28. Minha equilibrista

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Normalmente eu não gosto de sair à noite. Eu adoro ler, assistir a filmes e passar um tempo sozinho, recordando todos os corações puros que já apareceram na minha vida, isso é o que mais gosto de fazer. Eu gosto de lembrar dos seus rostos, do jeito com que sorriem, dos olhares que me deram, do brilho que tinham, da energia que eu sentia toda vez que os tinha perto de mim, de como era bom... Às vezes a lembrança é tão forte que é como se revivesse alguns momentos. Eu deito na minha cama, fecho os olhos e deixo as lembranças correrem soltas na minha mente. Se não estou com meus corações puros, reviver alguns momentos com eles é a melhor coisa.

Geralmente eu sigo meus instintos e naquela noite, eu me lembro, que, por alguma força que se agitou dentro de mim, eu quis sair. E saí. Eu geralmente respeito meus instintos normalmente eles me levam para onde devo ir.

Fui para o reduto dos bares. Andei pelas ruas, olhando aos bares, às pessoas, e foi, então, que vi um bar escuro e escondido, me senti imediatamente atraído. Entrei. Lá dentro, eu logo a vi. Ela estava no balcão. Era como se houvesse uma aura em volta dela que brilhava em meio àquela escuridão. Soube imediatamente que era um coração puro. Ela estava sozinha. Eu a observei por alguns instantes. Ela parecia triste, tive quase certeza que a escuridão já a habitava, mas precisava conversar com ela para saber.

No curto intervalo que eu a observei ela virou um copo de whisky. Logo depois um cara se aproximou. Não demorou muito ela se levantou e saiu com ele. Depois notei que, como ela, havia outras moças no balcão do bar e imediatamente compreendi. Estava em um bar de prostitutas. E meu coração puro era uma delas.

Eu bebi uma cerveja e saí. Compreendi que o motivo de eu ter saído de casa era para tê-la conhecido. Engraçado como funcionam nossos instintos, sentimentos e emoções. Se você realmente estiver conectado com eles, como eu estou, verá que operam mágicas cotidianas na nossa vida.

No dia seguinte voltei ao bar e lá estava ela no balcão, mais uma vez, bebendo seu whisky. Eu me sentei ao seu lado.  Ela se virou para mim e disse quanto cobrava. Naquele momento eu senti o gelo da sua escuridão subir pela minha espinha. Sim, ela já a habitava e parecia poderosa... Assenti com o preço e saímos do bar.

—Tem um hotel aqui perto —ela disse trançando as pernas. Vi que estava completamente bêbada.

—Vou te levar para meu apartamento —falei.

—Tem certeza? —ela estranhou.

—Tenho.

Ela entrou no meu carro e fomos ao meu apartamento. Entramos pela garagem, assim sua saía curtíssima e seu tomara que caia não seriam causa de fofoca dos porteiros. Entramos no meu apartamento.

—Onde vai ser?

—Vamos ficar aqui na sala por enquanto.

—Ok —ela disse.

—Vamos conversar.

—Você é daquele tipo...

—Como assim?

—Têm uns caras que só querem desabafar os problemas que têm com sua mulher...

—Não é o meu caso. Eu quero te conhecer.

—Por quê?

—Descobrir por que prefere o whisky, por que bebe tanto, por que se prostitui...

—Eu não vou dizer. Eu sou paga para fazer sexo, não para contar da minha vida.

—Está bem —eu respondi.

Eu fiquei quieto só olhando para ela. Achei que ela fosse pedir o valor, inclusive da condução, e fosse embora. Mas ela ficou ali só me olhando quieta, como se refletisse a respeito de querer falar comigo ou não. Depois de uns quinze minutos se manifestou:

MORRA POR MIMOnde histórias criam vida. Descubra agora