Todas as noites antes de ir dormir, a mãe de Thomas lhe contava as histórias que seu bisavô lhe contou, e essa noite, era a história sobre a guerra
- Há muitos anos, as criaturas místicas e os homens viviam em paz e então, um dia, ambos entraram em confronto. Os plebeus nunca souberam o que aconteceu para a guerra ser declarada e os nobres nunca quiseram contar. A batalha durou três anos de dor e tortura em que os humanos eram massacrados. O rei, vendo que iria perder aquela disputa, fez um acordo com as criaturas, o dia era dos humanos e a noite, delas. O acordo foi aceito com uma condição, todo e qualquer humano que resolvesse ficar fora de sua casa após o pôr do Sol ficaria por sua conta e risco durante a noite. Se ele fosse morto, sequestrado, torturado ou manipulado, ninguém deveria intervir e é por isso que eu te peço, Thomas, mesmo que você não acredite nas criaturas, jamais fique fora de casa ao escurecer - Eliza, sua mãe, o avisou e embora Thomas quisesse falar algo, ele permaneceu em silêncio e assentiu para ela, vendo-a relaxar. Deixando um beijo em sua testa, Eliza sussurrou - Boa noite, Tom.
Observando sua mãe sair, ele olhou para as madeiras em sua porta e viu a pouca claridade do Sol sumir. Os barulhos começaram, gritos, conversas e os barulhos nas árvores ficaram mais altos, como se estivessem saindo de dentro da floresta. Thomas, ou Tom, como sua mãe o chamava, nunca acreditou nessas criaturas, se ele não pode ver, então não existe. Sua teoria era de que essas criaturas eram só uma desculpa para que ele dormisse cedo.
Como robôs, ao nascer do sol, os adultos levantavam e começavam a desobstruir as portas e janelas. Tudo era feito em silêncio e só depois de guardar as madeiras eles ousavam falar. A palavra "bom dia" não passava de um sussurro, os passos quase não podiam ser ouvidos enquanto os adultos abriam as portas com suas respirações curtas e abafadas pelo medo, apenas para relaxar ao ver tudo vazio.
Enquanto as crianças dormiam, os adultos arrumaram a bagunça feita pelas criaturas da noite. Ninguém falava nada, apenas os barulhos feitos ao varrerem chão e tirar as evidências de que alguém passou por lá podiam ser ouvidos. Como todos os outros dias, ao terminarem, aqueles que tinham filhos os acordavam e a rotina continuava a mesma: as crianças comiam e então iam brincar, alguns adultos iam para a cidade e outros ficavam na aldeia para cuidar das crianças e fazer outras coisas.
Entretanto, uma coisa foi diferente, um garoto, ao invés de brincar com as outras crianças, estava atrás de sua casa e observava a floresta iluminada. Thomas não acreditava nas criaturas, mas sempre teve curiosidade para saber o que acontecia depois do pôr do Sol, e então uma promessa silenciosa foi feita, quando ele se tornasse adulto, iria ficar fora de casa e ver a verdade do que acontecia durante a noite. Mal sabia ele que aquela promessa havia selado seu destino.
Ao decorrer dos anos, Tom nunca se esqueceu de sua promessa, quanto mais tempo passava, mais sua curiosidade aumentava e sua vontade de sair de casa a noite ficava maior. Sua família já havia percebido, mas nunca falou nada e ele nunca se interessou em saber o porquê. Quando seu aniversário de 18 anos chegou, uma festa foi feita e uma hora antes do sol sumir, todos começaram a arrumar suas coisas. Sua mãe o olhava estranho e quando os gritos "volte para casa" puderam ser ouvidos, Eliza desviou o olhar e se aproximou mais de seu filho.
- Tom, por favor, volte para casa - sua voz mal passava de um sussurro sofrido.
- Não posso, mas eu prometo voltar para casa depois que eu tiver confirmado uma coisa - Tom falou vagamente, não ousando olhar para sua mãe. Se ele a visse, imediatamente iria mudar de ideia e não queria isso.
- Tom... Thomas, por favor, volte para casa - a voz de Eliza estava um pouco mais alta e ela finalmente teve coragem de olhar seu filho, apenas para vê-lo? olhar para a floresta e, naquele momento, sentiu que o havia perdido.
Seu marido se aproximou, olhou para Tom e sussurrou no ouvido dela.
- Vamos Eliza, ele já se decidiu, não podemos fazer nada. Você sabe que as leis não permitem. - Sendo puxada para casa, ela nunca desviou o olhar de seu filho, apenas o perdeu de visão quando as madeiras foram colocadas na janela.
O Sol pouco a pouco ia sumindo e Thomas se escondeu atrás da sua casa, tentando não se arrepender da sua decisão. No segundo que o sol sumiu os gritos puderam ser ouvidos, para o seu terror, criaturas de verdade saíram da floresta e então toda a teoria de Tom se foi. Elas eram reais, as criaturas das histórias de sua mãe eram reais. Aproximando-se mais da janela de seu quarto, ele considerou bater na porta e pedir para sua mãe abrir, mas sabia que Eliza jamais faria isso, pois em suas histórias existiam criaturas que podiam imitar alguém, seja a aparência ou a voz, sua mãe jamais abriria a porta.
Sentindo o medo dominá-lo, Tom dá passos para trás, apenas para cair no chão ao sentir bater em alguém. Seu primeiro instinto foi se desculpar, mas sua voz morreu ao ver aqueles olhos vermelhos e dentes afiados. Vampiro, era assim que ele iria morrer? Morto por um vampiro em busca de uma refeição? Mais do que tudo, Tom se arrependia de não ter entrado em casa.
- Olhe o que temos aqui - O vampiro falou - Faz tanto tempo que eu não saboreio sangue humano - A criatura se agachou para ficar na altura dele - Mas para sua sorte, eu quero dar um presente a um amigo meu. - O monstro o pegou no colo e começou a andar enquanto Tom começou a gritar e se debater, exigindo que ele o soltasse.
Depois de um tempo, sentindo que não havia mais esperança, ele olhou uma última vez para sua casa, despediu-se silenciosamente de seus pais e observou a estrutura sumir de vista quanto mais o vampiro entrava na floresta. Tom não soube quando perdeu a consciência, mas não ficou surpreso, ele sempre dormiu cedo, então era normal não aguentar ficar acordado até mais tarde.
Esticando-se, finalmente percebeu que não estava em sua casa, mas sim em uma caverna, lembrando-se do que aconteceu antes de dormir. O garoto olhou em volta e começou a andar em uma direção aleatória, mas não viu a luz da saída e parecia que alguém havia construído um jardim ali.
- Finalmente você acordou - A voz ecoou por toda a caverna, fazendo Tom pular de susto - Não precisa se assustar, eu não mordo - Uma risada pôde ser ouvida. Olhando para os lados, Tom começou a procurar a origem da voz e ao voltar seu olhar para cima, por um segundo, achou que fosse um anjo de tão belo, mas logo reconheceu a criatura. Fadas, sua mãe lhe deu uma explicação detalhada de como elas se pareciam e o avisou que elas eram extremamente perigosas, embora não tenha explicado o porquê.
- Estou feliz que tenha acordado - O sorriso daquela fada era belíssimo - Achei que Ellore tinha me trazido um humano danificado, fico feliz que não - Aquela fada sorriu para ele e Tom se sentiu tonto por um segundo - Ainda não me apresentei, sou Harry - A criatura falou, gentilmente.
- Haan... eu... eu sou... Thomas... minha mãe me chama de Tom - Ele não queria se apresentar, mas algo o obrigou a falar, e era óbvio que tinha sido Harry.
- Prazer em conhecê-lo Tom - Harry o abraçou - Estou feliz em ter um novo marido - Aquelas palavras despertaram Tom de seu transe e ele rapidamente empurrou Harry, fazendo-o cair no chão
- O que?! Não! Eu não sou seu marido! - Tom gritou indignado e viu Harry o olhar chateado
- Tom, não seja chato, você não me ama? - Harry falou triste.
- Eu não te amo! Eu nem te conheço! - Tom se sentiu assustado, e rapidamente começou a correr na direção oposta de onde se encontrava aquela fada, agora mais do que nunca querendo sair daquela caverna. Som de asas batendo puderam ser ouvidos, mas em seu desespero por fugir, ele não se importou em saber o que estava acontecendo até ser derrubado no chão e Harry o virar, ele estava chorando quando falou.
- Você me ama não é, Tom? - Harry parecia angelical com a luz de cima fazendo-o parecer mais delicado. Seus olhos verdes pareciam brilhar fortemente e a mente do humano ficou nublada por um segundo, até se lembrar das palavras de sua mãe, "fadas são perigosas, nunca abaixe sua guarda ao redor delas, elas podem te enfeitiçar com o encanto que elas têm", esforçando-se para sair daquela neblina que apossou sua mente, ele se forçou a falar.
- Não, eu não te amo, não te conheço e quero sair daqui agora, por favor - Sua voz estava trêmula, e o brilho nos olhos da fada ficou mais forte
- Tom... - A voz daquela fada era extremamente calma apesar da situação - Você me ama não é? - Não parecia ser uma pergunta e sua mente novamente voltou a ficar nublada. Os olhos de Harry brilhando mais ainda e ele já não conseguia mais se concentrar na sua família, nem nas palavras da sua mãe, tudo o que ele sabia era que Harry era lindo e que o amava tanto.
- Sim... sim, eu te amo Harry - Sua voz era monótona, seus olhos estavam cinzas e sem emoção enquanto Harry sorria e tudo no que Tom podia se concentrar era nele, o desejo de voltar para sua família foi esquecido quase como se nunca tivesse existido. Ele se levantou quando Harry pediu e, novamente, seguiu para o fundo da caverna com a fada sem nem olhar para trás, onde ele poderia ver o pouco brilho que a entrada da caverna estava causava.
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Após o pôr do Sol
FantasyThomas desde criança ouvia as histórias sobre a floresta atrás da sua casa, onde seres sobrenaturais moravam, sua mãe sempre o colocava para dormir quando o sol começava a se pôr, as janelas e portas eram trancadas com madeiras, e ele podia ouvir su...