Você devia ter contado a verdade

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Bianca e Guilherme voltaram para a mesa em silêncio. Ela ainda tentava organizar o que estava acontecendo e ele não conseguia disfarçar a felicidade, pois esperava uma recusa que não aconteceu. "Hmmmm... felizinhos. O que tavam fazendo nesse banheiro tanto tempo?" Mari perguntou em forma de deboche. Bianca respondeu com um pedido de ir embora e Guilherme se ofereceu para pagar a conta. Ele se despediu com um beijo no rosto das duas depois de pedir para que Bianca lhe desse seu número de telefone. Ela entrou no Uber com Mari e seguiram para casa. "Tá tudo bem?" Mari perguntou preocupada vendo que Bianca tremia como se sentisse muito frio. Bianca respondeu que queria apenas ficar abraçada com ela na cama e foi isso que fizeram naquela manhã.

Mari brincou com Aurora pela manhã enquanto Bianca dormia e voltou ao quarto quando a menina saiu para passear com a babá. "Tá melhor?" ela perguntou fazendo carinho na bochecha de Bianca. "Eu beijei o Guilherme" Bianca disse, demonstrando vergonha. "Eu sei... Todo mundo ficou sabendo na época" Mari respondeu. "Não, Mari! Ontem. Eu beijei ele ontem, mas eu juro que eu não sabia que era ele!" Bianca praticamente se desculpou. "Tudo bem, a gente não tem um relacionamento sério, a gente fica com outras pessoas, não tem problema" Mari foi compreensiva, ainda sem entender muito porque aquilo incomodava tanto Bianca. Elas desceram para a cozinha e Bianca continuou pensativa durante toda a tarde, até que recebeu uma mensagem de Guilherme pedindo para conversar.

"Podemos marcar um almoço" Bianca sugeriu, mas Guilherme preferia algo mais informal "Não é um assunto pra conversarmos num restaurante. Pode ser aqui em casa? Eu preparo algo". "Prefiro que seja na minha casa" Bianca respondeu com medo de ficar sozinha com ele novamente. Eles marcaram para o dia seguinte, enquanto Aurora estivesse na escola. Miguel a levou e quando voltou, encontrou Guilherme tocando a campainha e o cumprimentou com um "Oi" seco. No primeiro andar da casa, Bianca já o aguardava em sua mesa de trabalho. Não houve aperto de mão, muito menos beijo no rosto. Ele se sentou e Bianca imediatamente perguntou "O que você quer?" deixando Guilherme confuso. "Eu quero assumir a minha filha, fazer o que todo pai faz" Guilherme deu uma resposta genérica. Ele não sabia na realidade o que um pai faz, mas queria estar perto de Aurora. "Se for preciso a gente faz um exame de DNA, eu já falei com o meu advogado, não sei como tá a certidão dela" ele continuou. "DNA? Você tem alguma dúvida? Eu sei que eu não sou santa, mas..." Bianca começou a aumentar o tom de voz e foi interrompida. "Não! Não estou duvidando. Na real eu nunca tinha parado pra pensar direito nisso... Na época eu achei estranho o lance da inseminação, achei que você tivesse ficado com outro cara, você poderia ter me contado" Guilherme se explicou. "Te contado enquanto você estava fazendo mil lives com os seus fãs psicopatas, alimentando um casal que não existia, ou entre um e outro presente com a cara da Gabi? Você me bloqueou em tudo, não fez nem questão de perguntar, não viu nem uma foto dela... Agora quatro anos depois quer fazer DNA. Eu escondi a minha filha pra proteger ela e a minha carreira, por que eu sabia que ela não ia ter um pai que segurasse a barra se eu perdesse tudo" Bianca finalmente olhou nos olhos de Guilherme, coisa que ela estava evitando desde o beijo. "É... eu fiz merda, eu acho" Guilherme abaixou a cabeça.

"Mas agora a gente pode fazer diferente" Guilherme voltou ao assunto após um silêncio longo no ambiente. "Você acha que forçar situações pra ver a minha filha é uma boa forma? Eu poderia te denunciar e pedir uma ordem de restrição se eu quisesse. Eu não vou te deixar entrar na vida dela do dia pra noite, não espere isso" disse Bianca. "Eu posso dividir tudo, as contas..." Guilherme tentou cortar, mas Bianca continuou "Contas? Não é dinheiro o problema. Ela tem uma rotina, as pessoas que sempre estiveram aqui, você não pode chegar simplesmente dizendo que é o pai e confundindo a cabeça dela. Não vou te impedir de ter contato, claro, mas vai ser aos poucos. Eu ainda vou planejar direito isso" Bianca terminou e se virou para o notebook em cima da mesa. Guilherme percebeu que não tinha muitas opções, visto que havia chegado tão atrasado. Mais alguns minutos de silêncio e Bianca pegou o celular. Pediu o número de Guilherme e o adicionou novamente ao aplicativo de mensagens, depois pediu que ele fosse embora antes que Aurora chegasse. Guilherme obedeceu, para evitar problemas, mas ficou sentado numa pracinha de onde conseguia ver o portão até que a menina entrasse em casa. Ele esperou alguns dias, mas Bianca não lhe enviou qualquer mensagem.

Enquanto isso, ela tentava preparar a filha para os próximos acontecimentos e pediu a ajuda da psicóloga da escola. As crianças começaram a ensaiar uma apresentação para o dia da família, evento que aconteceria na semana do tradicional dia das mães, e teriam que levar seus pais e cuidadores. "Na cabeça dela, o Miguel é o pai, eu pedi emprestada a sementinha e tudo certo" Bianca contou a versão que até 2 meses antes fazia sentido. "Você devia ter contado a verdade, que o pai morava longe, talvez ela não ligue mas há uma chance dela se sentir traída" A psicóloga explicou.


Futuro - GuiancaOnde histórias criam vida. Descubra agora