— Bakugou-san, você está pronto? — Havia uma movimentação à sua esquerda – ou seria à direita? – Katsuki tentou se mexer em seu leito de hospital com dificuldade, até que alguém estava ajeitando o travesseiro embaixo de sua cabeça. O som abafado dos bipes do monitor de sinais vitais preenchiam o cômodo. Um suspiro abandonou-lhe os lábios, seguido por uma tosse carregada, que demorou alguns bons minutos para cessar. Tudo era doloroso nesses dias e, mesmo com sua teimosia, cada dia parecia mais difícil continuar respirando.
Esse havia sido o resultado permanente – e um tanto trágico – do uso prolongado de sua individualidade que tinha causado vários danos irreparáveis ao seu corpo. Pulmões, audição, até os movimentos dos braços, mãos e pernas foram comprometidos com o passar dos anos.
Houve um tempo em que ele preferiria ter morrido, a viver dessa forma. Mas Bakugou podia lidar com isso agora. Depois de anos de terapia, quando ainda podia manter uma conversa por mais de cinco minutos sem um ataque de tosse, ou quando ainda podia se lembrar de detalhes importantes sem cair em um silêncio vazio que durava horas.
Bakugou teve uma boa vida, manteve seu status no topo das colocações enquanto pôde continuar ativo. Embora nunca tivesse conseguido alcançar seu tão desejado primeiro lugar, o segundo também era uma posição digna. Com o passar dos anos, sua arrogância atenuou bastante e ele aprendeu a aceitar algumas coisas com mais humildade.
Ainda assim, em certos dias, sentia um vazio inexplicável. Era muito mais frequente agora, conforme os dias se passavam, em alguns deles, passava horas com a mente completamente em branco, sem um único pensamento, uma tela em estática. Sem lembranças também. O que, de algum modo, parecia pior do que sua incapacidade de formar pensamentos coerentes. Era como se, aos poucos, Katsuki fosse se apagando.
Havia, no entanto, os dias que ele lembrava. Dias de claridade, dias onde o adorno dourado em sua mão esquerda não era só uma interrogação em sua mente, mas possuía sentido. A frase gravada no interior com as iniciais S. T., que Katsuki precisava forçar os olhos para conseguir enxergar não eram apenas um amontoado de palavras quando podia ler. Era uma memória volátil, mais do que qualquer outra coisa. Às vezes, era como se visse o rosto de Shouto em sua frente, com todos os detalhes. Se lembrava dos sorrisos, das brigas também, das noites em claro, das batalhas que os dois lutaram juntos. Uma vida que parecia cada dia mais fragmentada na cabeça de Bakugou e, nos dias em que se lembrava, ele tinha vontade de se agarrar a essas memórias e nunca mais deixar que elas se perdessem em sua mente confusa. Se perguntava como podia esquecer a única pessoa que foi capaz de amar daquele jeito tão intenso.
O pior era o vazio. Nos dias em que não se lembrava, tudo parecia apenas um borrão. Sua própria existência não passava de um peso morto em um canto de uma sala, dependendo de outras pessoas para poder continuar apenas respirando. Se ainda tivesse forças, com certeza acharia tudo isso uma grande humilhação, mas sequer tinha energia mais para importar-se com isso.
Energia. Uma das coisas que mais sentia falta era a energia e a adrenalina que ele possuía quando jovem. O calor aconchegante de sua individualidade crepitando em suas palmas, enchendo-o de vida. Há muito não se sentia dessa maneira.
Katsuki sabia que existia uma opção disponível para si, mas parecia tão covarde escolher uma alternativa tão vulgar quanto aquela. Ele sempre teve a mente um pouco – ou muito – fechada, mais de uma pessoa deve ter lhe dito isso em sua adolescência, mesmo que agora não se lembre mais, não é difícil supor.
Mas o que mais ele tinha a perder? Cada dia era mais humilhante que o anterior e, honestamente, Bakugou já estava muito cansado. Quando precisou ser afastado de seu trabalho, quando soube que não poderia mais ser herói, ele sentiu vontade de morrer, mas continuou vivendo. Sempre pensou que, mesmo na terceira idade, ainda poderia continuar lutando, achou que poderia superar lendas como Gran Torino, mas o destino não foi tão gentil consigo.
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The Other Side Of Paradise - bnha | tdbk
FanfictionO pior era o vazio. Nos dias em que não se lembrava, tudo parecia apenas um borrão. Sua própria existência não passava de um peso morto em um canto de uma sala, dependendo de outras pessoas para poder continuar apenas respirando. Se ainda tivesse fo...