Capítulo Único

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Para Morty, nada era melhor que uma noite no clube noturno em que trabalhava. Pessoas bebendo, rindo alto enquanto conversavam, e outras apenas entretidas assistindo as dançarinas e dançarinos de pole dance. Morty gostava disso tudo, principalmente por ser o centro das atenções quando dançava, fazendo sua apresentação favorita e mais pedida: O pirulito. 
 
Mas mesmo que gostasse de ser visto por tantos homens e mulheres, seu público favorito era apenas uma pessoa, seu objeto de afeição, de adoração, a pessoa que havia lhe apresentado aquele mundo: Rick Sanchez. 
 
— Como me sai hoje? — Morty perguntou, sentando-se ao lado do homem de cabelos azuis no sofá vermelho.

— Bom, como de costume. — Disse, sem muito interesse. Mas Morty já estava acostumado com aquele tom de voz. 
 
O homem se levantou para pegar mais um drink, Morty se levantou também e ficou na frente do mais velho. 

— O que você acha desse movimento? — Morty pegou no pescoço de Rick e se pendurou em sua cintura, colocando suas pernas ao redor do corpo do homem, que acabou caindo no chão com o ato repentino. — Você costumava me aguentar quando eu era menor. 

— Hm. — Rick se livrou dos braços do rapaz, cuja pele era morena por conta do bronzeado, e se levantou indo em direção ao bar que não estava tão longe.
 
Rick estava mais estranho que o normal naquela noite. Era normal que não tivesse reação com os flertes e investidas de Morty, mas naquela noite ele sentia que algo não estava certo. Talvez estivesse imaginando coisas, mas quem saberia? Rick era mesmo um mistério. 
 
 
Decidiu não se preocupar tanto com o que, supostamente, estava acontecendo e foi para seu apartamento, onde morava com Rick. Já era quatro da manhã, e seu espetáculo havia acabado, podia dormir à vontade. 
 
Quando acordou, se surpreendeu. Rick estava ali, sentado perto do criado mudo, lhe observando. 
 
— Algum problema? — Morty coçou os olhos para se despertar melhor. 

— Não, nenhum. — Rick saiu do quarto sem dizer mais nada, deixando um Morty confuso para trás. 
 
Deu de ombros e foi tomar um banho, ainda estava suado da madrugada. 
 
Saiu do banheiro e foi até seu armário, optou por um vestido amarelo, sapatilhas da mesma cor. Olhou-se no espelho; estava radiante, como sempre. 
 
Morty lembrava-se bem de como era antes de Rick chegar em sua vida: sua auto estima era baixa e sua vida não era das melhores, se sentia um fracasso total todos os dias por causa da escola, e as brigas dos seus pais lhe causavam ansiedade.
 
Como não tinha mais nada para fazer, colocou o protetor solar e resolveu sair para espairecer. Foi para seu lugar favorito, a praia. Gostava de sentir a brisa bater em seus cabelos longos e gostava de sentir o sol na pele. Desde que havia escolhido ficar com Rick e abandonar sua família, se sentia maravilhoso. 
 
Parou de pensar em Rick por um momento quando viu uma figura familiar na sua frente, era um Morty, com camisa amarela e tudo mais. Parecia perdido, o que preocupou nosso Morty. 
 
— Você está perdido? — Morty, nosso Morty, perguntou. 

— E-Estou. — O pobre garoto parecia assustado. 

— Eu também sou um Morty, não se preocupe. Onde está seu Rick? — Olhou ao redor, procurando um homem de cabelos azuis. 

— Eu o perdi de vista. 

— Posso procurar ele com você, se quiser. — Morty se ofereceu, sorrindo. 
 
Os dois garotos começaram a busca, que durou uma hora. Quando Morty, o outro Morty, já estava perdendo as esperanças, uma figura de jaleco branco correu até eles.
 
— Morty, aqui está você! — O Rick sorriu ao ver seu parceiro de aventuras. 

— Ri-Rick! — O garoto de camisa amarela abraçou o seu Rick. — Obrigado por me ajudar, Morty. 

— Você é um Morty? — Rick olhou Morty dos pés à cabeça. — Obrigado por ajudar meu Morty. Posso te recompensar de alguma forma?

— Não, imagina! Foi um prazer ajudar outro Morty. — Sorriu.

