Capítulo I

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Mais uma noite comum em minha patética e maluca vida.

Meu pés mal tocavam o chão de tão rápido que eles corriam. Meu coração batia tão rápido que parecia que ia explodir em meu peito a qualquer instante. O sangue pulsando quente também é rápido ao passar pelas minhas veias.

E por mais que eu esteja sendo perseguida por muitos inimigos que me querem morta nesta cidade, tudo o que eu faço é rir alto e estérico, claramente como um “foda-se” para todos eles.

Eu sei que corro um risco mortal. Qualquer passo errado ou tropeço pode ser meu fim, no entanto eu não consigo deixar de me sentir bem. Viva. Eu me sinto viva.

Seguro meu bastão, cujo em sua madeira está gravado “boa noite”, em meu ombro enquanto minhas pernas não param de se mover o mais rápido que elas podem.

Mais um riso escapa pela minha boca quando eu acerto em cheio o queixo do capanga babaca que ousou se colocar a minha frente. Agora ele está no chão com o rosto inchado e sangue sai pela sua boca.

Não tenho tempo de curtir o seu sofrimento, pois outro também apareceu ao meu lado com um punhal brilhante nas mãos.

Ele golpeia o ar tentando meu acertar e eu me esquivo para trás me desviando de todas investidas.

Armo meu bastão, pronto para acertá-lo quando sinto a lâmina da sua arma acariciar o tecido da minha blusa, rasgando profundamente o tecido e junto a minha pele.

Gemo com a dor e levo minha mão livre até o ferimento que sangra loucamente por causa do corte profundo.

Puxo o ar pelas narinas com raiva ao ver aquele filho da puta exibir sua faca com meu sangue escarlate escorrendo pela lâmina como se fosse um troféu.

Ele sorri vitorioso.

- Você é minha, Arlequina... – sua voz ao pronunciar meu nome era cheio de desejo misturado com ódio. Como se me matar fosse o seu desejo de há muito tempo.

Eu rio da sua ameaça, nada intimidada.

- Você está tão ferrado... – murmuro entre meus risos estéticos.

Ele grunhi cheio de raiva e novamente avança em minha direção, pronto para enterrar seu punhal em minha barriga.

Eu rapidamente atinjo meu taco em sua mão armada com toda a força e em seguida disparo um sequência de golpes em várias áreas de seu corpo.

Ele cambaleia tonto de dor e é quando eu jogo meu corpo para frente, num mortal e atinjo sua cabeça baixa com meu pé. Ele finalmente cai no chão inconsciente após meu último golpe.

Sorrio ao ver seu corpo inerte no chão.

- Malditos traficantes de merda. – murmuro sentindo ódio em cada palavra.

Fazer o quê? Esse é um mundo de homens... Aonde você só merece viver quando é útil para alguma coisa e quando deixa de ser... Sua existência também deixa de ser necessária.

Talvez estejam se perguntando como foi que eu cheguei onde estou e por que esses caras estão me perseguindo com tanto desejo de sangue...

Bom, é uma história bem interessante e eu vou contar. Mais tarde. Porque agora... Minha atenção está focada nos sons de sirene e luzes vermelhas e azuis que apareceram na escuridão da noite.

- Merda! – praguejo ao escutar as viaturas se aproximando cada vez mais do beco escuro e úmido onde eu estou.

O que a polícia está fazendo aqui?! Bom, foda-se. Eu tenho que me apressar em me esconder.

Giro meu corpo, para olhar ao meu redor e achar alguma saída estratégica desse lugar, sem ser vista pelos fodidos tiras. Sem sucesso. A não ser que eu vire o homem-aranha, a única saída é por uma das vias.

Ou melhor, pela a única via livre, vez que uma maldita viatura já havia chegado e fechado minha outra saída.

Começo a correr em direção a saída do beco, rumo a minha liberdade, porém o som ameaçador de uma arma sendo engatilhada atrás de mim detém meus passos.

Droga. Maldito tira.

- Arlequina. – uma voz masculina ecoa atrás de mim. – Mãos para cima e vire-se devagar. – ordena de forma ameaçadora.

Solto um suspiro, ciente de que terei de obedecer, a menos que eu queira passar a noite no hospital da prisão.
Viro-me devagar e com as mãos para cima, como ele ordenou.

Ao ficarmos frente a frente, nós nos encaramos por um tempo. Tempo que pareceu longo demais para mim.

Arlequina Tem Que MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora