Entre Presas e Pulgas

Você só entende quando sente na pele... ou nas presas

Jinyoung e Yugyeom não se entendiam.

Esse conflito ia muito além do fato do mais novo entre os dois ser agitado, barulhento e bagunceiro, o exato oposto de Jinyoung. Também ia muito além do fato do Park não ser a pessoa mais compreensível do mundo, ter um gênio maldoso e ser extremamente desconfiado, características capazes de fazer Yugyeom grunhir de ódio. Não, não. Esse desentendimento vinha de muito antes de ambos sequer existirem, algo até então pré-determinado no mundo onde viviam. E ele provavelmente fora agravado porque agora os dois dividiam um quarto na fraternidade, portanto a convivência era obrigatória.

O desentendimento começava pelo motivo de Yugyeom ser um lobisomem e Jinyoung um vampiro. Mesmo com a evolução das raças, essa intriguinha boba parecia longe de morrer — ou pelo menos longe de morrer entre os dois, que pareciam se odiar em um nível muito mais elevado que o normal. Não entendiam os modos de vida um do outro; o Kim repudiava checar o frigobar pela manhã e encontrar aquelas bolsas de sangue nojentas e fedorentas penduradas perto de seus refrigerantes, assim como o Park não aguentava ouvir o mais novo ficar uivando de madrugada enquanto dormia, choramingando para a lua mesmo que inconsciente.

Nem mesmo os amigos escapavam das reclamações, e se eles fossem todos amigos em comum então a coisa piorava. Mark e Youngjae tinham o azar de conhecerem ambos Jinyoung e Yugyeom, afinal tudo parecia cair em cheio em cima deles. O vampiro não poupava a língua para falar mal do pulguento — apelido carinhoso que deu ao Kim. Já Yugyeom, por outro lado, podia passar horas e mais horas reclamando sobre o sanguessuga e como ele deixava as bolsas de sangue largadas por aí de propósito. Chegou a um ponto que ambos não podiam ter a chance de falar mal do outro que estariam o fazendo sem parar por horas.

Bambam, melhor amigo de Yugyeom, sempre saía voando para longe quando ele começava com as ladainhas sobre Jinyoung. Era um dragão, ora essa! Tinha sangue quente e pouca paciência para atritos bobos, gostava de ver briga de verdade, não as bobagens que seu amigo jurava de pé junto que o vampiro fazia. Youngjae não tinha tanta sorte — sempre que procurava sumir, tinha o Kim lhe segurando pelo colarinho, então não adiantava tentar desaparecer se fosse levar ele junto. Jackson era o único que ouvia suas histórias sem reclamar, mas sentia-se mal de falar muito sobre com ele porque o Wang era seu protetor, ele tinha mais com que se preocupar.

Mark, por outro lado, não tinha para onde fugir, até porque era melhor amigo do Park desde criança e ter que aturá-lo era seu dever. Também nem tentava sair correndo porque era um fantasma preguiçoso demais para isso, assim como não gastava seu tempo tentando ficar invisível — Jinyoung infelizmente conseguia senti-lo no ambiente com seus sentidos vampíricos. Às vezes queria ser um zumbi, tinha certeza que se a maior preocupação da sua vida fosse saber se as pernas estavam no lugar, não estaria se estressando a toa com o papo furado do Park sobre ter que ficar acordado de madrugada ouvindo os uivos de Yugyeom.

Chegou um ponto que ninguém aguentava mais essas brigas entre os dois. Até mesmo o reitor já tinha sido envolvido na história, mas nada de mudá-los de quarto. Teriam que aprender a conviver, eram praticamente os únicos que ainda ficavam alimentando essas briguinhas entre raças que eram estritamente proibidas no campus. Não é necessário dizer que o fato de permanecerem como colegas de quarto só os emputeceu ainda mais, tornando as coisas piores. Youngjae, após ter sido acordado pela vigésima vez com os gritos de ambos no andar de cima decidindo quem iria apagar a luz, admitiu que já não iria mais aguentar essa palhaçada. Quando levantou-se no meio da noite e invocou um círculo de magia, o Choi sabia que não tinha mais volta.

— Esses dois infelizes vão ver só... — resmungou, puto, flutuando sobre o círculo de magia. Seus fios de cabelo estavam esvoaçando com o vento e o tempo de repente se fechou em cima da fraternidade. Os olhos do Choi tornaram-se roxos, o poder transbordando de seu corpo. Ele era parte da linhagem mais poderosa da Coréia do Sul, aquilo não era nem metade do que ele podia fazer. — Vocês vão se entender de um jeito ou de outro.