Sabe aqueles dias que você sai da cama com a sensação de que não devia ter saído? Allison se levantou se sentindo exatamente assim. Não que ela tivesse escolha, é claro. Tinha que chamar o Henry, seu filho, se arrumar, chamá-lo de novo, arrumar o café da manhã e o lanche, tirá-lo da cama a força, deixá-lo na escola e ir trabalhar. Talvez não fosse lá uma boa ideia colocar uma criança de oito anos para estudar de manhã, principalmente com o trabalho que ele dava para acordar cedo, mas desde o divórcio era o melhor que ela conseguia fazer, mesmo que por vezes ele tivesse que ficar com a irmã dela ou até mesmo seu cunhado.
Allison não se considerava uma pessoa muito sensitiva, vez ou outra tinha um pressentimento sobre alguma coisa, mas nesse dia ela sentia que alguma bomba explodiria e colocaria seu dia de cabeça para baixo. Ela só esperava que não fosse demitida.
Assim como todos os outros dias, a rotina de manhã foi a mesma. Bray não tinha muito trânsito nunca e pontualmente às sete Henry estava na escola. Se despediu dele com um beijo no topo da cabeça, ele resmungou e fez uma careta, o que também não era novidade. Desde o divórcio ele tinha se tornado uma criança mais difícil.
Assim que entrou no carro novamente, pegou sua agenda no banco do passageiro e conferiu o primeiro compromisso do dia, visita na casa de um casal de clientes às oito. Ela não gastaria mais que dez minutos para chegar lá, estava tranquila, tinha preparado todas as sugestões que poderiam agradá-los para decorar a casa. Respondeu algumas mensagens e alguns e-mails no próprio telefone enquanto esperava o tempo passar. Deu partida novamente no carro e iniciou o caminho para a casa deles.
Mal tinha dobrado a primeira esquina e seu telefone começou a tocar dentro da bolsa. Deixou tocar já que odiava mexer no celular enquanto dirigia. A chamada foi encerrada, mas logo o toque recomeçou e, da terceira vez que começou a tocar, sua preocupação falou mais alto e ela tateou dentro da bolsa até achá-lo. Soltou um riso irônico ao ler o nome do ex-marido na tela, deveria estar morrendo para estar ligando tanto e tão cedo.
- Alô. - atendeu demonstrando a vontade inexistente de manter contato com ele.
- Allison, é o Chris. - rolou os olhos, era óbvio que ela sabia quem era, reconheceria a voz mesmo se não tivesse o número.
- Eu sei, o que foi? Estou ocupada. - queria que ele falasse de uma vez.
- O jogo do Henry é amanhã, não é? - estranhou que ele lembrasse, geralmente ela precisava mandar uma mensagem ou Henry mesmo ligava para o pai.
- É sim, às cinco da tarde. - confirmou e por um momento pensou que Chris pudesse estar mais interessado na vida do filho.
- Eu não vou poder levá-lo. - óbvio que ela estava enganada, mas não era nenhuma surpresa.
- Não tem problema. Eu levo e fico lá até você aparecer, você passa um tempo com ele e deixa ele em casa depois. - não era um sacrifício tão grande assim.
- Você não entendeu, Allison. Eu não vou. - e o autocontrole dela deixou de existir.
- Como é que é? - falou alguns tons acima no telefone. Ele era inacreditável. - Henry está morrendo de saudade de você. Ele risca os dias no calendário esperando o dia de ver você no jogo de futebol dele, já que você não foi nos dois últimos.
- Eu tenho que trabalhar, sabia? - um riso irônico escapou.
- Só você, né? Eu não tenho. - ele a ignorou.
- Olha Allison, eu não tenho tempo para o seu drama. Só avise o Henry.
- Não vai ter nem a decência de ligar para o seu próprio filho e contar? - voltou a elevar o tom de voz. - É claro que não, quem fica de malvada na história sou sempre eu. - Chris desligou o telefone na cara dela e a raiva já tinha tomado conta. Jogou o aparelho com força no banco do passageiro e quando olhou para frente era tarde demais.
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Barefoot on the Grass
RomanceEle ficou viúvo muito antes do que podia imaginar. Sozinho e com uma filha para criar, não hesitou em aceitar o emprego de compositor em um estúdio na cidade de Bray na Irlanda. Novos na cidade, eles não sabem das fofocas que circulam e vão acabar c...