O doutor apareceu pouco tempo depois cumprimentando meus pais e Camila e explicando que ele iria tirar as faixas e ver se a cirurgia havia gerado um resultado positivo. Disse que, se houvesse dado certo, eu demoraria alguns segundos para poder focar alguma coisa, pois as luzes seriam fortes e minhas pupilas demorariam a acostumar com tanta claridade.
Eu balancei a cabeça concordando e soltei um suspiro pedindo para que alguém segurasse minhas mãos, coisa que minha mãe fez.
- Está na hora - eu murmurei para ela num sorriso. O coração estava batendo alto e eu sentia vontade de rir.
- Bem, está preparada? - perguntou o doutor fazendo um barulho com a tesoura.
- Sim... - respondi apertando forte a mão de minha mãe e a outra mão em que o anel de Camila se encontrava - Estou preparada.
Um arrepio percorreu todo meu corpo quando eu ouvi a tesoura cortar a primeira camada de faixa. Meu coração queria querer parar, mas, ao contrario disso, ele batia mais rápido e rápido.
A tesoura continuava contando as faixas, tudo parecia rolar em câmera lenta.
- Ultima - o doutor disse quando usou a tesoura para o ultimo corte.
Aquele barulho ecoou em meus ouvidos por um tempo. As faixas escorregaram de meu rosto parando nos ombros.
Meus olhos estavam fechados, eu comecei a abri-los lentamente, mas uma dor aguda me fez fecha-los novamente.
- Tente novamente - pediu o doutor.
- Está muito claro - murmurei balançando a cabeça.
- Tente, Laur - pediu minha mãe apertando minha mão.
Respirei fundo e comecei a abri-los novamente. No começo eu pisquei bastante e tudo estava embaçado e difuso.
Estava muito claro.
Ardia.
Fechei-os.
- Droga! - exclamei baixo.
Na terceira tentativa de abri-los, percebi que ardiam menos e eu já via contornos coloridos. Eu ri fazendo uma careta de dor.
- Está vendo algo? - perguntou o doutor com a voz ansiosa.
- Sim... - murmurei - cores... Estou vendo cores...
- Ótimo! - exclamou ele - Tente ficar mais tempo com os olhos abertos.
Foi o que eu fiz. Aos poucos as cores difusas foram tomando forma e logo pude reconhecer o semblante de minha mãe. Ela parecia mais velha. Cansada, mas continuava linda.
Eu sorri e passei uma de minhas mãos por seu rosto que estava molhado.
- Mãe... - murmurei sorrindo e sentindo vontade de chorar também.
- Aí meu Deus! - ela exclamou me abraçando e caindo num choro compulsivo em meus ombros.
- Calma - pediu o doutor nos separando - Você está enxergando bem?
- Está embaçado, mas pouca coisa. - respondi me virando para ele, mas quando fiz isso, eu a vi...
Estava parada ao lado de meu pai e metade de um sorriso brincava em seus lábios vermelhos. Seus olhos, cor amêndoa, brilhavam risonhos e seus cabelos, bagunçados, cobriam até abaixo de seus seios, um laço preto e fofo na parte superior de sua cabeça. Uma saia preta e blusa vermelha a deixando mais fofa ainda. Era Camila, mais linda do que eu havia imaginado.
Eu parecia ter entrado em transe, pois não conseguia parar de olha-la e ela não parava de olhar para mim. Seu sorriso aumentou. Meu coração pareceu aumentar também.
- E então? - ela perguntou umedecendo os lábios - Vou ganhar o anel?
Meu sorriso se alargou e eu apertei mais o anel contra a mão, me aproximando mais dela.
Todos estavam quietos.
- Estique sua mão direita - sussurrei sem jeito, olhando em seus olhos. Tremendo, coloquei o anel em seu dedo e cruzei minha mão na mão dela - Você é muito mais do que eu imaginava.
Ela riu e passou a mão em meu rosto. Seus olhos ficaram vermelhos e eu vi uma lagrima cair lentamente.
- Camila... - eu murmurei seu nome, como se estivesse pronunciando uma promessa e ela entendeu, pois me puxou para ela e me deu um beijo. Um beijo carregado de tudo aquilo que eu sempre quis... Amor.
-/-
E CHEGOU AO FIMMMM
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Be My Eyes
FanfictionHá um ano, eu havia sofrido um sério acidente de carro. Minha amiga, que dirigia, havia morrido no caminho para o hospital de parada cardiorrespiratória. Foi difícil a adaptação. No começo, tudo me irritava, principalmente a morte de Vero. Era difí...