LIVRO UM - TEMPO PASSADO - CAPÍTULO UM - MAIA

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LIVRO I

TEMPO PASSADO

Maia

CAPÍTULO UM

Maia

A família da mesa dois sorriu para mim com simpatia enquanto eu esperava para levar o pedido deles. Acho que gostaram do meu atendimento. Eram do Tocantins e estavam na cidade aproveitando suas férias. No município, o turismo era a principal atividade econômica que gerava renda para empregar muitas famílias. Gostei dos quatro membros, mas a mulher e a filha adolescente tinham minha preferência.

Eu trabalhava como garçonete no restaurante e café colonial Divinas Hortênsias que pertencia à minha tia materna Débora. Ela era quase como uma mãe para mim desde os meus doze anos quando eu me mudei para Gramado, na serra gaúcha, para morar com ela. Isso já fazia mais de uma década.

Vanessa, minha mãe, era uma hippie sem causa que andava pelo mundo sem destino e por mais que eu a amasse essa não era a vida que eu queria para mim. Sempre quis uma família normal com pai, mãe e irmãos. Não os tive de forma natural, mas sim quando vim para o Sul e fui adotada pela minha tia, pelo marido dela e por minha prima Roberta,hoje a minha melhor amiga.

Logo que parti, minha mãe deixou Goiânia, onde vivia, e nesses anos viajou por todo o mundo. Através do último cartão que recebi soube que ela estava no Marrocos. Vanessa era fantástica, porém não levava muito jeito para ser mãe, mas mesmo assim eu a amava muito.

Ter uma família normal não foi o único objetivo que me fez vir para o Rio Grande do Sul. Na verdade,meu maior incentivo foi procurar por meu pai. Eu nunca soube nada dele. Até o seu nome, minha mãe se recusava a compartilhar. A única coisa que consegui descobrir foi que ele era de Gramado. Aqui era a terra natal de minha família, e, provavelmente, seria onde eu conseguiria minhas respostas, contudo, em todos esses anos nada descobri.

Acabei me apaixonando pela cidade e fui ficando. Não me imagino em outro lugar do mundo que não seja aqui.

Quando coloquei o pedido da família do norte sobre a mesa assisti a mulher que eu atendia se dirigir com carinho aos filhos e, sorrindo, falei:

— Espero que aproveitem a estadia em nossa cidade.

— Sim. Estamos amando. Obrigada, Maia — a mulher por quem senti simpatia de imediato me respondeu.

Acho que era assim que nasciam as amizades, a empatia se estabelecia de imediato. Não sei se seria amiga dela e da filha, mas senti uma energia positiva de cara ao conhecê-las.

— Como disse que era o nome da cidade de vocês mesmo? — perguntei.

— Araguaína — a adolescente disse com um sorriso.

—Ah, não vou esquecer! Com licença.

Voltei ao balcão onde minha prima lavava alguns copos.

— Fazendo amigos, Maia?

— Sim — respondi observando enquanto ela lavava a louça suja.

Era final da manhã, o movimento do restaurante não parava nunca. Éramos uma equipe de dez apenas para o atendimento aos clientes fora o pessoal da cozinha.

— Então, vamos sair hoje à noite? — Roberta perguntou me olhando.

—Hum... Não sei. Acho que vou querer apenas uma cama.

— Ah, por favor, Maia! Parece uma velha!

Minha prima, que amava balada, não concordava com minha aversão a esse tipo de festa. Éramos muito unidas, mais que amigas, mas éramos completamente diferentes. Ela era desbocada, impulsiva, corajosa, entre outras qualidades. Já eu, sou...não digo tímida, mas reservada e insegura.

IMPERFEITO AMOR (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora