CAPÍTULO 1

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Baixinho recito a carta do Eduardo, cada maldita palavra que ficou gravada na minha mente, cada frase que me destroçou quando comecei ler depois de recebê-la pelas mãos de André.

Dudu tinha tanto medo de que eu o abandonasse, mas não é irônico que quem me deixou foi ele? Sim, é irônico. Ainda dou risada disso até hoje, mesmo que já tenha se passado cinco longos anos.

Sei que isso são águas passadas, tudo que sentia por ele morreu há muito tempo, principalmente depois de afogar minhas mágoas, nas lutas, bebidas, festas, mulheres e talvez alguns homens. Qual é? Você achou mesmo que eu iria ficar choramingando por tantos anos? A dor de ser abandonado por alguém que virou seu mundo de cabeça para baixo precisava ser sufocada até não restar mais nada. Lamento que não deu certo nosso relacionamento, e no fundo agradeço a Eduardo por abrir meus olhos sobre o mundo novo, mas a vida seguiu o fluxo.

Dentro da cela na prisão, e deitado na cama estalo a língua. Fiz tanta coisa de errada nessa porra de vida, por isso quero continuar preso, aqui tenho certeza que irei foder com o que me resta. Mamãe, Marcus, André, e até mesmo Sebastian, não aceitaram minha decisão, mas é o melhor para todos. Eles vivendo lá fora, e eu aqui enjaulado.

Dispensei inúmeros advogados, não preciso e nem quero defesa. Confesso que foi divertido espantá-los. Solto uma risada lembrando das ameaças, insinuações, e as vezes fui surpreendido por alguns que se manteve firme exercendo a função pelo qual foi pago.

Almofadinhas interesseiras se sujeitam a tudo por dinheiro.

— Ei, levanta. — O agente penitenciário chama minha atenção, enquanto abre a cela segurando o par de algemas. — Você tem visita.

Encaro-o com a sobrancelha arqueada, e continuo deitado.

— Já disse não quero ver ninguém. — Resmungo.

— Boneca, você não tem que querer nada, agora, levante-se e vamos logo acabar com isso. — Exclama passando a mão no cassetete que está preso no suporte do cinto.

Estreito os olhos em sua direção, fico em pé me elevando sobre ele, e fico mais alto. O idiota pode ser guarda, mas veio puxar briga com o homem errado.

— Eu disse — digo entre dentes. — Que não quero ver ninguém, está surdo? Tenho que repetir?

Cruzo os braços, daqui não saio. Lançando-me um olhar de puro ódio e revolta, o homem pega o rádio de comunicação.

— Júlio — fala para pessoa do outro lado da linha. — Desce aqui, tem um babaca querendo dar uma de espertinho.

— Ora... ora... não consegue dar conta senhor? Precisa de ajuda extra, ou está com medo de... digamos. — Coloco a mão no queixo, fingindo pensar. — Oh já sei... — estralo os dedos, meu sorriso só aumenta. — Apanhar?

Não quero me gabar, mas cá entre nós, sabemos que eu era um lutador, o melhor. É uma pena que um X9 resolveu abrir o bico e contar para os federais sobre as lutas clandestinas, agora estou aqui! Puxando briga com um guarda, aaaa... se eu não tivesse sido pego.

— Um conselho rapaz, se eu fosse você aprendia a controlar essa língua, ou ela irá te causar muitos problemas aqui dentro. — O homem diz entre dentes.

Parece que alguém está bravinho, dou de ombros.

— Sorte que não somos a mesma pessoa então né. — Inclino-me na parede, sorrindo. — Aliás, talvez seja o que eu quero senhor, uma boa briga é sempre bem-vinda.

O homem abre a boca para falar, mas é interrompido quando outro guarda chega acompanhado por mais dois, essa cela está ficando lotada e isso me irrita.

— Tudo bem por aqui?

Encolho meus ombros, olhando para cada um deles.

— Digam-me vocês.

— Esse espertinho tem visita, porém não quer recebê-la. — Conta o primeiro guarda.

Reviro meus olhos bufando, quantas vezes terei que repetir a mesma merda.

— Eu já disse: Não... Quero... Ver... Ninguém. — Digo pausadamente, talvez eles sejam burros, por isso não entendem. É uma boa hipótese. — Me respondam uma dúvida. — Começo a dizer, fazendo eles me olharem curiosos. — Todos os guardas são assim como vocês, tapados? — Um por um, eles começam a se aproximar do meu pequeno espaço, com uma expressão de raiva. Ops! Será que eu disse algo errado? Bom, não me lembro.

De cabeça erguida somente espero, eu já sei o que está vindo, e não nego que estou ansioso pra isso. O primeiro guarda ergue o cassetete pronto pra me acertar, porém sou rápido e seguro o objeto sorrindo sarcástico, desafiando-os.

Ganho socos no rosto e logo sinto sangue escorrer do meu nariz até a minha boca, ao mesmo tempo recebo pancadas em minhas costelas enquanto estava distraído, isso me deixa sem fôlego, curvo-me um pouco, golpes e mais golpes com força são deferidos nas minhas costas. Tenho certeza de que amanhã estarei cheio de hematomas, mas que se foda!

Agarro o primeiro idiota que está na minha frente, derrubando-o no chão, fico sentado sobre ele e começo a acertar murros na sua cara, meu punho dói.

Um braço rodeia meu pescoço, estrangulando-me enquanto me puxa de cima do guarda caído e desnorteado, cravo minhas unhas na pele do guarda que me sufoca tentando me liberar e respirar um pouco, mas ouço ele praguejando.

Não vai demorar muito para eu acabar desmaiando por falta de oxigênio, meio inconsciente consigo ver que outro babaca fica parado na minha frente segurando um par de algemas que brilha por causa da luz.

Respiro com dificuldade, enquanto consigo um pequeno apoio no chão, com um salto acerto um chute duplo na barriga do guarda, afastando-o de mim. O golpe faz com que meu corpo vá para trás com velocidade, batendo no guarda que está me sufocando com tudo na parede, me solto do seu agarre.

— Porra. — Digo rouco com a garganta dolorida, coloco a mão no pescoço, tenho certeza de que está vermelho.

Sinto o gosto metálico de sangue, passo minha língua pelo canto da boca achando o machucado. Escuto um movimento e de repente um estremecimento toma conta de mim, me fazendo cair de joelhos no chão gritando e tremendo, algo passa queimando por cada centímetro do meu corpo, deixando-me com mais dor.

Meu coração bate com uma velocidade acelerada enquanto a dor só aumenta, meu corpo se convulsiona no chão, minha garganta se fecha, não consigo respirar.

— Não parece tão machão agora, né? Babando nesse chão imundo, esqueceu com quem está mexendo. E aí rapaz, como é tomar choque? — Abro a boca tentando responder, mas só consigo pensar na dor que não para. — Leve ele para a solitária, está merecendo.

Ao escutar essa última frase, fecho meus olhos com lentidão enquanto a escuridão toma conta, acabo desmaiando.

Eu ainda amo você ( DEGUSTAÇÃO ) Duologia amor - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora