Prólogo

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A festa estava agitada, as luzes iluminavam vagamente todos que estavam presentes no tão esperado aniversário de dezoito anos de João. O garoto era deveras popular na escola onde estudava, e muito bem conhecido por quase todos os jovens da pequena cidade do interior de São Paulo. Um garoto simples, mas que mudava drasticamente com o pouco de álcool que percorria seu sangue. Desde que começou a beber no começo da noite, havia esquecido completamente seus verdadeiros princípios, caindo na farra e se perdendo na multidão.

Enquanto isso, sua namorada estava sentada sob um dos banquinhos da cozinha americana, tentando matar o tédio que insistia em consumi-la. Melina batucava deliberadamente suas unhas no ritmo da música, procurando João com os olhos por entre a multidão.

Igualmente popular, mas ainda assim discreta, Melina Moreira era facilmente creditada como uma das meninas mais bonitas de escola Glória. E naquela festa, praticamente todos os estudantes esperavam uma brecha de seu companheiro para invadir o território.

De fato, não a culparia se João fosse substituído em um piscar de olhos. Melina era realmente encantadora, mas não era do tipo que beijava todos os rapazes possíveis. João foi seu primeiro namorado desde os quinze, mas ele parecia não valorizar a garota após a conquista.

Na verdade, a valorizava como um troféu, parecido com os que costumava ganhar em seus torneios de futebol.

— Você ainda pode curtir a festa sem ele, Melina. — Marcela se aproximou, ocupando o banquinho que antes estava vazio ao seu lado.

Marcela Ferreira costumava ser a melhor amiga de João. Sempre viviam grudados, e os pais do rapaz a adoravam, tratando-a como filha. O comportamento de ambos certamente incomodava Melina, mas tudo se tranquilizou quando a garota se assumiu lésbica em frente a metade da escola, pedindo Carol em namoro em meio a quadra de esportes.

Não estavam mais juntas, de qualquer forma, mas não deixaria de recordar a coragem e cuidado de Marcela para com a antiga companheira.

— Eu estou bem. — Os lábios da mais nova se curvaram em um sorriso lateral, e uma mecha de cabelo foi posta para trás de sua orelha, revelando sua velha mania devido ao nervosismo.

As jovens possuíam uma pequena diferença de idade, sendo que, Marcela estava no terceiro ano e Melina ainda no segundo. Dessa forma, não eram tão próximas dentro da escola, e também não tiveram a chance de conversar muito fora dela. Eram papos vagos, mas que nunca se tornaram desagradáveis para uma inimizade.

— Vamos lá. — Marcela se levantou, estendendo a mão para a jovem que permanecia sentada sob banco.

A garota sabia sobre a situação do namoro da outra, e desaprovava todas as atitudes do rapaz. João era infantil o suficiente para fazer diversas besteiras seguidas, e muitas vezes os conselhos de Marcela foram os responsáveis para que o relacionamento não acabe. Marcela, de alguma forma, sentia que conhecia Melina mais do que o esperado, por isso, não se acanhou em fazer uma gracinha e tirar um sorriso da garota.

Ao aceitar o convite para dançar, Melina foi girada de forma descontraída até o meio da pista improvisada na sala de estar. Marcela possuia um sorriso grande em seus lábios fartos enquanto se movimentava lentamente ao som que ecoava o ambiente. "Também Quero", de Clau e PK. A morena adorava ritmos como aquele, e denunciava sua empolgação ao cantarolar parte da música. Melina por sua vez, não conhecia. Mas prontamente se colocou a prestar atenção na letra enquanto acompanhava os movimentos de Marcela.

— Você não conhece? — Mariana ergueu seu tom de voz devido ao som alto, mesmo que estivesse bastante próxima da menina, não conseguia manter um timbre confortável.

— O que? Ah! — Melina demorou alguns segundos para entender e formular a pergunta da outra. — Eu não costumo ouvir.

— Ainda te farei uma playlist'. — Ambas riram, e a mais nova concordou prontamente.

A noite passou rápido, e ambas não se falaram após trocarem os números durante a última dança. Marcela alegou que deveria falar com Carolina, que a esperava na cozinha, e desde então, sumiu. Melina preferiu não questionar, e por vários minutos apenas se colocou a aproveitar os salgadinhos colocados sob a mesa para o banquete.

No fim da festa, João estava bêbado o suficiente para cair na cama e adormecer. Nem ao menos teve tempo de tomar um banho, e Melina o amaldiçoou mentalmente. Havia mentido para sua mãe que dormiria na casa de uma amiga, e ela acharia estranho que voltasse para casa a essa hora da noite. Portanto, após pegar um dos moletons do namorado, deitou-se ao seu lado na cama, forçando-se para pegar no sono.

Nada feito.

Estava agitada o suficiente para ainda percorrer vários quilômetros a pé.

Portanto, resolveu checar suas redes sociais, dedilhando a tela de seu celular ao rolar o feed. Nada interessante, até que uma notificação brilhasse, fazendo-a notar que sua claridade estava máxima. Tola, aquilo iria acabar com sua bateria.

Número desconhecido: Ei, é a Marcela.

Número desconhecido: Eu não me esqueci da sua playlist.









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