Capitulo 1. Piloto

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1978.
- Vai pra onde, orelhudo ? – O valentão disse e empurrou Chanyeol, que caiu com seu rosto diretamente na tigela de Guksu. Pode-se ouvir o mais novo gemer de dor, tanto pela queda, quanto pela queimadura da refeição feita no rosto. – Ah, desculpa, ta quente?

- Acho que você pegou pesado demais dessa vez Buil... – Um dos amigos cochichou, e levou um tapa brusco vindo do maior.

- Eu não te perguntei nada. Fica quieto. – Buil sorriu ao ver Chanyeol se contorcer brevemente e ver seu até então almoço no chão. Estalou o dedo para os companheiros. – O segurem. – Estendeu a mão. O recado foi entendido e logo sentiu o cabo do espelho sendo segurado por seus dedos. Limpou a garganta e se abaixou na frente de Chanyeol.

- Ta vendo isso aqui, paspalho? É teu reflexo! E você é feio que dói. – Riu sozinho, mostrando o espelho para ele. – Sabe onde a gente mora, né? Na Cidade dos Espelhos. E sabe o porquê de se chamar assim?...Responde!

- Por que... T-tem espelhos. –  Mordeu os lábios e evitou olhar para o mais velho, apenas fitando seus próprios pés.

- Isso mesmo, e sabe pra que espelhos servem, né? Pra refletir, refletir imagens e pessoas bonitas e com dinheiro, tipo eu. – Sorriu e virou o espelho pra si por um instante, ajeitando o cabelo. Logo, voltou a mostrar o espelho para o mais novo. – Mas sabe o que é engraçado? Você não é bonito. E também não tem dinheiro. Você é feio e pobre. Nunca vai conseguir uma namorada nem nada na vida. Essa cidade não é pra você, orelhudo. Olha pra cá! – Segurou em seu maxilar, apertou suas bochechas e levantou seu rosto, forçando-o a olhar para seu reflexo no espelho no espelho. –  Presta atenção no que vai acontecer.

Se levantou  e mostrou novamente o espelho pra ele, e enfim, o jogou no chão, fazendo o espelho quebrar e se despedaçar em milhares de cacos devido a força. Chanyeol caiu de joelhos assim que sentiu seus braços sendo soltos pelos "capangas" de Buil. Apoiou-se em suas mãos que ficaram contra os estilhaços do vidro.  Conseguiu ver seu reflexo num pedaço do espelho que não havia se quebrado totalmente e sentiu seu rosto queimar,  as lágrimas finalmente caírem e não ouviu mais nada.

- Caiam fora daqui! Ele só tem onze anos, seus idiotas! – Ouviu a voz da Senhora Kim ecoar pelo pátio, e pela sua visão periférica, viu-as espantar os garotos com uma vassoura. Não demorou muito até ela largar o objeto e correr até Chanyeol,  pegando-o no colo. – Você está bem, querido?

- Eu derrubei o Guksu. – Limpou um dos olhos com as costas de sua mão e em seguida bateu-as uma contra a outra, tentando tirar os cacos.

- Não tem problema, eu te dou outro, ok? Vamos, sua mãe está lá dentro comendo. – Ajeitou-o em seu colo e limpou suas mãos em seu avental, adentrando o lugar novamente.

- É verdade o que eles falaram?

- O que eles disseram? – Colocou Chanyeol no chão e foi até a cozinha, preparando outra tigela de Guksu.

- Que eu sou feio. E que eu sou pobre. – Olhou ao redor e pousou o olhar num espelho, e, após se olhar por alguns instantes, sentiu vontade de chorar novamente. Correu para a mesa em que a mãe estava, não muito distante dali, e se sentou ao seu lado, abraçando sua cintura.

- É verdade que somos pobres. – Sra.Park se pronunciou, terminando de comer. Olhou para o filho e acariciou-o rosto. – Mas, eu não posso falar que você é bonito...

- Park! – Sra.Kim se sentou do outro lado da mesa, deixando a tigela sob a mesma, a encarando, incrédula. Sra.Park apenas a olhou, debochada, e voltou a olhar para o filho.

- Não posso falar que você é bonito, porque só você pode dizer isso. Você precisa SE amar, e não depender da opinião dos outros, principalmente daqueles moleques. Você me entende, querido?

- Sim, mamãe. – Chanyeol levantou os olhos e sorriu para a mais velha, que sorriu de volta. Desprendeu-se de sua cintura e puxou a tigela para mais perto de si, começando a comer.





Park já havia perdido a conta. Era difícil contar os anos, meses, sem um calendário. Mas, pelo menos, já fazia seis anos que não comia junto de sua mãe. Partira quando completou seus treze anos devido a um problema de saúde, simples, não tratado, desde que não tinham dinheiro para pagar por medicamentos tradicionais. Lembrava-se disso toda vez que fazia aniversário, e tinha de cantar parabéns pra si mesmo, sozinho. E claro, comer o primeiro pedaço. Acabara de completar 19 anos e sua mãe não estava lá para ver. Suspirou fundo ao imaginar lembranças inexistentes que seriam criadas se ela ainda estivesse lá. Levantou-se da mesa da cozinha e foi até seu quarto.

Procurou entre suas poucas coisas e finalmente achara o mapa das redondezas que havia ganhado de seu vizinho em seu aniversário de quinze anos, onde dizia querer ser um explorador quando crescesse. Os anos mudaram, e seus desejos também.  Decidiu que sairia daquela cidade onde só o julgavam, principalmente por não se encaixar nos padrões de beleza necessários para uma sobrevivência. Sentou-se no chão, abriu o mapa e correu o olhar, passeando o indicador pelo papel velho. Nenhuma cidade o interessava, com exceção de uma: Bulvor. Só havia ouvido falar dela pouquíssimas vezes, e era isso que o deixava ainda mais interessado. Não costumavam falar de Bulvor pelo simples fato de lá ser proibido espelhos. As pessoas não podiam olhar para seu próprio reflexo, e nem refletir outras imagens. Sorriu depois de muito tempo. Parecia ser o lugar perfeito pra si, e tinha dinheiro o suficiente pra passagem de trem.

Esticou-se e pegou uma bacia abaixo de sua cama onde guardava seus pertences e utensílios de desenho. Pegou sua caneta e o molhou no tinteiro, e logo após, circulou Bulvor, bem grande, e decidiu que partiria ao anoitecer. A ansiedade gritava dentro do peito só de pensar que finalmente poderia começar uma vida nova.

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⏰ Última atualização: Jan 08, 2021 ⏰

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