Última parada

O 1007

Seria mais um dia normal na vida de Kongpop se não fosse pelo fato de um completo desconhecido puxar conversa com ele na parada de ônibus, o moreno, até então distraído e preocupado com a demora do seu ônibus, ficou um pouco surpreso, pois não esperava que alguém fosse lhe dirigir a palavra ali, no meio do ponto.

— Está demorando não é? — O garoto falou para Kong, o qual ficou absorto, tentando ter certeza de que era consigo que o estranho falava — Você vai pegar o 1007 certo?

— Sim, como você sabe? — Não sabia qual era a intenção do garoto, mas já começava a ficar um pouco desconfiado e tinha seus motivos para isso.

— Bem, já passou todas as linhas e nós somos os únicos que permanecemos aqui, então só resta ele — Foi nesse instante que o moreno olhou ao redor e percebeu que, de fato, só estavam os dois ali no ponto de ônibus, não tinha percebido nada, pois estava distraído tentando avistar de longe a menor sinal possível da chegada do seu ônibus, mesmo que fosse um letreiro luminoso borrado por conta do seu problema de vista.

— Você também está indo para a universidade de Bangkok? — Nesse instante olhou o estranho de cima a baixo, ele usava uma calça jeans junto com uma camisa preta, além de ter uma mochila nas costas.

— Não... — Antes que o garoto pudesse falar mais alguma coisa, foi interrompido pela chegada do 1007, o ônibus que os dois tanto esperavam. Quando o veículo parou, o até então estranho deixou que Kongpop subisse primeiro.

Era uma experiência estranha, pensava o moreno, pois dificilmente alguém puxava assunto consigo no meio da rua, principalmente na parada de ônibus, geralmente eram senhoras reclamando da demora do transporte, ou alguém pedindo informação. Contudo, ao passar a catraca e sentar-se, teve alguns segundos para apreciar o garoto novamente, dessa vez reparou em seu rosto, ele tinha uma pele branca, o cabelo totalmente preto, cortado simetricamente e na frente pequenos fios que se soltavam dos outros, como se tivessem sidos picotados, seus olhos pareciam duas pequenas bolas de vidro, carregadas de mistérios, prontos para serem desvendados. O moreno sentiu-se envergonhado quando o par de olhos chamativos se dirigiram até si e os olhares se encontraram, rapidamente desviou a atenção para a janela, como quem fingia que não estava encarando.

— Kongpop seu idiota — Sibilou para si mesmo, se repreendendo mentalmente.

Apenas observou de soslaio enquanto o garoto parou ao seu lado, pensando onde se sentaria, tinha um lugar vazio ao lado de Kong, e o melhor, era o assento da janela, mesmo que nunca fosse admitir aquilo, o moreno deixou aquele assento vago de propósito, contudo, também tinham vários outros lugares vagos, pois o ônibus não estava cheio. Seu coração batia aceleradamente enquanto o garoto não se decidia, esperava pelo momento que o rapaz fosse lhe pedir licença para ir até o assento ao seu lado, porém se decepcionou ao ver ele sentando-se em outra poltrona, apesar de ser ao seu lado, era do lado direito do ônibus.

[...]

A parada da universidade já estava chegando e com isso, Kongpop começava a se preocupar, tudo isso pois o garoto ao seu lado tinha lhe deixado intrigado com a repentina conversa puxada no ponto de ônibus. A verdade era que queria saber o seu nome, talvez pedir o seu telefone, pois no seu âmago ansiava para que pudesse chamá-lo para sair qualquer dia, fazer um programa a dois, olhar no fundo daqueles olhos eletrizantes e no fim, tocar os lábios dele, parecia loucura, afinal de contas, mal trocou algumas palavras com o garoto, até então ele era um completo estranho, e se ele fosse um psicopata? Bem, tudo isso foi deixado de lado, pois o moreno pensava que não era possível nada disso, afinal de contas, se o garoto fosse lhe fazer algum mal, tentaria ganhar a sua confiança conversando consigo no ônibus e não o ignorando o trajeto inteiro.