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Há quem diga que o diabo é um ser repugnante e cruel, mas, as testemunhas que já o provaram de perto, diziam como ele, ou melhor, ela era encantadora.
Yongsun bocejava pela décima vez enquanto lutava contra o sono e tentava se levantar da cama, que agora parecia mais atraente do que nunca, apenas a convidando silenciosamente para mais um cochilo. Resmungou algumas palavras desconexas e tirou as cobertas quentes de cima do seu corpo. Fazia bastante frio em Seul naquela época.
Tentou abrir os olhos enquanto tateava a cômoda ao seu lado em busca do relógio. Já são sete horas, concluiu ao olhar para a peça de madeira velha herdada de sua tataravó. Tiraria mais uma soneca se sua vida não dependesse dos estudos, literalmente.
Notas eram muito importantes para a família Kim, e não seria a caçula que tiraria algo abaixo de 10 na média escolar. Tinha que impressionar seus pais, afinal, devia todo o seu conhecimento e religiosidade a eles. Foram senhor e senhora Kim que a ensinaram a ser uma mulher direita. Mesmo que às vezes só a ideia de casar-se já a assustava. Tinha medo de não ser uma esposa perfeita para seu futuro marido.
Tremendo de frio e esfregando as mãos ainda mais frias que seu corpo nos braços, a garota tentava se esquentar de alguma forma. Afastou pensamentos ruins ou questionamentos bobos, colocou as mãos na cintura e sorriu para sua forma refletida no espelho do armário.
— Hoje vai ser um dia ótimo, Yong! Vai dar tudo certo. — repetiu as mesmas palavras que usava para motivar-se todos os dias.
Passou alguns minutos encarando seus detalhes. Uma pintinha aqui e ali, lábios grandes, um corpo que achava bonito...
Olhou-se no reflexo novamente. Sentia-se estranha, algo a faltava, só não sabia o quê.
— Yongsun! — a senhora Kim esbravejou na porta. — Você vai perder o ônibus.
Com o coração disparado, tentava aliviar-se do susto. — Sim, senhorita Kim, já estou indo. — Até mais, tenha um bom dia. — sorriu.
— Apresse-se, não tenho mais tempo, Yongsun.
— Certo. — pegou a mochila vermelha e saiu em disparada até o ponto de ônibus.
Chegando lá, ofegante, cumprimentou Jennie, sua amiga de longa data, que sorria alegremente como se o frio não a congelasse enquanto usavam apenas uma saia de pregas e uma meia-calça finíssima.
— Vejo que você perdeu a hora, não é, mocinha? — o sorriso fofo de Jen a invadia com uma energia positiva.
As duas se conheceram em uma missa da igreja há mais ou menos uns nove anos atrás. Desde então, as duas famílias eram bastante unidas e saiam para passeios frequentemente. Yong e Jen eram "feito carne e unha", como dizia a vovó Kim. Vovó Kim sempre tinha razão sobre as coisas, era sábia e conhecia mais do mundo do que qualquer um ali. Sabia sobre lendas, sobre a escuridão mais profunda e a luz, sobre o amor e o ódio.
E Yong sempre quis saber mais sobre o amor, que lhe parecia tão distante e tão perto ao mesmo tempo. Nunca teve alguma paixonite por um garoto bonito da aula das onze ou um frio na barriga quando o filho do padeiro a atendia no caixa. Nunquinha. Mas talvez estivesse perdendo as esperanças de achar um rapaz que pudesse a fazer sentir os altos e baixos da paixão. Mesmo que vovó Kim a dissesse que alguém estava por vir, nunca dissera algo a mais sobre isso.
— Sabe, eu estive pensando...
— E lá vamos nós.
— Yongsun! — reclamou divertida. — Você precisa me ouvir também, sabia? Amigas são para isso.
— Eu sei, eu sei. — riu e sentou-se no banco de madeira meio sujo. — Mas você diz sempre as mesmas coisas.
— Ah, é? — sentou-se ao seu lado — O que eu sempre conto?
— Ah, meu Deus, eu encontrei um garoto tãaaao lindo hoje, Yong! Ele é perfeito, é o homem da minha vida! Me ajude a falar com ele, Yong! Só mais essa vez, vai? Por favor! — afinou a voz e fez uma imitação debochada.
— Ei, eu não falo assim! — riu.
— Mas é assim que eu te ouço quando começa a me encher a paciência sobre garotos. — disse.
Estava prestes a levar um sermão sobre como garotos eram importantes a se discutir e como Yong ia "ficar para titia" se continuasse fugindo do sexo masculino como uma presa corria de seu predador.
— Salva pelo gongo, Yong, salva pelo gongo... — fez um olhar ameaçador (que não ameçava nem uma mosca).
[...]
Passaram-se oito minutos, até que o ônibus parou em um outro ponto para buscar mais alunos. Esperavam, como sempre, Sana e Wheein chegaram e sentarem-se em um banco lá atrás, mas hoje foi diferente.
Uma garota definitivamente nova entrou pela porta aberta pelo motorista, sendo acompanhada por Sana, que a contava sobre sua visita recente ao país de origem, o Japão. Wheein apenas corria logo atrás com uma torrada lambuzada de creme de avelã na boca.
Seus cabelos eram escuros e pareciam tão macios quanto uma nuvem, a mistura de seus olhos escuros e sua pele um tanto clara projetavam uma aparência intrigante. O suéter verde-musgo e calças jeans escondiam o corpo magro e delicado. Yong diria com certeza de que aquela garota era bonita. Muito bonita.
— Aluna nova? — uma garota, cuja voz Yongsun automaticamente reconheceu por ser de Siyeon, a presidente do clube de matemática, perguntou.
— Hm, sim. — murmurou — Eu procuro por Yongsun. Kim Yongsun.
Naquele momento Yong estranhou de verdade. O que diabos aquela estranha queria consigo?
Percebendo os olhares curiosos dos alunos, ergueu o braço esquerdo, respondendo o chamado:— Estou aqui.
— Ah, ótimo. — sorriu de um jeitinho peculiar. Era meio fofo. — Precisamos conversar, posso me sentar com você? — perguntou e depois lançou um olhar à Jennie.
— Vou deixar vocês... hm, a sós. — Jen levantou-se para ir, mas não sem antes sussurrar um "depois me conta tudo" e foi até o banco vago ao lado de Wheein, que reclamou quando a garota pisou em cima do seu pacote de salgadinhos no chão.
Yong sentiu o calor que Jen portava esvair-se. A morena então sentou-se ao seu lado sem dizer uma única palavra. Nesse meio tempo os alunos já esqueciam do ocorrido e conversavam sobre video-games e provas semestrais.
Tomando a coragem que não tinha, Yongsun se pronunciou: — Quem é você, afinal?
Ela sorriu, parecendo totalmente diferente de antes, um sorriso um pouco perverso.
— Meu nome é Moonbyul.
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TROUBLE [moonsun]
Fanfiction"Tentadora" devia ser uma das palavras mais precisas para descrever aquela mulher. Ela era cheia de códigos, e Yongsun sentia vontade de desvendar todos eles. "Você está ficando maluca!", gritavam. "Eu não deveria fazer isso", dizia a si mesma toda...