Horas na Fila

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Era a cerimônia de estreia do terceiro livro da minha renomada trilogia e após a apresentação do livro e um longo discurso para a imprensa e editoras me dirigi para a sessão de autógrafos.

As sessões costumavam sempre serem demoradas, ainda mais em dias de lançamento ou grandes eventos. As pessoas traziam em mãos livros, muitas delas inclusive vinham vários, camisetas, pôsteres e desenhos.

Eram minutos, as vezes até horas na fila, por algumas poucas dezenas de segundos de contato, um assinatura e poucas fotos. Era pouco aparentemente, mas o bastante para muitos ali.

O bastante para muitos, não para todos.

Eu particularmente gostaria de ter mais tempo, dar mais atenção. Porém infelizmente a situação dificilmente permitia.

As pessoas sempre corriam logo para a fila, assim que o evento era aberto. E esperavam ali por horas, com o desejo de ser o primeiro, ou um dos primeiros.

Queriam me pegar ainda com energias, ainda sorridente e carismático. Alguns talvez quisessem aparecer numa matéria ou outra como o fã número 1 da fila, mas ela não.

Ela não pensava assim, era diferente. Evitou o furdunço e a correria pra ser uma das primeiras, ao contrário do senso comum, ela decidiu ser a última.

Garota esperta.

Diferente dos outros, ela pensou que sendo a última da fila teria mais tempo comigo, afinal, não haveria ninguém depois dela apressando-a para que chegasse logo sua vez.

A ideia foi ótima, mas por poucos instantes não deu errado. Eu já estava a me preparar para sair dali, recolhi os dois exemplares do livro que ficaram sobre a mesa e pus a caneta no bolso na camisa social que vestia.

Já estava de pé e pronto pra partir quando ela chegou de repente, com um jeito meigo me pediu um minuto.

Estava de costas pra ela, pegando meus pertences que havia deixado na prateleira de apoio e por um momento cogitei responder que infelizmente aquela sessão de autógrafos havia encerrado, e realmente havia.

Eu já estava exausto após todo aquele dia. A tensão com o lançamento do livro, a pressão do discurso de estreia e as horas sentado assinando e tentando ser o melhor de mim ali prós meus fãs. Não que seja um trabalho ruim, mas com certeza exige bastante de mim.

- Com licença, você ainda tem um minuto? - A moça falou assim que chegou a mesa.

- Olha, eu tenho só um minuto - falei me virando. - Por que o dia hoje foi bem cheio. Onde você quer que eu assine?

- Oh eu imagino Thomas, mas eu esperei tanto por esse minuto.

- Tudo bem, você tem o seu minuto. - tirei a caneta do bolso.

Ouve-se o click do botão.

Peguei o livro deixado por ela na mesa e abri na primeira página para assinar.

- Qual seu nome? - Perguntei

- Stephanie.

- Prefere soletrar pra eu não escrever errado?

- Pode colocar apenas "Steh, a sua fã número 1".

- Como você quiser. - Após uns rabiscos no papel. - Está feito.

- Fico muito feliz com isso Thomas. Não imagina o quanto esperei por esse minuto.

- Fã número 1, né? Eu posso imaginar sim. - Pus de volta a caneta no bolso. - Se não se incomoda Steh, agora eu preciso ir, como eu falei, o dia foi muito puxado hoje.

- Tudo bem eu te entendo, também não foi nada fácil esperar tanto tempo na fila.

- Eu agradeço por isso, espero te encontrar de novo fã número 1. - Falei já partindo.

- Espera! Posso te pedir só mais uma coisa?

- Que seria?

- Me dá um abraço?

- Claro. Tudo bem.

Dei apenas um passo até ela e ela caminhou até mim, estendeu os braços abaixo dos meus, ergui os meus a altura dos seus ombros e nos abraçamos. Ela era um tanto mais baixa que eu, sua cabeça repousou em meio e o topo da sua cabeça bem abaixo do meu queixo.

Ela pôs o rosto de lado e empurrou bem contra mim, com os braços em volta das minhas costas, encostei meu queixo sobre sua cabeça e depois lhe dei um beijo leve no topo da cabeça. O abraço dela reforçou mais um pouco, seu cabelo cheirava tão bem, aquilo parecia ter durado bastante tempo, mais do que realmente durou.

E assim que começamos a nos afastar, ela ergueu a cabeça e me beijou no pescoço.

- Opa opa. - Falei dando um fim ao abraço. - Foi ótimo o abraço e ótimo te conhecer Steh, mas paramos por aqui.

- Paramos? - Ela disse segurando a minha mão ao fim do abraço.

- Paramos. Eu preciso ir pro hotel descansar e você provavelmente para casa.

- Acho que não.

- O que?

- Sabe por que eu esperei tanto para ser a última da fila. - Ela se aproximou novamente de mim até sua boca chegar próxima do meu ouvido. - Para ter mais tempo com você. - Sussurrou.

- E você já teve. - Falei no ouvido dela e me afastei. - Teve mais do que qualquer um hoje.

- Mas eu quero ter mais do qualquer um sempre. - Disse isso ao levar minha mão até o seu rosto. - Deixe eu te acompanhar, apenas para conversar. Estamos os dois cansados, não é? Que mal posso te fazer?

- Tudo bem. - Assenti. - Vou de táxi para o hotel e te dou uma carona, conversamos no caminho até lá e aí o táxi te deixa em casa.

- Tá bem, eu aceito.

Caminhamos juntos até a frente do centro de eventos e eu pedi um táxi. O carro não demorou a chegar e entramos os dois no banco de trás, o caminho até o hotel era rápido não demorariamos mais do que dez minutos para chegar.

A conversar continuou fluindo normalmente mas já dentro do automóvel, aquela foi a primeira vez que realmente parei para reparar nela.

Steh usava um vestido vermelho com alças largas cobrindo os ombros e se juntando num laço atrás do pescoço e mantinha um decote um pouco menos tímido que esboçava a curva dos seus seios. O vestido era relativamente curto e ao sentar no carro, ali tão próxima, ficava fácil de notar suas coxas amostra.

Talvez eu tivesse me perdido durante alguns instantes na imagem dela e na imagem que tive dela na minha mente, não sei se ali que ela me fisgou. Se foi ali que ela despertou e viu em mim o desejo, mas foi bem aí chegar em frente ao hotel que ela se aproximou de novo e Sussurrou no meu ouvido.

Subimos.

Fã Número 1Onde histórias criam vida. Descubra agora