Capítulo Único

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História escrita originalmente em 2017 para o projeto Zine do grupo SBLAN no Facebook. O tema foi lírica e eu fui sorteada com o poema Duas Flores de Castro Alves, que serviu de base para o texto. Propositalmente sem falas.

As cerejeiras estavam em flor quando Yamaguchi Tadashi se encontrou com Tsukishima Kei pela primeira vez. Ele tinha dez anos, e o outro garoto - que Tadashi não conseguiu ver direito devido aos olhos marejados de lágrimas - o defendeu dos bullies que o jogaram no chão de areia perto da saída da escola.

O tom de sua risada sarcástica tocou-lhe o peito, e Yamaguchi desejou um dia poder enfrentar as injustiças de frente, com um sorriso no rosto, assim como aquele menino. Desejou poder agradecê-lo no mesmo dia, mas quando terminou de tirar a areia de suas roupas, seu salvador já tinha ido embora.

Ainda assim, era impossível esquecer não apenas as poucas palavras ditas, como também o perfume das flores que preencheu seu peito após ele ter parado de chorar e assoado o nariz.

Tadashi o encontrou novamente poucos dias depois, enquanto ponderava se deveria ou não entrar para o clube de vôlei da escola. O garoto passou ao seu lado ao entrar na quadra, e ele conseguiu ter coragem suficiente para chamá-lo.

Quando se virou, Tadashi teve certeza de que nunca encontraria alguém mais belo que ele em toda a face da Terra, ou então em todo o universo: Tsukishima Kei era alto para a idade, e Tadashi precisava erguer a cabeça para poder manter uma conversa de igual para igual. Seu cabelo era loiro e curto, com as pontas onduladas, e os olhos pequenos que se escondiam atrás dos óculos eram igualmente dourados. Sua postura era elegante, sua voz era suave, e mesmo a maneira com ele o encarava - com curiosidade inocente e interesse - encantava Yamaguchi.

Kei era o seu total oposto, e Tadashi ficou surpreso por ter despertado a atenção do outro garoto. Ele nunca viu nada de especial em seu corpo pequeno e magro, coberto de sardas, em seus olhos castanhos que marejavam fácil, ou em seu cabelo escuro e bagunçado, difícil de ser domado. Ele não se achava especial, não andava e falava como um pequeno príncipe abençoado com a beleza da lua cheia.

No entanto, talvez por conta de todos esses contrastes, Kei continuou a conversar com ele todos os dias e o encorajou a entrar no clube de vôlei para que pudessem frequentá-lo juntos, e o relacionamento que antes era de meros conhecidos passou a ser uma amizade.

Tanto Tadashi quanto Kei não souberam naquela época - eles ainda eram crianças -, mas as semente da amizade que eles dois plantaram em seus corações estava destinada a crescer e desabrochar de uma maneira surpreendente.

Na primavera do primeiro ano do ensino médio, Tsukishima Kei entendeu isso. Tadashi estava começando a agir de uma maneira um tanto diferente perto dele - estava mais atencioso e também um tanto sem graça algumas vezes -, e Kei, a princípio, deixou isso passar; no entanto, com o passar do tempo, ele passou a perceber mais detalhes sobre o outro garoto.

Tadashi gostava de coroas de flores, de animais, e de estrelas. Seu cabelo sempre estava com duas pequenas mechas para cima, e seus olhos brilhavam quando era sua vez de sacar durante um jogo. Ele não tinha talento natural para o vôlei, mas era determinado de uma maneira que Tsukishima achava invejável. Quando corava - coisa que acontecia com cada vez mais frequência - suas bochechas sardentas ficavam vermelhas, e ele parecia um morango.

O rapaz era doce como uma noite estrelada, tendo constelações na sua pele. Toda vez que eles se olhavam, Kei não podia deixar de se sentir feliz - e seu peito se aquecia, seu coração pulava, ele começava a falar mais alto. Tadashi buscava sua atenção de maneiras diferentes: chamando-o pelo apelido carinhoso - Tsukki -, pedindo para ouvir música com seus fones brancos, elogiando suas habilidades no vôlei enquanto fazia questão de sempre oferecer uma toalha ou uma garrafa d'água.

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