"O medo da escuridão fará com que o indivíduo construa diferentes métodos para mudar o destino final da vida..."
Análise do Comportamento Existencial,
— A. Eller, 356 d. C
Adam acordou na escuridão no mesmo instante em que todo o local se iluminava. Seus olhos cinzentos se fecharam em um impulso causado pelo excesso repentino de luz. O primeiro pensamento não foi onde estava, mas se seu despertar havia causado o acionamento das luzes ou seria o contrário? Ponderou brevemente, mas era uma resposta que não buscaria, embora estivesse bastante intrigado, em um primeiro momento. Durante todo seu tempo como cientista ele aprendeu que distrações eram os piores empecilhos a se enfrentar, um tempo perdido que nunca voltaria. Essas distrações não revelariam, de fato, a principal preocupação: O que ele estava fazendo ali?
Sentiu uma estranheza em sua própria pele, do mesmo jeito que se sente quando a mente acorda de um sono profundo e ainda se está desnorteado pelo tempo que adormeceu. Uma sensação desconfortável de ter que abrir os olhos e estar "acordado". Tudo o que desejava naquele momento era permanecer naquele ócio, naquele instante onde não havia nada, apenas pensamento. Mas se ficasse tempo demais acabaria se culpando novamente pela distração.
Então, lentamente, abriu os olhos e vislumbrou um grande saguão. A luz branca vinha de todos os lugares, mas principalmente de uma arandela, um círculo simples, mas majestoso, que projetava a iluminação diretamente para o seu rosto. Era como se o Criador tivesse soprado vida naquele instante e naquele local, removendo toda a escuridão e trazendo essa luz intensa, mas calma, confortante. Adam notou que o saguão era construído com base em um dourado fosco, certamente digno de decoração em um palácio pertencente de um rei materialista.
Seus pensamentos estavam tão intensos e confusos que sequer havia percebido que estava sentado em uma cadeira, de frente para uma escadaria, até aquele momento. Seguindo o trajeto dos degraus com os olhos, notou que no topo havia uma grande entrada de elevador, em cinza cromado, quase impossível de ver devido a luz da arandela no centro da porta do elevador. E ainda acima dele, repousava um grande anúncio verde brilhante, gravado no que parecia ser pedra. As letras estavam em branco: "A liberdade é sua".
O que era neblina se tornava clareza quando o cientista se lembrou do motivo de estar ali, e naquele momento. Ele se levantou, com um sorriso no rosto e entrou no elevador, dirigindo-se ao terceiro andar, com a confiança de alguém que morasse ali por anos.
Chegou em seu laboratório animado como um calouro de faculdade. As cores em pastel, os vidros gigantescos no lugar de paredes, a limpeza, tudo combinava harmoniosamente com uma visão higiênica da sala. O local era hermeticamente fechado, evidenciado pela falta de poeira. A falta de ventilação também não parecia ser um problema, visto que Adam se sentia perfeitamente confortável com a temperatura.
Resolveu vasculhar os bolsos, mas não encontrou nada, havia somente a informação que residia em seu cérebro, suas roupas no corpo e seu relógio no pulso. Suspirou, pensando em já dar a si mesmo um primeiro dia de folga. Crescia uma animosidade visível em seu rosto por aquele prédio. Determinou, então, que exploraria pedaço por pedaço dos três andares, com uma curiosidade infinita, até se esgotar e necessitar de repouso para o início de suas tarefas.
No segundo dia, ligou todos os computadores do terceiro andar. Apelidou essa área de "Sala de Monitoramento", nada mais justo já que esse andar poderia resolver e controlar remotamente todos os problemas e questões dos outros dois andares. Ajustou as condições normais para o interior das câmaras na segundo andar. As câmaras eram os locais de teste biológico de todo laboratório. Pressão, temperatura, quantidade de oxigênio e outros elementos, algumas amostras em estado estacionário e em outras, constante agitação, nível de umidade e fonte de luz são alguns dos recursos necessários para a verificação e manipulação de cada material biológico. Era um local de erros aleatórios, onde não se sabe a causa, mas, frisado pelo Dr. Balthazar, mentor de Adam, que jamais poderia ser por erros sistemáticos, causados por incompetências do cientista em não verificar e adequar o óbvio para que os processos necessários sejam alcançados.
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Contos de Canopus
Science FictionWilliam é criado para proteger o seu planeta da total destruição. Ele consegue prever possibilidades do futuro, com sua singularidade, poder conferido aos deuses para os seres sencientes. Porém, William não é capaz de ver além de um determinado even...