O Décimo Segundo Aniversário.

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Anne.

   Era madrugada, umas 2 horas talvez. Eu ainda estava tentando absorver todos os acontecimentos. Nada fazia sentido.
   -Por Favor Sra. Anne, poderia voltar do começo? Me diga, aonde você esteve do dia 11 de Abril, até ontem, 26 de abril.- Indagou o policial. Ele não olhava diretamente para mim.   Talvez porque eu estivesse nua. Eu não sabia onde estava ou o porque. Eu não me lembro de como cheguei ali, tentei cobrir meu corpo com uma coberta que ele havia me dado.
   -Desculpe... -Uma lágrima rolou meu rosto. Sequei rapidamente, suspirei e tentei retornar no tempo- Bem, tudo começou a poucas semanas atrás...

10 de abril de 2016, 7 h AM

   Era para ser mais um dia como qualquer outro, eu acordaria, faria um café para o meu filho e depois faria meus serviços domésticos.
Mas em especial, eu estava ansiosa com décimo segundo aniversário de Jhonatan, meu filho mais novo. Ele estava na casa de seu pai, meu ex marido, que conseguiu sua guarda alegando que eu não haveria condições psicológicas suficientes para cuidar dele. Talvez não tenha de fato começado em 10 de maio de 2016, talvez eu deva começar no acidente que marcou nossas vidas para sempre.
   Foi a 6 anos atrás, nesse mesmo dia. Meu marido e eu tínhamos nossos problemas, Mas nunca deixamos isso interferir na felicidade de nossos filhos. Apesar das brigas frequentes acreditava que éramos felizes, até aquele dia.

10 de maio de 2010

  - O Que você quer de aniversário filho? - Olhei bem fundo nos olhos de Jonathan que brilhavam como um céu estrelado. Jamais vou esquecer daquele momento. Havia acabado de comprar um Ônix Preto. Jhon estava alegre, seus longos cabelos cacheados balançava com o vento num movimento hipnótico.
   Louis, o mais velho com 10 anos na época, estava quieto, quase não falava. Tentava anima-lo, Mas era difícil. Acreditava apenas estar em uma fase complicada.
   Marc e eu estávamos ansiosos como a surpresa ao nosso filho. Ele distraía as crianças a todo momento. Era um dos poucos momentos que nos divertimos de verdade. A poucos minutos de casa, um carro invadiu a pista e se jogou em nossa frente. foi um flash de milisegundos. A dianteira de ambos os veículos já não existiam mais. Não tive tempo de identificar o modelo, apenas pude ver as ferragens vermelhas atravessando os vidros e o peito de Marc. Eu não podia fazer nada, estava presa, e desmaiei poucos segundos depois.
   Quando acordei, tive meu primeiro choque. Passei 2 anos em coma induzido. Fui traumatizada. Meu marido havia me abandonado, e roubou um dos meus filhos. Nunca achei que ele fosse capaz de fazer isso. Vivi anos nesse casamento e agora acabou.
   Passei por diversos procedimenos. Custela quebrada, pulmao perfurado, fratura em diversos ossos e um total de 62 pontos pelo corpo. Talvez eu realmente não estivesse cem por cento. Foram 2 anos em uma cama, sem saber nada do mundo exterior.    Dezenas de cirurgias. Mas ainda sim, eu estava bem por retornar a minha vida (quase) normal.
   Quando acordei, fui recebida apenas por Louis. Ainda tentava assimilar todos os fatos, mas após tantas desgraças em minha vida, eu finalmente estava bem comigo mesma...
   Bem, voltando para 2016... Eu estava feliz, o aniversário de Jhon seria no dia seguinte e eu poderia ver seu rosto íntegro novamente...
   -Bom dia, mãe. - Louis passou voando por mim, pegou uma caixa de leite, encheu seu copo e bebeu em menos de 15 segundos.
   -Calma, calma... Aonde vai com tanta pressa, são 7 h da manhã. - Pego a caixa da sua mão enquanto fixo seus olhos. Eu conhecia aquele sorriso bobo, aquele brilho nos olhos. Havia alguém... Meu menino cresceu, eu fico feliz em saber que ele pode ser feliz agora e seguir sua vida.
   - Eu tenho que resolver algum assuntos na escola, então preciso ir mais cedo. - Ele tenta desviar meu olhar, arruma sua mochila e caminha em direção a porta.
   -Ei! Amanhã é aniversário do seu irmão e eu preciso de ajuda com a preparação, por favor! - Ele para, respira, não responde. Se respondeu, não ouvi. Ele abre a porta, e sai.
   Haviam algumas coisas que eu não entendia. Como dois irmãos que se amavam tanto, passaram a se ignorar? Isso doía no meu coração.
Refleti um pouco sobre, Mas resolvi dar continuidade ao que estava fazendo. Não podia deixar nada estragar meu dia tão facilmente.
   Morávamos em uma casinha no fim da cidade, perto de um bosque. Era toda de madeira, com uma tinta branca já descascada. Naquele dia o tempo estava abafado, me lembro de quase não suportar o calor. caminhei até o quintal para pegar um pouco de ar. Os pássaros naquele dia estavam diferentes. Uma massa enorme deles cobriam o céu. Ao olhar para o bosque, vi uma criança. Não conseguia a ver muito bem. Ela estava de costas, não pude nem definir seu sexo. No seu braço havia um corte. Ela caminhou até as árvores, festava mancando.
   -Ei! - Chamei pela criança. Era uma situação estranha, não haviam muitas crianças por aquela região. Ela estava ferida. Fiquei preocupada.Tentei pensar em algo a ser feito mas ela continuava caminhando até a floresta, o que diminua drasticamente minhas opções. Comecei a correr em sua direção. Maldito instinto materno.
   -Pare!! - Eu gritava, mas era em vão. A criança continuava adentrar o bosque. Derrepente, uma figura completamente bizarra saiu do bosque. Parecia um desenho da morte. Um manto preto, corpo totalmente preto. Apenas vi seu sorriso maligno antes de tropeçar e afundar no chão.
   "Droga", arranhei as mãos. Olhei para o bosque e... Nada. A criança simplesmente sumiu. Me levantei, bati a mão no meu jeans sujo de grama e caminhei para casa. Estava confusa. Não sabia o que fazer.
Em casa, me sentei de frente a mesa e refleti até Louis chegar.

AnneOnde histórias criam vida. Descubra agora