Após tirar o uniforme e me despedir do estagiário eu me encontrava do lado de fora do estabelecimento.O vento cortava as minhas pernas desprotegidas fazendo eu me encolher andando mais rápido com ele me empurrando, em meio a aquele corredor de edifícios, havia um céu estrelado, que mesmo com toda a luminosidade da cidade elas ainda se prevalecem parecendo olhar para mim.
Logo depois de virar a esquina os meus pés já clamavam por uma noite de massagem só em sentir a elevação do morro, mas não era com isso que eu estava me preocupando no momento.
Uma sensação de desconforto me seguia por aquela rua, algo incomum para aquela pacata rua. Inclino o braço esquerdo um pouco para frente deixando a abertura da bolsa mais perto e retiro o meu celular, fingindo estar avaliando minha aparência e vejo pelo reflexo.
Alguém, alguém está me seguindo. Estico as pernas ao andar, acelerando a caminhada, enquanto eu guardo o meu celular novamente na bolsa. Passo direto pelo portão da minha casa, continuando a subir o morro.
Meu corpo estava tenso, parecia ter uma festa em cada célula que compunha o meu ser, eu decido dar a volta no quarteirão e ver se consigo despistar ele. Péssima escolha, aquela parte do quarteirão era como o lado da lua que o sol não conseguia abraçar, em meio a aquela rua escura eu me banhava em medo.
Chego novamente a avenida agora sem sinal de vida e nem do vento, eu não sabia se era bom ou ruim não ouvir mais os seus passos. Passo pela loja tendo o breu como empregado no momento e sigo pelo mesmo caminho.
Desacelero o passo ao sentir os meus pés latejando, não era a melhor ocasião para fazer isso, mas fiz, com o coração na mão olhei para trás. Nada, não tem ninguém, eu acho que o despistei.
Tento fazer um pouco mais de esforço para chegar logo em casa e descansar, encosto o meu antebraço na porta e dou brecha para a luz do poste ficar entre eu e a porta. Retiro a chave de um bolso pequeno e a coloco na fechadura.
Algo fazia eu me sentir em alerta, e por precaução, olhei para trás.
Naquele momento eu senti tudo e ao mesmo tempo o nada, o tato do meu rosto se esvaia aos poucos só podendo sentir o frio do azulejo.Era impossível respirar com todo aquele sangue entrando pela minha traqueia, a única coisa que eu conseguia ver eram aquelas esferas de luz no céu, me observando, sendo testemunhas disso tudo.
O rapaz termina a minha ação destrancando e abrindo a porta fazendo com que a mesma escorasse na parede, ele carrega em seus braços oque um dia eu fui e fecha a porta atrás de si. Com delicadeza, ele passa pela sala escura e segue até o final do corredor empurrando a porta de um cômodo com o ombro, a colocando na horizontal ao pé da cama.
Ele liga o interruptor e se aproxima da cama a desfazendo, retirou os travesseiros e retirou parte da coberta que a cobria. A agarrando por baixo dos ombros e colocou na parte desfeita da cama, retirando os sapatos e as meias.
Segurando de leve em meu ombro ele me inclina para frente, se sentando atrás de mim e me colocando de volta na posição, nos cobrindo com a coberta.
Suas mãos trêmulas fazem carinho em meu cabelo e testa, dando leves selinhos em minha bochecha.
- Eu sinto muito meu anjo. - Diz ele em meio às lágrimas não cessando as carícias.
- Não era para ser desse jeito, mas eu não poderia deixar você ir. -
Após dizer isso seu choro se intensifica me apertando ainda mais em seus braços.- Eu não suportaria perder você... Era para nos dois ficarmos juntos. - Disse depois de soluçar diversas vezes.
- Nós vamos ficar juntos para sempre.
Ele da mais um selinho na bochecha no que uma noite eu fui, aquelas lágrimas e seu abraço frio foram as últimas coisas que eu senti naquela noite.
Espero que as estrelas possam falar um dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Good Night
HorrorAs estrelas podem presenciar coisas. Acontecimentos cobertos de medo e angústia, que podem destruir os sonhos de alguém.