1. Habilidade

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Olhei para a mesa repleta de papéis, cada um com propostas e pedidos de investimentos diferentes, as empresas mostravam o seu melhor e suas razões para conseguir algo de mim. Já estava no fim da manhã e confesso que não aguentava mais ler cada cláusula de cada contrato e separar o que me interessava, assim eram os meus dias.

Pessoas e empresas em busca de ajuda, pedindo socorro para não perder seus negócios. Há quem diga que isso é poder, bom, eu prefiro pensar que isso é tormenta. Ter que escolher quem não vai fechar as portas esse mês e não perder dinheiro com a escolha. É como uma faca de dois gumes, o jeito é atingir o que vai gerar lucros. Além de ainda ter que lidar com os atos repugnantes do Steve, que insiste em arrancar mais dinheiro que nunca foi dele, com o nosso divórcio.

Acho que ele não se contentou em ganhar o carro que eu tinha acabado de comprar, meu apartamento na cobertura que se concentrava na parte mais desejada de Manhattan e quase meio milhão de dólares. Ele apenas ganhou com o nosso relacionamento. Fui estúpida ao não pensar em contratos antes de casar, me iludi por ter cogitado a hipótese de ser amor, quando tudo se tratava de dinheiro.

Ele sempre me viu como um banco, como seu cartão premiado. Enquanto eu, cega de amor, me deixei levar pelo carinha bonitinho e popular da faculdade, pensando que um clichê não faria mal para uma garota romântica como eu.

Ao passar do último ano, tive que lidar com uma pilha de papeladas do divórcio, dos investimentos e com um coração triturado, partido é pouco.
Volto a atenção a um pedido de investimento incomum, não se trata de uma empresa, mas na habilidade de alguém. Intrigante, é isso que vem a mente. Nunca pensei que receberia uma proposta como essa, vejo que no mundo dos negócios existe de tudo.

Escuto o som da companhia preencher todo o apartamento e respiro fundo. Olho para o relógio que marca 11:55AM, levanto ao escutar o som se repetir, sei que é o Murilo, combinamos de almoçar juntos, ele está com uns planos sobre me tirar do "luto" pós-relacionamento. Mesmo eu garantindo que está tudo bem, já faz um ano, sei cuidar de mim mesma e que tenho trabalho para fazer. Dizem que brasileiros são pessoas que nunca desistem do que querem e ele não vai desistir. Suspiro ao perceber que minha parte brasileira está adormecida.

Saio do escritório e sigo em direção a porta de entrada, ao abrir, vejo o homem alto, pele bronzeada, corpo definido em seu terno sob medida, seus lábios rosados e carnudos estão formando um sorriso, sua barba preenchida e bem feita torna sua beleza ainda mais nítida.

- Não acredito que você ainda está de pijama essa hora, Kalimann! - reviro os olhos e fecho a porta quando ele entra, o cheiro maravilhoso da comida que ele trouxe me fez perceber que ainda não me alimentei. Sigo ele até a cozinha e o vejo organizar a comida para nos servir.

- Fala em inglês, Murilo. Você sabe que meu português não é tão bom. Eu acordei tarde e fui avaliar umas propostas de investimento. - falo enquanto o ajudo a colocar a mesa, percebo que é comida brasileira e sorrio, ele sabe o quanto amo feijoada. Ele vai até a geladeira e pega duas latas de coca.

- Ao invés de dormir tarde assistindo suas séries asiáticas sem graça, por que não vai estudar português? Sua mãe amaria ver o seu interesse sobre a sua outra nacionalidade. - ele fala enquanto se senta na cadeira a minha frente. Vejo seus olhos passearem pelo meu corpo e o seu lábio se curvar minimamente para cima.

- Não ouse falar das minhas séries, é assunto proibido para você. - levanto a sobrancelha direita e cruzo os braços. No início da minha separação, descobri uma paixão por séries asiáticas e nas noites em que o Murilo passou comigo em casa, assistiu algumas vezes. Ele se irritava com o fato de não compreender uma palavra e eles serem expressivos demais, além de "tudo ser voltado para o clichê". Vejo ele dar outro sorriso.

- Tudo bem, vamos comer, aposto que você não comeu nada hoje. - maneio a cabeça em concordância e ele respira fundo.

Enquanto comíamos, ele conta como está sendo o trabalho e o quanto escuta sobre estar na profissão errada por ter o corpo todo tatuado. Não há tanto espaço em sua pele que esteja limpa. Sempre há uma tatuagem. De várias formas, tamanhos, seja ela desenhos ou frases. Mas confesso que esse é o que faz ele ser tão incrível.

Conheci o Murilo em uma das viagens com a família de férias ao Brasil. Minha mãe como mulher brasileira, fazia questão de sempre me levar para conhecer um pouco do seu país. Foi em uma dessas viagens quando tinha 18 anos, no ano novo, que o conheci através dos meus primos, ele foi gentil e super amigável, me apresentou aos amigos e era o único que sabia falar inglês. Sua mãe era a melhor amiga de infância da minha.

Uma vez, estávamos conversando e ele disse que tinha o sonho de estudar fora do país, ser um bom advogado e ajudar sua mãe a abrir uma escola de confeitaria, ele era o homem da família desde quando seu pai morreu quando ele tinha 16 anos. Meu pai soube da história e decidiu investir no Murilo e hoje ele está aqui. Um dos melhores advogados que conheço, fez o seu nome e não são tatuagens que irão definir se ele é ou não um bom profissional. Meu pai sabia que ele tinha habilidade.

Habilidade. Meu pai investiu na sua habilidade. Isso me feliz lembrar da proposta que achei intrigante mais cedo.

- Kali, você vai, não é?! - volto a atenção para o meu amigo, ele percebe que eu não escutei o que ele perguntou. Ele levanta e leva nossos pratos vazios para a pia, retira seu paletó, levanta as mangas da blusa social azul que está usando e começa a lavar a pouca louça que sujamos.

- Onde? - pergunto ao avaliar as tatuagens do braço e sorrio com algumas lembranças que preenchem minha mente, uma delas é os braços dele envolta da minha cintura.

- Ao bar, aquele que conhecemos o Paul. Ele está na cidade e quer nos ver, vamos, vai ser bom para você. - ele seca as mãos e vem ao meu encontro. Me aproximo dele e coloco as mãos no seu peito.

- Só se você dormir aqui, está noite. - sorrio e dou uma piscadela. Ele segura minha cintura e aperta um pouco.

- Como desejar, Kali. Não será esforço nenhum passar a noite aqui. - um sorriso sacana surge e ele se abaixa um pouco até que eu sinta seus lábios nos meus.

Oi, tudo bem? Estou tentando escrever algo e espero que gostem. Deixem nos comentários o que estão achando. Conto com vocês!! 🥀💖

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