— Ora, vamos. Apenas um sorvete. — Rick pegou o de pele morena pela mão. 

— Não precisa, é sério.
 
Morty já estava se dando por vencido e indo com o Rick, afinal, um sorvete não machucaria ninguém, certo? Além do mais, fazia tempo que não saía com um Rick para tomar sorvete. Mas todo aquele momento, que estava divertido, na visão de Morty, fora estragado com a chegada de Rick, nosso Rick. 
 
— O que pensa que está fazendo com MEU Morty? 

— Estou apenas indo recompensá-lo por ter achado meu Morty. 

— Eu sei a recompensa que você está indo dar a ele. Vamos, andando. — Rick pegou no braço de Morty e o levou para casa dentro do conversível vermelho.
 
Nenhum dos Morty entendeu aquela atitude. Mas nosso Morty havia gostado da ação, que na sua visão, era bem possessiva. 
 
 
— Que atitude foi aquela? — Morty perguntou, entrando no apartamento. 

— O que foi? Queria receber a "recompensa" daquele cara? 

— Como se você se importasse com quem me dá "recompensas", não é mesmo? — Morty sorriu sarcástico. Estava gostando daquela pequena discussão, aquilo mostrava que Rick não gostava de outros Ricks pegando em seu corpo. 
 
Rick deu as costas para Morty e foi para a cozinha, provavelmente preparar um drink para si. Morty sorriu, se dirigindo até seu quarto e pegou seu notebook, estava feliz demais naquele momento. Decidiu assistir alguma coisa para passar o tempo, enquanto esperava o horário do clube. 
 
 
Quando bateu onze da noite, Morty decidiu tomar um banho. Saiu do banheiro e foi até o seu armário, tendo uma surpresa nada agradável. Todas as suas roupas haviam sumido! Tudo que estava ali eram as roupas de um Morty comum, a camisa amarela e as calças jeans azuis. 
 
— Mas que merda é essa, Rick? — Saiu do quarto, ainda de toalha, com as roupas nas mãos. — Cadê minhas roupas? Que porra velha é essa? 

— Vamos voltar pra casa dos seus pais. — Rick saiu da cozinha com um copo na mão. 

— O que?! 

— E você vai voltar para a escola.

— Você está brincando comigo, não é? — Morty pôs as mãos na cintura. — Foi você que me fez sair de casa! Foi você que me fez ser quem eu sou agora! E você me vem com essa? Depois desse tempo todo? Vá se foder, Rick!

— Você me ouviu, vamos voltar para casa. Fim de papo.
 
Morty estava incrédulo. Aquilo estava mesmo acontecendo? Aquilo só podia ser uma piada de mal gosto. Morty se lembrava bem de quando Rick voltou para a vida de Beth e chegou na sua. Foi Rick que incentivou Morty a crescer o cabelo, a colocar um piercing no umbigo, a dançar e a fazer a tatuagem em seu traseiro com a letra "R". E agora Rick queria que tudo voltasse ao normal? Inacreditável!
Rick abriu o portal para a casa de sua filha, Beth, que lhe aceitou de braços abertos. O mais velho não surportava Jerry, mas queria que Morty voltasse a ser um garoto normal. 
 
— Olá, filho! — Jerry abriu os braços para receber Morty. 
 
— Sai da minha frente, porcaria desempregada. — O garoto se esquivou dos braços do pai. 
 
O sorriso de Jerry deu lugar a uma expressão tristonha, o homem não entendia o porquê de seu filho o tratar daquele jeito. Rick riu da cena, nada como ver um Jerry se foder. O mais velho entendia a atitude de Morty, o garoto havia feito mais dinheiro dançando do que Jerry conseguia fazer trabalhando. Mas não era apenas por isso que Morty tratou Jerry daquela forma, ele estava irritado com o que Rick estava fazendo.
 
O de pele morena não entendia o porquê de Rick estar fazendo aquilo. Era muito sem sentido, além de ser irritante.
 
A primeira semana naquela nova vida velha passou bem devagar para Morty. Era um tédio total. O que seria dele sem sua dança? O que seria dele sem o clube?
Mas o que podia fazer além de aceitar o que Rick estava fazendo? Tudo que queria era deixar Rick feliz. Tudo que ele queria era que Rick o amasse.

Só quero ver ele felizOnde histórias criam vida. Descubra agora