15 de março de 2012
Estou amando aprender a tocar violão, mas tem uns acordes que acho que nunca vou conseguir fazer.
_Ana, minha filha... - Meu pai me interrompeu, sorrindo ao ver minha frustração. - O violão não é pra chorar, é pra cantar. Vem cá, deixa eu te mostrar como fazer.
Passei algumas horas tentando melhorar, guiada pelas mãos experientes do "Senhor Tiago, o especialista em violões", como ele mesmo gosta de se chamar. E sabe o que é pior? Não dá nem pra discordar. Meu pai realmente é muito bom. Foi ele que insistiu para que eu aprendesse, e até me deu o violão de presente no meu último aniversário. Acho que, no fundo, ele queria dividir isso comigo. Um pedaço dele, da vida dele, que eu pudesse levar adiante.
Quando minha mãe chegou em casa, meu pai correu para abraçá-la, rindo de algo que só eles entendiam. Observá-los era como espiar um segredo. Eles têm essa conexão que parece mágica, como se fossem feitos um para o outro. Será que um dia eu vou viver algo assim?
A história deles parece tirada de um livro. Conheceram-se na igreja que frequentamos até hoje. Ela tinha dezesseis anos, ele, dezoito. Foi amor à primeira vista, mas não ficaram juntos logo de cara. Conversaram por meses, até que meu pai foi para a faculdade e eles mantiveram contato por cartas e telefonemas. Anos se passaram, e quando ele voltou, já médico formado, mamãe lecionava para crianças. Finalmente, puderam viver o romance que tinham sonhado.
E desse romance resultou eu, uma adolescente comum, com os olhos castanhos claros do meu pai e os cabelos ondulados e claros da minha mãe.
_ Filha, estou indo ao mercado. Tem certeza que não quer vir? - Meu pai me perguntou, ainda com aquele brilho nos olhos.
_ Tô ocupada, pai. Me traz um sorvete na volta?
_ Ok, ok, mas vê se arruma esse cabelo, tá parecendo um girassol. - disse ele, rindo enquanto saía pela porta, tentando escapar dos meus resmungos.
Girassol. Era nossa piada interna. Desde que participei de uma peça na igreja vestida como um, eles não paravam de brincar com meu cabelo bagunçado.
Assim que meu pai saiu, minha mãe entrou na sala, carregando consigo aquela expressão que eu conhecia bem — um misto de seriedade e ternura, como se estivesse prestes a ter uma conversa que exigisse todo o meu foco.
_ Ana...- Ela começou, sua voz suave, mas firme. Seus olhos fixos em mim tinham uma espécie de brilho que só aparecia quando ela estava realmente determinada. - Já que somos só nós duas agora, que tal um papo de mulheres?
Eu ergui as sobrancelhas, esboçando um sorriso travesso. Papo de mulheres? Ela raramente usava essa expressão. Eu sabia que algo sério estava por vir, mas não resisti à oportunidade de provocar.
_Vamos falar de garotos? - Respondi, minha voz carregada de um tom brincalhão, esperando vê-la enrugar a testa em reprovação.
_ Ana Coutinho Diaz - ela disse, com a voz firme, mas o rosto suavizado por um sorriso contido que não chegou a seus olhos. - Nada de rapazes antes dos dezoito, mocinha! - Ela fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar. - Na verdade, queria falar sobre algo muito importante. O teu batismo.
Meus ombros caíram levemente, e a provocação anterior foi substituída por um suspiro de resignação. Eu sabia que esse assunto viria à tona mais cedo ou mais tarde, mas não esperava que fosse hoje. A expressão dela mudara, ficando mais séria, e por um momento, eu senti o peso da expectativa que ela e meu pai colocavam sobre mim.
_ Você já tem quatorze anos e está na igreja desde que nasceu... - ela disse, como se estivesse apresentando um fato indiscutível. - Acho que é hora de pensar nisso.
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My First Love
RomanceTempos difíceis podem transformar até os corações mais amáveis. A perda súbita de seu pai mudou Ana, deixando para trás a garota doce que todos conheciam. Agora, ela luta contra a dor e a solidão em uma cidade onde o frio parece refletir o vazio que...