Era final de tarde e os últimos raios de sol atravessavam a cidade, deixando um rastro de tons alaranjados por onde passava. Depois de um longo dia de trabalho, os cidadãos da grande Dudal se preparavam para se recolher em suas casas e conseguir seu merecido descanso, enquanto o primeiro vislumbre da lua se fazia presente. Em algum lugar no centro da metrópole, passos apressados desciam correndo as escadarias do metro, desviando da multidão a sua frente. A essa hora do dia o pátio da estação via-se completamente lotado, e uma garota de cabelos curtos e aparência jovial encontrava-se perdida em meio a grande quantidade de pessoas a sua volta. Com a ponta dos pés, ela esticou o pescoço esforçando-se para encontrar algum mapa que lhe indicasse o caminho, mas este parecia algo impossível de se encontrar. A menina, já atrasada, imaginou o que mais poderia acontecer para que dificultasse ainda mais seu caminho até o trabalho. Depois de tanto tempo procurando e procurando algum lugar que a contratasse, finalmente achou. Não era bem um emprego dos sonhos, mas era o suficiente para que pudesse cobrir o aluguel que dividia com sua amiga. No começo ela estava animada, porém logo mudou quando uma sequência de situações infortunas começaram a bloquear seu caminho.
Após tanto buscar, avistou ao longe uma grande placa com as informações que precisava. Em passos largos ela se moveu ao local, no tempo em que tentava ao máximo desviar dos indivíduos que passavam à sua frente. Ao chegar, observou o grande ponto vermelho que dizia “você está aqui”, lembrando-a que, após tanta correria, já não recordava o nome da estação ao qual deveria ir. Vasculhando os bolsos encontrou um pequeno folheto de um luxuoso restaurante da cidade, que tinha rabiscado com caneta preta em um dos cantos do papel o nome da estação ao qual deveria ir. Então seguiu com o dedo a linha vermelha que a guiaria até seu destino.
“Linha 2: Sinnan. ”
Com o nariz franzido, a garota moveu seus pés ao local indicado sem perder o ritmo, ao passo que tentava ao máximo não perder a paciência com a trajetória cansativa. As portas se abrem e em pouco tempo não há mais lugar para se sentar. Segurando-se na barra de apoio, a mesma retira o celular do bolso e checa o horário.
— Merda, faltam cinco minutos. – diz para si mesma enquanto tenta conformar-se com o atraso.
Depois de alguns minutos as portas finalmente voltaram a abrir tirando a jovem de seus devaneios. E durante o tempo em que tentava facilitar seu caminho entre as pessoas, foi empurrada para o lado por um grande homem de chapéu coco que permaneceu em sua frente. Este vestia uma sobrecasaca preta e pesada que cobria mais da metade de sua enorme estatura, e em uma das mãos segurava uma bengala de madeira antiga, cuja parte superior assemelhava-se a cabeça de uma águia feita de bronze.
— Moço, com licença! – exclamou, mas ele não parecia ouvir. Irritada tentou mover-se para o lado, porém o movimento de corpos passando era muito grande, e para ajudar, havia um indivíduo folgado parado à sua frente.
Apesar de apenas segundos terem se passado, o desconforto e a bagunça naquele ambiente era tanta que o tempo começou a andar mais lentamente para a mesma. O pouco ar que lhe sobrara era arrancado aos poucos de seus pulmões com os apertos e esbarrões das pessoas que passavam, deixando-a sufocada. E após o que pareceram séculos, o homem à sua frente por fim moveu-se. Todavia, em meio ao tumulto das pessoas que tentavam seguir caminho, a garota viu algo cair do bolso do sobretudo do sujeito. Mesmo em meio à confusão, conseguiu abaixar-se e pegar o objeto para que pudesse entregá-lo ao seu dono. Contudo, assim que levantou a cabeça, ele já não estava mais lá. “Era só o que me faltava”, pensou esta saindo do trem.
Com a consciência pesada, a garota seguiu seu caminho, prometendo a si mesma que no outro dia passaria no Achados e Perdidos para deixar o objeto ao qual não a pertencia, pois hoje não havia tempo sobrando para isso. Após uma corrida cansativa por algumas quadras, ela finalmente chegou ao grande restaurante no qual passaria o resto de suas noites, ou era isso que esperava. Era com certeza um local bem requisitado, isso sem dúvidas. A fachada era trabalhada em pedras portuguesas, que fazia contraste com as grandes portas de madeira escura, logo na entrada via-se um enorme letreiro luminoso escrito Golden Flavor.
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De onde vem as Sombras
FanfictionEstamos tão acostumados a caminhar em direção a luz, como um girassol a perseguir o sol, que não sabemos o que fazer quando finalmente nos deparamos com as sombras a nossa frente. E por mais que ligue uma lanterna ou acenda uma vela, o brilho emitid...