criam vida. Descubra agora