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ARABELLA BLANCHARD

5 ANOS ATRÁS.

O colchão é macio contra meu corpo, tenho uma pequena saia em minhas pernas e uma blusa agarrada, está um calor tremendo e não sei como o controlar. Saio do meu quarto prendendo meus longos cabelos loiros e ouço Noah em seu quarto, provavelmente com sua nova namorada do mês, tanto faz. Caminho até as escadas largas e desço em pequenos saltos, sinto meu corpo cheio de energia por conta do verão. Vou até a cozinha, mas algo me interrompe. Uma discussão, vozes bravas e alteradas. Saio da cozinha silenciosamente tentando ouvir de onde vem, olho para a sala de jantar. Nada. Caminho até a sala de estar. Nada. Começo a andar para o quintal, na parte de trás, abro as enormes portas de vidro e coloco a cabeça para fora.

Maldita seja a sua curiosidade, Arabella, meu cérebro me xinga.

Ando pela a parte de fora, meus pés descalços pisam suavemente sob o piso escuro e continuo andando até a lateral da casa, começo a ouvir perfeitamente a discussão. São meus pais. Meu pai se parece muito irritado. Não consigo os ver, mas consigo ouvir, minha mãe está chorando, e meu pai está irritado. Ouço um barulho de vidro quebrando e minha mãe implorando para ele parar, começo a me sentir mais assustada e tento me aproximar, ouço um estalo alto e depois um choro abafado. Corro em direção e olho para os meus pais.

Meu pai tem uma garrafa vazia de vidro quebrada em sua mão, seus dedos estão ensanguentados e o rosto da minha mãe se encontra vermelho, vejo seu braço com um corte superficial, mas que sangra consideravelmente. Eles me encaram perplexos e posso vislumbrar os olhos do meu pai, vermelhos como fogo, ele tem as bochechas rosadas e uma expressão sombria. Seu ódio é direcionado para mim e ouço minha mãe silenciosamente pedir para que eu vá embora.

Ele está completamente bêbado, e minha mãe está apavorada e machucada. Maldita seja eu com meus 16 anos nas costas achando que minha coragem pode salvar o mundo. Me aproximo deles e pego em minha mãe, sinto meu pai se aproximar de mim e agarrar em meus cabelos com força, grito com a surpresa e apenas tenho tempo de ouvi-lo sussurrar.

– Da próxima vez em que você se meter em assuntos de adultos, eu vou acabar com essa sua vida adolescente – seu hálito alcoólico quase me embriaga – Já te disse para não se vestir como uma vadia, vista roupas mais compridas ou acabará grávida e sozinha.

Ele solta meus cabelos com força me fazendo cambalear sobre minha mãe, ele sai andando em ziguezague e some de nossas vistas, encaro minha mãe que está chorando e eu apenas mantenho meus olhos bem abertos e a abraço.

Sinto o inferno queimar sobre a minha vida.


SEU HÁLITO QUEIMA EM CIMA DE MIM, seus olhos são raivosos, há algo nele que está mais em desordem do que eu. Ele levanta a garrafa vazia a cima das nossas cabeças e continua me olhando, de perto, respirando fundo e torcendo os lábios para baixo com nojo, raiva e principalmente desgosto de mim. Ele tenta se manter em pé a minha frente e minhas pernas se tornam mais bambas, meu coração fraqueja por milésimos de segundos, tudo a minha volta parece se desintegrar enquanto ele levanta sua palma e choca ela contra meu rosto.

Meu rosto é virado brutalmente e minha bochecha pega fogo, lágrimas ousam se acumular em meus olhos e volto meu rosto para ele, o olhando com todo o ódio que venho acumulando dentro de mim. Respiro fundo e minha boca saliva com mais intensidade, fecho meus punhos em forma de soco e ele apenas começa a rir. Ele olha profundamente em meus olhos e ri, como se eu fosse uma piada.

– Você nos preocupa – ele levanta novamente a sua palma e passa sobre a minha bochecha avermelhada. Me sinto enojada e todo o efeito de álcool que eu tinha dentro de mim cessa rapidamente.

𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄𝐋𝐋𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora