2. Esbarrão

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O beijo é lento, suas mãos não passeiam pelo meu corpo, não há indícios de que vamos adiante, não há promessas que não serão cumpridas, não há romantismo, é apenas um beijo lento, com cuidado. Ele finaliza o beijo sorrindo e acaricia meu rosto, vejo seus olhos mais uma vez percorrer o meu corpo.

- Só vai olhar? - perguntei, quando ele se afasta e começa a arrumar as mangas de sua camisa social, vejo as tatuagens sendo cobertas novamente, restando apenas algumas na mão esquerda. Eu amo observar os desenhos que preenchem seu corpo.

- Sim, Kali. Estou no horário de almoço, vim fazer compainha a você e aproveitei para ver como estava, pelo visto, está ótima, já que está pensando em sexo. - ele conclui a fala quando coloca o paletó, seu celular toca, ele ignora a ligação e se volta para mim. - Eu quero que você vá tomar um banho e saia um pouco desse apartamento. Eu não aguento mais ver você infurnada naquele escritório com inúmeros papéis espalhados sobre a mesa. Precisa enfrentar isso de uma vez e entender que o Steve é um idiota e você merece mais. - ele olha para mim e faz um gesto para que eu me cale quando eu faço menção de falar. - Não vamos mais transar, somos amigos, eu quero cuidar de você. Eu não me importo em ser usado para amenizar sua dor momentânea, mas isso não vai curar, mas eu posso ajudar você. Se desprenda dessa dor, Kali. Deixe as lembranças irem de uma vez, não é a porra de um clichê quando eu falo que você merece mais, você merece!

Ele se recompõe ao perceber que se alterou um pouco, eu o vejo sair da cozinha e o acompanho. O silêncio se torna barulhento quando eu concluo que ele tem razão, eu preciso mesmo parar de imaginar como teria sido ou se ele realmente me amou em algum momento.

Não é o sexo que vai curar a ferida, eu mesma tenho que acordar do conto de fadas que acabou virando pesadelo. Murilo para antes de abrir a porta e olha para mim.

- Vamos sair hoje a noite, encontrar o Paul e beber um pouco. Pego você às 20h. Tudo bem?

- Sim, é, eu.. Obrigada.. hum.. Eu sei que tenho sido um pé no saco ultimamente, mas acredite, eu estou bem. Obrigada por ser incrível e estar comigo. - ele sorri e me abraça, seu celular toca novamente e ele se afasta.

- Te vejo depois, Kalimann Castro Davis.

Após a saída do Murilo, sigo para o escritório, decido terminar de ler algumas propostas e contratos. Separo a proposta de investimento que me chamou a atenção mais cedo. Às vezes, a habilidade de alguém vale mais que muitas empresas. Depois de muitas leituras e marcações que possívelmente seria um bom negócio, olho para o relogio e vejo que são 16:33PM.

Penso na conversa que tive com o meu amigo mais cedo e decido correr um pouco. Vou em direção ao quarto e coloco uma calça de ginástica preta e um top do mesmo tom, arrumo meu cabelo em um coque, pego meu iPod, os fones, às chaves e saio de casa. Já na entrada do prédio, decido ir em direção do parque mais próximo.

Começo a correr quando a música "Why" do Bazzi começa a preencher o silêncio mais barulhento que estive nos últimos 12 meses. Por ironia do destino ou o que seja que esteja controlando minha vida, a letra fala justamente de uma garota que ama um cara que não a ama.

Os questionamentos da música me fazem questionar os motivos de ter me levado a amar o Steve, será que era o seu físico? Ou sua voz? Será que era como meu nome saia de sua boca? Ou como ele costumava me acordar? Será que era seu olhar repleto de falsas promessas? Ou foi o sexo?

Enquanto questiono e tento descobrir o real motivo de ter amado o Steve, escuto um trovão alto o bastante para abafar a música em meus ouvidos, olho para o alto e vejo que o tempo fechou em questão de minutos. Abaixo o olhar e analiso o parque a minha frente, preciso encontrar um lugar para me abrigar caso a chuva decida cair.

Volto a atenção para a música que está tocando, escuto a voz da Camila Cabello e por coincidência, a sua música também trazia questionamentos.

"Por quê me deixou aqui para queimar?", "Você se importa?", "Por quê você não se importa?", "Quem você pensa que é?", "Por quê tentaria me enganar?",  "Por quê você não foi quem você jurou que seria?", enquanto essas perguntas penetram em minha cabeça e procuram respostas, sinto as gotas da chuva em minha pele, minhas panturrilhas estão queimando com a velocidade da corrida, meus olhos estão lacrimejados, tento conter as lágrimas, a música parece penetrar nas minhas veias, sinto a pele esquentar apesar da chuva me molhar.

Fecho os olhos para conter as lágrimas, quando sinto meu corpo chocar com alguém, sinto os braços me segurando e me puxando para cima, evitando que meu corpo bata no chão e o seu corpo caia por cima. Abro os olhos e vejo um homem forte e penso que se eu estive embaixo, estaria esmagada.

Seu rosto é preenchido por uma barba bem feita, dando destaque ao bigode, que se fosse em qualquer outro, seria ridículo, mas isso faz ele parecer mais bonito, seus olhos são castanhos, assim como os cabelos. Vejo ele analisar o meu rosto, sinto suas mãos apertarem meus braços quando ele me empurra de cima dele.

- Pensei que correr exigisse manter os olhos abertos, isso evitaria acidentes como esses. - sua voz era rouca, mas era firme e tinha um tom grave.

Sua atitude rude me fez levantar rapidamente, percebo que há um casal perto dele que o ajudam a levantar, o olhar do desconhecido permanece em mim. Sinto meu corpo esquentar mais uma vez e controlo minha vontade de arrancar as orelhas desse homem.

- Desculpa, meu irmão é um idiota e não tem modos de falar. - a mulher ao seu lado fala.

Me mantenho em silêncio enquanto três pares de olhos estão em mim, a chuva continua caindo, eu sou a única que está se molhando, já que não pensei em sair correndo com um guarda-chuva na mão. Onde diabos eu saberia que o tempo fecharia dessa forma? Como essas pessoas sabem? Acho que fiquei tempo demais naquele escritório e não percebi que estava nublado, estava tão focada em correr e parar de pensar nos últimos quatro anos.

- Tudo bem, agora eu acredito quando dizem que nem todos  aprendem a serem educados. - falo enquanto olho nos olhos do desconhecido que esbarrei. Seu rosto se fecha ainda mais e pude ver a raiva em seus olhos. Sorri ao saber que o atingi.

- E olha que não foi por falta de tentativas. - a mulher volta repetir. Olho para ela novamente e sorrio. Vejo os dois homens conversarem algo entre si e o "sem educação" dar as costas e se afastar, a mulher conhecida por mim como sua irmã olha para ele e revira os olhos. Decido encerrar essa conversa embaraçosa, preciso voltar para casa.

- Peço desculpas, aliás, eu que esbarrei sem querer no seu irmão. - ela sorri e assente, o homem ao seu lado também sorri e eles se afastam.

Respiro fundo, coloco os fones no ouvido, mudo a playlist e decido colocar as músicas do Alok, não quero mais correr o risco de pensar demais nas letras das musicas e esbarrar em mais alguém. Volto a correr para casa com o desconhecido "sem educação" na mente e mais um questionamento: Por quê essas coisas só acontecem comigo?

Oi, tudo bem? Espero que sim! Me digam, estão gostando??? ❤🦋

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