EU NÃO AGUENTO MAIS

IHATEYOU

as penas intensamente brancas de uma águia se estendem ao pé de uma montanha pavimentada por prismas que impossibilitam o escape, mesmo que ao redor as cordas e grades não sejam vistas à olho nu. eu poderia gritar para as paredes pintadas em falso mármore para que armas sejam prontamente engatilhadas, porque as multifaces de seunghee escondem muito mais do que lábios em formato de coração, pele cor de caramelo e cabelos ondulados e desejosos como ondas calmamente se derramando dentro de delimitações oceânicas.

e eu odeio ter que admitir que gosto muito de ser vigiada por olhos calculistas enquanto executo atividades insignificantes e passivas do dia a dia, porque eu gosto mais do que deveria de me sentir observada por uma ave assassina, a adrenalina não é substituída de minhas veias pulsantes mesmo que por milésimos. e eu amo não aguentar mais perseguir a sombra de um demônio dentro da minha própria jaula.

mesmo que seus cabelos ondulados não estejam perfeitos ao olhar e mesmo que seus lábios em formato de coração escondam dentes afiados com sede de sangue em seu interior. independente do fato, mesmo eu que eu não aguente mais procurar por algum lugar nessa armadilha que não esteja gritando por socorro e misericórdia quando seus olhos encontram a luz do dia percorrendo extremidades douradas brilhando como quem pode simplesmente esperar para que o sol revele onde o tesouro esteve escondido por todo esse tempo. e essa é toda e absoluta verdade. eu não aguento mais desejar uma vingança, ainda mais sabendo que a juventude se esvai pelos pequenos canais lacrimais em meus olhos cada uma das vezes em que a lua atinge seu ponto mais alto no céu.

seunghee sempre gostou de morder maçãs envenenadas mesmo que todos nós ao redor de sua redoma soubéssemos que nenhuma delas possuia veneno mais maligno que sua simples existência.

corroendo a misericórdia humana enquanto desafia limites estabelecidos pelo próprio suicídio arquitetado.

mas existem coisas que ninguém nunca me disse e eu fui obrigada a descobrir com as minhas próprias dificuldades enquanto pensava ser objeto de algo maior.

somos seres individuais, inevitavelmente.

águias também perdem penas, libertando o mal de quem sempre prometeu a deus que estaria a estraçalhar o leão começando pelo coração antes mesmo que a lua atingisse seu vigésimo quinto céu dezembrino quando a neve permeasse minha pele como estrelas inutilmente fazem dia após dia enquanto o sol ainda brilha morno.

sei que ao suas garras tocarem a superfície adormecida da minha face pálida, poderíamos nos tornar algo mais além de um conjunto de alvéolos.

nomeio-a águia porque sei do potencial de um corvo.

no pé daquela montanha, jazem suas penas intocáveis.

e nós vamos andar juntas com dedos entrelaçados até que deus nos permita voar.

mesmo que você morra, corvos continuarão envolta do bolo de casamento.

mesmo que você queira me matar... eu ainda não te odeio.