- Ei, 'cê atendeu. Boa noite.
- Oi...
- Então... esse aparelho é de uma amiga.
- Ah, okay...
- 'Cê poderia devolver? Pagamos...
- Nada. Quê isso...
- Ah, beleza
- Como posso devolver?
- Agora?
- Pode ser... Onde?
- A gente 'tá num café
E foi assim que Gizelly acabou dirigindo para a zona sul naquele final de tarde. A dona do celular demorou algumas horas, mas a ligou. Como já não tinha muito o que fazer no escritório, decidiu resolver logo aquele assunto. Não sabia a quem pertencia, não exatamente - a loira do restaurante era uma opção.
Desde aquele instante, se pegava pensando na mulher e o aparelho vibrando a todo momento ajudava a sua memória. Uma pessoa requisitada, pelo visto. Começou a criar uma idealização: ativa nas redes sociais? sociality patricinha? faz uns vídeos? Só tinha certeza de uma coisa: a moça gostava de mar. Sua tela inicial denunciava. "It comes and goes and waves" era a frase a frente da imagem. "Vem e vai como ondas". Precisou usar o tradutor, mas descobriu.
Era genérico e, tudo que tinha.
Chegando na rua, estacionou o carro, pegou a bolsa e caminhou até a cafeteria. Era um local aconchegante e com o delicioso aroma de sítio de avó, de cafezal. Não estava muito cheio. Tinha um grupo em uma mesa central, algumas pessoas solitárias em seus notebooks e, num canto, uma loira olhando pela janela. A loira. Ela ainda usava o mesmo visual do restaurante, mas tinha óculos escuros agora.
Gizelly se aproximou da mesa tirando o celular da bolsa. Percebeu que o local parecia ter mais ocupantes. Duas cadeiras estavam ocupadas por bolsas. "Oi?" mostrou o aparelho para a moça, que levantou o olhar. "Esqueceu algo?" sorriu
A mulher correspondeu "Suspeitava que tinha sido com você." Acenou para que a advogada sentasse. "Obrigada por trazê-lo."
"Que nada...Não vou te manter longe dele. Aqui" aproximou o dispositivo da mais alta. As mãos se tocaram brevemente antes de loira segurar e desbloquear o celular.
"Obrigada." falou sem tirar a atenção da tela
"É a segunda vez que você me diz isso hoje."
Isso pareceu despertar um pouco o seu interesse "Hm?" questionou
"No restaurante" Gizelly lembra ao mesmo tempo que tenta puxar assunto. Estava indo mal. Muito mal.
"Ah, claro" estava escrito no rosto que ela não lembrava e seu olhar voltou novamente para o celular.
Como aquela interação não parecia se estender, a advogada preferiu não forçar. Tinha certeza que havia sido a única marcada, a que relembrava até o zunido do choro e a visão dos olhos marejados. Não sabia porque aquilo a deixava desapontada, mas deixava.
"'Tá entregue, então." começou a levantar-se. A loira não respondeu. Definitivamente, desapontada.
"Ei!" uma morena mais baixa se aproximou da mesa. Gizelly olhou-a incerta, estava falando com ela? "Você... foi com você que eu falei, ne?"
A advogada fez menção para si "Comigo?"
"Sim, no celular, pelo celular" Ah, aquela era a amiga.
"Foi sim. 'Tá ai com ela. " apontou para a loira.
"Você já tá indo?" aquilo fez a loira olhar para cima
VOCÊ ESTÁ LENDO
Restrita
FanfictionPaixão e Razão. Controle e Descontrole. Opostos e complementares. Quando uma advogada criminalista conhece as lágrimas de uma influencer, sem perceber, ela decide que não quer mais vê-la chorar. Ou quando o controle parece escapar das mãos de Rafa...