Onde Pertencer

Cap. 1 - Lilian

Chegamos a um certo ponto da vida que temos que começar a projetar nosso futuro e ambições, casa, comida, boletos e tudo na ponta do lápis e escrito no caderno pra não se perder, mas essa tarefa não cabe a nós quando somos crianças então as coisas sempre são mais fáceis, nos deixa com uma certa nostalgia bonita dessa fase. Não saber o que fazer é completamente normal e humano, mas não deixa de ser assustador e temível, isso sou eu tentando me convencer em frente ao espelho com um vestido azul claro com flores na barra, de que está tudo bem, afinal estou fazendo vinte e dois anos e tem uma linda festa me esperando e eu estou linda a minha maneira, ou seja a melhor hora para o meu cérebro explodir a bomba que é a crise existencial. Deito na minha cama refletindo o que vou fazer da vida, acabei de passar na faculdade, vou morar no dormitório com a minha melhor amiga, vou ter que arranjar um emprego e tenho o namorado mais amável do mundo, será mesmo que minha vida tem que ser essa ou arrumo uma mochila e faço uma louca viagem só de carona pelo mundo? Eu estou sendo literalmente muito dramática e tenho ciência disso. Parei pra pensar que talvez eu não tenha vivido tudo aquilo que devia, quer dizer.... Eu não sei se era pra ter mais coisas no meu destino, mas, tudo foi tão monótono. Ótima estudante, ótima filha, ótima amiga, péssima em matemática, péssima em bebida, chata pra balada, de casa pra escola e as vezes uma sorveteria e algumas idas shopping, varias e incontáveis noites na cama e a Netflix, mas sempre no mesmo após arranjar um namorado, tudo era perfeitamente normal, isso por que nem cheguei a ter o dito sexo!

Respirei fundo, no mesmo instante meu celular fez um som parecido com o antigo MSN, avisando que tinha uma nova mensagem para ser lida, peguei e antes de olhar a mensagem fiquei admirando minha nova foto de bloqueio, quando Greg tinha me dado um pequeno filhote de golden de presente de namoro que deixei na casa dos meus pais, já que minha mãe se apegou demais a cadelinha na qual ela colocou o nome de Gucci, desbloqueie a tela e li a mensagens na aba de notificação, a mensagem dizia : "Minha tutuzinha? Já esta pronta?". Rolei os olhos, já não lembro mais a quantidade de vezes que pedi que me desse um apelido carinhoso normal.

-- Tem certeza que ainda quer ir? – diz minha amiga Cassiane ao entrar no meu quarto, quando eu estava prestes a responder a mensagem de volta, ela cruza os braços e não está com uma cara das melhores – Sério, Lili não vai sair por essa porta com esse vestido e pode por favor ao menos colocar um gloss.?

-- Você tem noção das coisas que me pede? Já viu meu armário? Eu não uso as mesmas roupas que você e eu já estou de gloss. – disse me sentando na cama olhando pra ela com tedio pra toda a sua ladainha.

-- Você tem calça e várias blusas lindas que te dei de aniversario, Lili. Não me faça ter que te arrastar por esse quarto - ela suspira, enquanto revira no meu guarda roupas as poucas roupas que ainda estão penduradas e não estão empacotas, ela vira de costas e repara que ainda estou sentada na cama olhando pro teto, vem em minha direção e senta na cama ao meu lado – Certo...No que está pensando?

-- Talvez... Só talvez estou tendo uma leve crise existencial e pelo amor de deus só estamos indo a um luau, não necessita calça.

-- Vamos fazer o seguinte, vai assim mesmo... – eu a escutei sussurrar olhando pra cima 'o importante é ir foca Cassiane' – não está deslumbrante como eu imaginava, mas está a sua cara... e quanto a sua crise existencial, para de pensar só um pouco dessa vez, aproveita essa noite.... Amanhã já temos que viajar e ir pra faculdade, você sempre reclama que nunca faz nada demais e toda vez que surge oportunidades como essa você dispensa, então vamos lá Lili, você prometeu que ia. – disse me chacoalhando, olhando pra mim com uma cara pidona e ela estava certa, sempre penso demais nas coisas.

- Está bom, está bom... Que saco Cassiane, pega lá a minha chave de casa e enfia na minha bolsa, que eu vou por pelo menos uma cor de batom está feliz? – ela deu um pulo no quarto e levantou os braços pra cima gritando: finalmente senhor, obrigada.