Tiago e Bruno

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> A imagem de capa do capítulo é uma imagem do lugar onde Tiago está olhando o outro lado. O mangue não saiu na foto, mas paciência. (Sim, é um lugar real na Bahia o da história).
> A imagem da capa da fic: o olho foi achado num stock de várias imagens, mas a imagem que tá dentro eu que pus no Photoshop, não ficou A MELHOR COISA, mas gostei do resultado. A imagem que tá dentro é uma imagem do mangue desse lugar também.
> Juro que é o último. As fotos foram tiradas por mim, então não é nada profissional, mas não peguei arte de ninguém, só para não acharem que foi o plagiozão.

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O menino das pedras

No dia em que Tiago chegara à vilinha uma chuva fria e mansa precipitava-se pelo solo e abaixava a poeira resultante da secura e do calor daquele clima tão naturalmente baiano. Seu pai estacionou a SW4 na casa que mais era uma mansão de veraneio e, da perspectiva do menino, contrastava comicamente com o chão de terra batida e a poeira vermelho-barro que se depositava em todos os lugares.

A pequena sede de Porto do Sauípe, Mata de São João, parecia irreversivelmente minúscula para os olhos verdes de Strauss como que acreditasse piamente na incapacidade da marcha do progresso de tocar a vila e, por isso, como que alheio a tudo que se passava ali, subiu para arrumar seu quarto. Enquanto o fazia contemplava passarem as pessoas pela visão que lhe garantia a varandinha: uma velha e um casal com três crianças meio maltrapilhas e baldinhos de plástico passando na direção contrária à praia enxotados pela chuva, um grupo de adultos muito bêbados cantando alto em direção à praia, um grupo de jovens com uma bola de futebol reclamando com um tal de Felipe que aparentemente não queria ir à praia:

— Já vai passar a chuva, hum! — Falou com aquele sotaque engraçado de baiano "arretado" que ouvia de alguns e o arrematar da frase com "Hum" chamou a atenção de Tiago que discretamente passou à varanda e sentou na frondosa espreguiçadeira de vime observando o diálogo.

O tal de Felipe vinha atrás com as mãos nos bolsos e, calado como estava antes de Tiago os ver, calado continuara perante o mesmo e, por detrás de suas feições suínas que não diziam muito sobre seu estado de espírito, Tiago desconfiou que ele não estava muito feliz ali. Riu um pouco das interações que se prosseguiram, mas logo voltou para o quarto espaçoso mais uma vez apreciando o piso de porcelanato gelado sob seus pés e a casa muito fresca e arejada.

Quando seu pai dissera ter arranjado um emprego na Bahia, definitivamente não esperara por aquilo, tinha imaginado um confortável apartamento em Salvador, mas talvez não fosse de todo ruim. Tinha mudado seus planos e se contentado com a ideia de cursar Engenharia Civil na UFBA em vez da UFMG, mas tinha então de esperar o segundo semestre, de modo que tinha uns quatro meses de estadia naquele lugarejo.

Uma vontade repentina de ir à praia surgiu em Tiago. Ela ficava a certa distância da sede, uns cinco ou dez minutinhos de carro pelo que seu pai dissera, e, observando a chuva amansar e amansar até que já fosse quase um sol nublado novamente, terminou de pôr as roupas da mochila e desistiu de arrumar a mala àquele dia. Seu pai tinha ido para o pequeno posto de saúde que ficava a, no máximo, dois minutos de casa andando e, portanto, deixado o carro em casa.

Tiago deixou um bilhetinho numa folha qualquer avisando que sairia com ele e voltou a seu quarto. Pegou um chapelão de palha que o dava um engraçado aspecto de turista e de mulher ao mesmo tempo, se embebeu de protetor solar, por via das dúvidas levando um frasco consigo, e pegou cem reais do dinheiro que seu pai o tinha deixado no largo guarda-roupa branco embutido de seu quarto.

Ao o fechar olhou-se no espelho com um tom divertido e, se sentindo bem, apreciou-se posicionando a perna como uma modelo e dando uma olhada por baixo do chapéu enxergando-se muito feminino com seus cabelos longos e loiros e traços finos: aquele tipo de beleza fazia-o sentir-se bem. Sorriu então, e, ao sorrir, notou a cicatriz que marcava o canto do lábio com cerca de três centímetros e fechou a cara, ao fazer isso notou também os olhos levemente estrábicos de um verde intenso. Bufou e saiu da frente do espelho, pegou os óculos de sol os pondo na blusa e o celular, abriu no Apple music o álbum Doze Flores Amarelas, Os Titãs, e pulou maquinalmente algumas músicas até que o coro de "nah"'s começasse e ele a cantar em simultâneo.

O Verde de teus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora