Romantismo

Prólogo; Opostos

— É realmente muito difícil passar um dia sem arrumar confusão? Só um? — de braços cruzados, observava a garota de cabelos azuis sentada em cima do muro do colégio, com o uniforme preso nos arames que serviam de proteção. 

— Não sei, mas tenho certeza que não é desafio nenhum me ajudar primeiro e dar o sermão depois. 

— Justo.

Sem muito esforço, separou o tecido das pontas afiadas. 

— Pronto, agora vem, te ajudo a descer — esticou os braços, pronto para segurar a garota.

— Obrigada, mas meu desembarque é pelo outro lado — sumiu da vista do moreno, saindo da propriedade escolar. 

Tomou impulso e se pendurou na estrutura de tijolos, vendo Coraline guardar o blazer cinza grafite dentro da bolsa preta. 

— É sério? Fugindo da escola mesmo faltando só mais duas aulas? 

— Não estou muito a fim de resolver exercícios de física, não hoje — colocou a bolsa sob os ombros e olhou para o garoto que revirava os olhos em cima do muro — você não vem? 

— Assim como você, não estou muito afim de levar advertência por excesso de faltas. 

— Ei! — um grito chamou a atenção de ambos, e Wybie suspirou quando viu a coordenadora na janela da secretaria. 

— Bom, se você prefere ser pego pela coordenadora, tudo bem… 

Assim que aterrissou, foi puxado pela garota, precisando correr para acompanhar o ritmo da mesma.

[...]

— Irresponsável, é isso o que você é, sem sombra de dúvidas. 

— E você é certinho demais — pegou uma garrafa com água de dentro da mochila e deu um gole — Não é nada demais, só duas faltas. E dúvido que tenham te reconhecido. 

— Você só pensa no presente, não se preocupa nem um pouco com o futuro. E se a professora passa conteúdo importante, ou até mesmo uma prova? Qual vai ser sua desculpa 'pra recuperar a nota? — o moreno gesticulava enquanto falava, incomodando a garota. 

— Já você, só sabe pensar no depois, no futuro e não vive o presente! A vida passa e você nem se quer nota! — deitou na toalha que estava estendida no meio do jardim. Haviam chegado na residência cor de rosa há poucas horas. 

— Isso não vai fazer todas as minhas responsabilidades desaparecerem, Senhorita Jones, elas ainda estarão lá no dia seguinte — se jogou para trás, deitando-se ao lado de Coraline. 

— Você já ouviu falar de Carpe Diem? — Wybie concordou com um aceno — "Aproveite o dia", ou como eu gosto de falar, não deixe pra amanhã. Sério, não tem nada que você gostaria de fazer agora, neste exato momento? 

Virou-se, conseguindo ver os olhos castanhos ficarem mais claros por conta dos poucos raios de sol que tingiam o rosto marcado por sardas da garota a sua frente. 

— Eu me declararia pra pessoa que eu gosto. 

A surpresa no rosto da azulada arrancou risadas do moreno. Com os olhos arregalados e o queixo caído, sentou-se rapidamente. 

— Você gosta de alguém? Como assim? Desde quando? — o tapa estalado que atingiu o ombro do maior o fez rir mais ainda — E por que não me contou? 

Wybie sentou-se também, recuperando o fôlego.

— Não contei antes porque me toquei recentemente que gosto dela, bobona. 

— Ai, que bom. Se estivesse me escondendo coisas eu juro que esse seria seu último dia de vida — foi espremida pelos braços fortes de Wybie. 

— Não precisa me ameaçar, você recebe as atualizações da minha vida sempre em primeira mão. 

— Agora, porque você não segue meu conselho e se declara pra ela logo?

Observou mais uma vez o rosto eufórico da garota em seus braços antes de responder. 

— Ainda bem que eu nunca lhe dou ouvidos. 

Riu ainda mais com o discurso de indignação da garota. Balançou a cabeça em negação. 

— Será que algum dia você vai entender que as coisas acontecem na hora que tem que acontecer? 

— Hm.. — fingiu pensar um pouco e soltou — Não! 

Wybie revirou os olhos — Ainda bem, Senhorita Jones, ainda bem.

[...]

Depois do jantar, pronta para dormir, Coraline achou uma flor em sua cama. Mais especificamente uma rosa vermelha junto a um bilhete. 

"Serendipidade; 

Substantivo feminino. 

Ato ou capacidade de encontrar coisas boas por mero acaso, sem previsão".