HOME (1 - All My Demons Greeting Me As a Friend)

Sonhos

   Estou em uma floresta. É noite, a lua brilha iluminando tudo ao meu redor com sua luz prateada. Eu estou correndo. Por que eu estou correndo? Há alguém atrás de mim? Por que não consigo lembrar?

   Acima de mim pende um grande relógio. Seu tique taque invade meus ouvidos. Vozes se misturam a ele. Gritos. Pessoas chorando. Milhões de pessoas gritando e chorando. É ensurdecedor.

   Lobos correm ao meu lado agora. Será que é deles que estou fugindo? Não parece que vão atacar. Começa a chover, mas não parece uma chuva normal, percebo isso quando escorre por meu corpo, é mais denso... e vermelho... sangue. Está chovendo sangue.

   Agora estou em uma sala branca. Tem uma arma apontada para minha cabeça. A pessoa que a segura tem um rosto muito familiar. Ela está chorando. Por que? Ela move os lábios. Não consigo ouvir. Então ela aperta o gatilho. Ao invés do barulho do disparo de um projétil, ouço novamente aqueles milhões de vozes gritando. Minha cabeça é jogada para trás. Fluído vermelho jorrando no branco infinito. Em uma fração de segundo percebo que a chuva de sangue havia saído de mim.

   Acordo sobressaltada. Estou sentada na cama, suando, com a respiração ofegante.

   Mais uma noite normal.

   Mais uma vez o mesmo sonho, ou uma nova versão dele.

   Mas eu gosto dos sonhos, gosto de sonhar. É como se quando dormimos, acordamos em outra vida, e quando acordamos, vamos dormir na outra. Isso é uma das coisas que faz eu me sentir viva.

   Viva, estou viva, eu aprecio isso, aprecio todas as coisas que a vida me trás, aprecio a vida por si só, ela é linda, mas não significa que está tudo bem, não aqui dentro, e nem lá fora. O mundo está um caos, as pessoas ignoram isso o tempo todo e só pioram a situação dele, não respeitam a terra sobre a qual constroem suas casas e vivem suas vidas. Aqui dentro também está um caos, há demônios e escuridão com os quais eu tento fazer as pazes todos os dias, mas eles não me deixam, não me deixam pensar ou me fazem pensar demais, eles gritam, talvez não sejam eles, mas há gritos e vozes na minha mente o tempo todo. Eles querem me levar para algum lugar, querem que eu atravesse junto deles, dizem que querem me levar para casa.

   Eu não quero ir para casa.

   Ainda não.