Parte II

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 - Eu sabia que se lembrariam de mim. Continuo popular no inferno, aposto. Só imagino, deve estar uma briga por lá, toooodos tentando ser o novo Crowley...! - Ele estalara a língua. - Difícil alguém conseguir me superar. 

 As pernas de Aziraphale bambearam. 

 - O que você quer por aqui? Este aqui agora é nosso – Hastur ameaçara. 

 Crowley estalara a língua, negando de forma irônica. 

 - Eu discordo. Mas se vocês quiserem se opor podem conversar com a minha amiguinha aqui... 

 O ruivo puxara da cintura uma pistola de plástico azul e laranja, com um dispenser para água. 

 - Acha que nos ameaça com isso, Crowley? - Arzurt debochara, embora Hastur já tivesse retirado suas mãos de Aziraphale. 

 - Olha, não sei você, Arzurt, mas acho que o Hastur deve se lembrar bem do nosso último encontro. Eu adaptei, sabe? Essa belezinha aqui, - ele dera dois tapinhas na pistola. - Comprei na 25 de março, em São Paulo. Aguenta até dez jatos, capazes de espirrar um metro e meio a frente, com mais dois metros de respingos ao redor. A munição da minha queridinha aqui é da melhor e mais benta água que vocês podem encontrar. Recarreguei ela hoje mesmo, especialmente para vocês. 

 Hastur recuara mais. Arzurt, vendo que o companheiro o abandonara, fizera o mesmo, afastando-se. 

 Aziraphale acabara de joelhos no chão, sem forças para manter-se de pé. 

 - Você não faria isso... - Arzurt ponderara. 

 - Ah, mas eu faria sim. Você sabe bem o que aconteceu com o Ligur, não? 

 Crowley apontara a arma e os dois demônios recuaram e se encolheram. Um leve riso ressoara pela livraria. 

 - Nós vamos pegar você, Crowley. Não ache que está livre de nós. 

 - Digo o mesmo, Hastur. Na próxima vez que eu ver qualquer por perto dele, e eu digo em qualquer lugar de Londres, posso garantir que serão vocês os arrependidos. 

 Aziraphale ouvira o chamuscar de retirada para o inferno atrás de si. 

 - Isso não vai ficar assim! 

 - Façam a gentileza e repassem meu recado por todo o inferno! 

 Eles se foram. Crowley guardara a arma de volta na cintura com casualidade. 

 Aziraphale não podia acreditar no que estava diante de seus olhos. Ele era o mesmo Crowley, mas estava tão... Diferente. O cabelo não mais tinha a coloração avermelhada, mas um laranja que parecia mais um ruivo natural, amarrado em um coque. O terno cinza combinava com a camisa azul marinho. Ele retirara os óculos, pendurando na gola da camisa, e seus olhos tinham um encantador tom laranja, arredondados, de íris e pupilas normais, não amarelos como outrora foram. 

 - Crowley... - soprara em completo torpor, ouvindo o ressoar daquele nome que pensara nunca mais poder pronunciar. - É você mesmo...? 

 - O próprio, em carne e ossos humanos - a voz conhecida respondera com diversão, desaparecendo juntamente com seu sorriso e dando espaço para uma expressão de preocupação. 

 De repente aquele ser irreal ajoelhara-se na sua frente, oferecendo as duas mãos de apoio. 

 - Tudo bem, anjo? Acho que cheguei meio encima da hora, né... Foi mal, é que eu... 

 - Eu não sou mais um anjo – as palavras se atropelaram para fora de seus lábios, como se fosse uma obrigação ditar sua própria sentença. - Eu caí... - Esboçara um sorriso triste. 

Quando Eu Cair - Maridos InefáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora