Untitled Part 1

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Era sempre a mesma coisa, o dia amanhecia, ela pegava o balde de alumínio feito com os pedaços de uma panela velha e ia ao poço buscar a água que precisava ser fervida antes de ser usada no banho.
Ela odiava o balde, seu pai tentara fazer da melhor maneira, mas a borda repleta de pontas lhe causava pelo menos uns 3 cortes diários. O pior nem era a dor do corte, mas lembrar que seu pai havia prometido consertar o balde logo depois que chegasse do trabalho na fábrica. Mas ele nunca voltou e há 2 anos ela odeia aquele balde, mas por alguma razão, não consegue joga-lo fora. Então é ele que ela usa e, por mais que saiba que seria o melhor, não consegue consertar a maldita borda. Então ele fica assim, pois mesmo com todos os seus defeitos, aquele balde é único e perfeito.

Aliás, é sua única lembrança. As fotos, os presentes e outros bens foram queimados por sua mãe em um dos tantos momentos de desespero. Às vezes Ally acha que a mãe nunca vai conseguir se recuperar, mas ela tenta fazer o certo. Ela levanta, pega a água e faz o que precisa ser feito. Jordan precisa dela e a mãe também. Eles precisam do pouco que ela ganha vendendo as batatas e cenouras que planta na horta, felizmente consegue roubar esterco na fazenda enorme perto de sua casa, e isso faz as plantas crescerem rápido. Mês passado deu pra comprar um bom pedaço de pé de porco, Jordan parecia ter ganhado presente de Natal quando viu. Sua mãe não ligou tanto, mas sua mãe já não liga com quase nada. As vezes ela só fica lá, com aquele olhar distante na janela e Ally se pergunta se algum dia isso vai mudar e ela vai poder voltar às aulas que tinha com dona Clarisse. Faltava tão pouco, ela tinha chegado tão perto, ela ia ser a primeira da família a conseguir terminar os estudos com a dona Clarisse. Mas aí seu pai não voltou. Ele disse que se ela terminasse ia ganhar um vestido lindo, mas ele não voltou.

Então Ally repete sua rotina. Acordar, ir no poço, ferver a água e separar a água de beber da de cozinhar. Depois acordar Jordan, prepará-lo para as aulas da dona Clarisse e levar algo pra mãe comer. Ela fez isso aquele dia, como em todos os outros, e então saiu para buscar mais esterco para a horta. Tinha conseguido fazer muitas mudas da última vez e as quitandas começavam a ficar sem produtos por causa do número cada vez menor de entregadores que ainda se arriscavam a distribuir as mercadorias. Ally achava que em breve teria pé de porco de novo.

30 minutos de caminhada eram suficientes, mas Ally passava pela mata, onde poderia entrar no campo mais discretamente sem ninguém a ver. Sim, era tudo bem estranho e dava medo, mas a verdade é que até então tinha ido tudo bem. Mas então o que poderia ser aquela luz? Ally já tinha visto vultos de tudo, até de uma onça pequena da qual ela conseguiu se esconder. Mas aquilo era diferente, era uma luz estranha que a deixava curiosa. Era uma luz com forma e parecia se mexer. Uma brilho, mas não um brilho com raios, mas um brilho como uma geleia que se mexia. Que luz estranha era aquela?

Mas o que poderia acontecer? era só uma luz. Porque diabos ela queria ver tanto a maldita luz? Ally não sabia, mas precisava.

Ela de aproximou com cuidado, desviando dos galhos e insetos e animais incômodos que se espalhavam por todo lugar. Mesmo pisando lentamente, seus pés encontravam folhas e pequenos pedaços de madeira que quebravam que faziam um barulho ensurdecedor em meio a mata silenciosa. Um, dois, três passos. Uma pausa, um momento rápido de racionalidade em ver que aquilo era muito errado, mas por algo, seu corpo não ligava e novamente começava a andar. Um, dois o terceiro passo não veio, ficou tudo preto. E então ela não lembra de mais nada.

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⏰ Última atualização: Jun 07, 2020 ⏰

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